quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Melhores buscas

Eu juro que gostaria de saber o quê acontece com as pessoas que procuram certas coisas no google. Para finalizar o ano, segue o top 10:

- Como mandar um e-mail se não tenho e-mail?
- Dei para um traveco.
- Desenho de homem com dinheiro na cueca.
- Discurso de inauguração de auditório.
- Gostosas fumantes.
- Hipopótamo no cio.
- Um vovô usando cueca.
- Traveco salvador.
- Tiazona na festa pelada.
- Meu vizinho é gay.




Clique na imagem para checar as evidências.

Receita de ano novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.



Carlos Drummond de Andrade

Último dia

É uma frase feita. Acho que todo mundo, em algum momento da vida, já usou:
"Parece que foi ontem".

Hoje é o último dia do ano.
Parece algo simbólico. É gostoso pensar que no ano que vem tudo vai ser diferente.
Acho que é isso que motiva tanta comemoração. A idéia de que as coisas podem mudar só porque o calendário vai mudar.

Não vou emagrecer.
Não vou fazer curso de aramaico.
Não vou comprar minha casa própria.
Não vou namorar ninguém, muito menos casar.

Resumindo, não vou me comprometer com nada este ano. O único plano é não ter plano.

A única coisa que eu me comprometo em tentar mudar em 2009, é escrever mais vezes no blog.

No mais, tudo como dantes no castelo de Abrantes.
A diferença é que será em 2009.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O ilustre senhor Siso

Eu odeio ir ao dentista. E odeio mais ainda dentistas que querem conversar com o paciente durante o tratamento. O que eles esperam ouvir?

- Hgrgksaiemo...aham.

É humanamento impossível conversar naquela situação.
Mas há dentistas que têm toda uma técnica desenvolvida para conversar com os pacientes.
Eles enfiam a mão na sua boca e falam tudo que precisam falar. Depois disso, tiram a mão da sua boca, e esperam você responder. Se você falar muito, ele começa a colocar algodão na sua boca. E foi neste clima que eu descobri o nascimento.

- Seu dente do siso está nascendo! (reparei agora que nunca havia escrito esta palavra. Tive que olhar no dicionário)

- Jura? Que coisa.

Não sabia o que dizer. Talvez devesse fazer uma festa de boas vindas ao meu dente.

- Nossa, você demorou para tê-los, não? Normalmente nascem entre 16 e 20 anos... Se bem que por incrível que pareça, você ainda tem dois dentes de leite. Não os perca, viu?

- Vou tentar. Se eu perceber que eles estão fugindo, os agarrarei com a língua.

Não tive coragem de responder isso, mas deu vontade. Depois da célebre frase do dentista, chego a conclusão que se eu perder os tais dentes, talvez eu possa colocá-los debaixo do travesseiro, e tirar uma grana com a fada do dente. Estou precisando.

Meu sonho acabou quando ele completou a frase:

- Se perdê-los, vai ficar baguela. Os permanentes não nascem mais.

Ele ficou mexendo na minha boca, e dizendo que teria que extrair o siso, e o do outro lado provavelmente não nasceria e blá, blá, blá.

Enquanto ele contava a história do siso na humanidade, me veio a célebre frase das tias: "O dente do juízo esta nascendo!".
Eu estou com quase 30 anos. Ou seja, só agora terei juízo???
Agora tudo se explica. As bebedeiras, as danças bizarras, as festas estranhas com gente mais estranha ainda. Faltava o tal siso. Agora tudo vai ser diferente.

Semana que vem vou entar em algum financiamento da Caixa, comprarei uma casa, depois vou fazer um seguro, irei ao médico dar uma revisada na saúde, farei exercícios físicos, casarei, terei um filho (só um), agora que tenho juízo não seria louca de ter mais que isso.
Ah, juízo...Você não fez falta nenhuma.

domingo, 26 de outubro de 2008

João Gilberto

Desceu a estreita rua sem olhar para trás.

Não tinha mesmo o que olhar. O passado não interessava mais. Serviu para aprender as tais lições da vida, e só.

Sentia um vento de chuva em seu rosto. O cabelo foi jogado no rosto. Nem tentou arrumar. O que era um cabelo bagunçado perto da confusão que estava sua vida? Ele era o retrato fiel da desorganização que estava sua cabeça.

Não sabia para onde deveria ir. Começou a andar mais devagar para poder pensar em algo.

Talvez devesse avisar a polícia. Mas dizer o quê?
Talvez devesse voltar e arrumar as coisas, ou ao menos vesti-lo.
Achou melhor deixar os mortos para lá.

Fechava os olhos e conseguia lembrar de todos os detalhes.
O cheiro de sexo, cigarro e vinho barato.
Eles estavam no sofá laranja. O sofá que ela havia comprado em uma feira de móveis e parcelou em 10 vezes. Agora ele estava manchado de sangue. Nem tinha terminado de pagar as prestações.

A porta estava entreaberta. No som rolava um João Gilberto. Que tipo de pessoa transa ouvindo João Gilberto?

Se João Gilberto soubesse o tipo de gente que anda transando com sua música de fundo, nunca mais tocaria. O que não seria de todo ruim.

Ela sempre soube que ele tinha um caso. Era notório. Aliás, ela não era a única que sabia.
Sempre achou que ele, ao menos, respeitaria a sua casa. Mas não foi o que aconteceu.
Naquela terça-feira, final de tarde, ao chegar mais cedo do trabalho, dá de cara com aquela cena bizarra.

Ele estava com uma sunga de couro e um capuz preto no rosto. Os braços amarrados. Apanhava bastante com um chicote de couro.

Não dava para acreditar na cena.

Aquele olhar ela nunca vai esquecer. Ele sem palavras, com os olhos cheios lacrimejando. Pediu para que seu companheiro fosse embora.

Eles brigaram. E ela ouviu o primeiro tiro. Depois o segundo tiro mais abafado dentro da boca.

Os dois corpos nus jogados no sofá laranja.

Desligou o som, e saiu. Desceu a ladeira. Quando a ladeira acabou, ela sentou no chão, acendeu um cigarro e disse:

- Porra, João Gilberto.

domingo, 24 de agosto de 2008

Preguiça

Domingo é um dia muito estranho. Deveríamos ter sexta, sábado, agum dia com outro nome, e segunda-feira.

Eu sei que é domingo pelo tempo. Parece que os passarinhos cantam diferente neste dia.

A minha mãe cozinha alguma massa, e o cheiro de molho se espalha pelo ar. Isso é o registo da monotonia.

Hoje eu comprei o jornal. Não consegui sair do caderno de esportes. Tentei ler a Ilustrada, mas não li nem meia matéria. A revista nem saiu do plástico. Ainda se eu estivesse muito atarefada, era de se entender, mas não era o caso.
Passei o dia de pijama assistindo filmes e comendo feito uma porca.

Opções não faltavam, o que faltava mesmo era ânimo de sair de casa.

Me trocar, achar que todas as roupas estão ruins, pegar o carro, procurar um lugar para estacionar, ou até mesmo ir de ônibus e ficar esperando mais de uma hora para que ele apareça. Só de pensar nisso tudo, me dava preguiça.

O domingo foi feito para descansar, dizia a minha vó. Eu sempre ria desta frase.
Começo a achar que vovó está com razão, como sempre.

A preguiça é um pecado capital tão bom!

Devolva meu sorriso!

Eu estudo na avenida Paulista, e trabalho também.
Às vezes tenho a impressão que eu moro lá.

Ontem durante a aula, ouvimos muitos gritinhos adolescentes. Tive uma vontade enorme de deixar o professor falando e correr para a janela. Posso garantir que eu não era a única que estava com esta vontade. Mas como seres humanos adultos e civilizados, apenas comentamos que o barulho estava incomodando, e continuamos sentados. Ninguém levantou para ver o que acontecia.

Na hora do intervalo entre uma aula e outra, não pensei duas vezes, desci para ver o que acontecia na avenida.
Deveria não ter descido. Centenas de adolescentes vestidos com saias e gravatas segurando cartazes com dizeres que quando eles crescerem terão vergonha:

- Devolva meu sorriso
- O sonho não acabou
- Eu não acredito no fim

Parei uma adolescente para perguntar o que significava aquela patifaria.

"- Hoje no mundo inteiro, nesta mesma hora, está rolando um protesto para que a banda Rebeldes não acabe!"

Se fosse uma manifestação para que a banda acabasse, me envolveria, mas não era o caso.

Fiquei uns dez minutos olhando a cena, e rindo. Como tem gente que não tem o que fazer no mundo inteiro, não?

domingo, 17 de agosto de 2008

A casinha

Eu devo ser um bosta. Um grandissíssimo merda, é isso que eu sou.

Casei com Carla quando ela ainda tinha Vinte e um anos. Vinte e um anos.

Lembro do dia em que a pedi em casamento. Ela saiu correndo pela casa feito uma criança quando acaba de ganhar aquele brinquedo com o qual tanto sonhou.
Eu já estava indo para o meu segundo casamento. Não via tanta novidade nesta história. Mas ela, pobrezinha, estava tão feliz, que não tive coragem de desapontá-la contando a real história dos casamentos. Não era justo acabar com a brincadeira de casinha dela.

Acredito que elas comecem ensaiando desde cedo. Montam a casinha, colocam filhos nela, e pegam qualquer moleque para ser pai, mesmo que ele não queira. Elas forçam o coitado, que acha tudo aquilo uma grande chateação, a participar da brincadeira delas.

Acho que com a Carla aconteceu a mesma coisa. Ela me pegou pelo braço e me forçou a brincar de casinha com ela. Me fez comprar um apartamento, comprar móveis, e a preparar uma festa de casamento. Era isso, ou nada. Com ela não havia meio termo.
E eu fiz tudo isso por um órgão genital feminino. O que não fazemos por sexo de qualidade?


No primeiro ano de casamento só fazíamos isso. Na sala, no quarto, no banheiro, na varanda, no chão, na pia, até em cima do fogão. Carla jamais negava meus pedidos. Em contra partida, eu brincava de casinha com ela.
Ela me pegava pela mão e mostrava para as amigas, mostrava o quanto eu a amava, o que eu havia dado de presente de um ano de casamento, mostrava fotos de nossas viagens, dizia que eu era um homem exemplar. Eu sempre sorria e concordava dizendo que ela que era sensacional.

No segundo ano ela começou a reclamar da pia, estava molhada, reclamou do chão, do sofá, do banheiro, e com o passar do tempo, nem na cama ela queria mais.
Eu já estava ficando impaciente com tanto pudor.
Dizem que casamento é até que a morte nos separe. Na minha opinião, ele é até que o sexo falte.

Eu cumpria a minha parte no acordo. Trabalhava de terno, chegava cansado e a beijava na testa, tomava banho, jantava, até lavava a louça.

Um dia cansei de tudo isso. Já era meu segundo casamento. A experiência me dizia que era daí para a lama total.
Desta vez faria como todos os meus amigos. Não acabaria com o casamento, mas teria uma amante.

Ana Carolina era o nome dela. Jovem, bonita e fogosa. Impressionante como as mulheres quando querem sua alma são fogosas.
Ana Carolina não tinha pudores. E o tempo todo dizia que faria tudo aquilo que Carla não fazia.

O caso durou cinco meses. Depois deste tempo ela queria que eu largasse a minha mulher para ficar com ela.
Eu não queria mais brincar de casinha com mais ninguém. Se fosse para brincar, eu brincaria com a minha mulher mesmo.

Tive muitas. Loiras, morenas, ruivas, japonesas, negras, e no final, todas queriam a mesma coisa, casar comigo.

Acabo de completar 60 anos. A minha companhia é um remédio de coloração azul que me obrigo a tomar para cumprir minha função de marido, com Carla, claro.

Minha neta está brincando na sala. Montou a casinha e neste momento alimenta a boneca.
Pode passar mil anos. Mas as mulheres sempre vão querer a mesma coisa, assim como nós homens queremos sempre a mesma coisa - sexo.

Agora que o sexo deixou de ser tão importante, eu brinco de casinha. Uma casinha lotada de gente, e me sinto um merda. Carla sempre foi inteligente. Encontrou a felicidade no cotidiano.
Eu deixei meu cotidiano passar, e agora me sinto um merda.
A casinha continua funcionando muito bem, já meu pênis, quanta diferença.

domingo, 10 de agosto de 2008

Grande Seu Fulano

O Veríssimo tem uma crônica ótima chamada “Grande Edgar”.


Acho que todo mundo já passou por uma situação Edgard.


A pessoa chega toda feliz por te encontrar e faz aquela perguntinha: “Não se lembra de mim?”. Você não lembra. Mas não quer ser desagradável. É aí que mora o perigo.


Esses dias eu estava esperando uma amiga no ponto de ônibus. Fiquei alguns minutos olhando os transeuntes. Eis que de repente desce um cidadão do ônibus e vem em minha direção. Braços abertos, sorriso largo, cecê vencido e me abraça.


- Puta merda, como você cresceu! Já é uma mulher!!!


Na minha mente eu brincava de cara-cara. Subiram todas as carinhas e eu não conseguia saber quem era o fulano.


Disfarçadamente fui saindo do abraço caloroso e fui me afastando com cara de “vem cá, te conheço?”.


- Está estudando ainda?


- Não, já terminei a faculdade.


- Puta merda, o tempo passa...


- É...


- E o Beto? Como ele está?


- Eu não conheço nenhum Beto.


Aí lá veio ele novamente dizer que eu estava grande e querendo me abraçar. Desta vez eu não agüentei.


- O senhor pode fazer a gentileza de me soltar? Não conheço nenhum Beto. E acho que nunca te vi mais gordo. Isso é um grande equívoco.


- Oras, seu nome não é Viviane?


Depois do meu fora, me neguei.


- Não, não me chamo Viviane.


- O nome da sua mãe não é Augusta?


Caralho, ele me conhecia. Não pensei duas vezes.


- Não, minha mãe não é Augusta.


- Me desculpe, mas é que você é a cara da Viviane filha da Augusta.


- Tudo bem, moço. Isso acontece. Tenho uma cara comum. Vivem me confundindo com alguém. (Sorriso)


Cínica, cínica, cínica. Por este episódio eu deveria receber 100 chibatas.


Mas tem coisa pior do que prolongar uma situação dessas?

Conselho

Se conselho fosse bom, não se dava. Mas este eu achei de suma importância:

"Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite" - Fernando Veríssimo.

Escreveu

Deitada em seu sofá de barriga para baixo e pés para cima. Ao som o melhor de Aretha Frankin.
As canetas eram coloridas. A cada frase mudava de cor. E em pouco tempo tinha escrito o seu dia. Dia este que durou 24 horas, mas que levou apenas 12 minutos para ser escrito.

Falou sobre o tempo, sobre as sensações, sobre seus medos, planos, fatos, tudo em 25 linhas.

A vida resumida tinha uma certa graça. Se a vida pudesse ser editada...
Tirava-se aquele momento em que o chefe a chamou de incompetente, aumentaria o tempo em que ficou ao lado daquele carinha bonitinho do décimo andar, alterava-se o figurino. Afinal de contas, ela não estava vestida com o seu melhor modelito naquele momento.
Edita-se o barulho de escritório, e coloca-se uma bela balada romântica. Perfeição.

O diálogo poderia ser mais obsceno. Caras, bocas, sorrisos, sensação de vermelhidão no rosto quando ele elogiava seu cabelo.

Pensou em editar seu diário. Escrever coisas realmente interessantes. Adicionar um pouco mais de tempero em suas histórias. Terminá-las de uma forma que ela se desse bem no final, sempre.
As mocinhas vivem felizes para sempre. Ela era mocinha, tinha este direito.

Depois de tantos devaneios, ateve-se ao fato de que não valia a pena mentir daquela forma para ela mesma. Mais valia a realidade sem graça, do que uma mentira suntuosa.

Fechou o diário e foi dançar, sozinha. Girou, girou, gritou, cantou, e por alguns minutos se sentiu a pessoa mais feliz do mundo.

No dia seguinte queria contar histórias verdadeiras e felizes. E como autora, e personagem principal, tinha este direito. 25 linhas seria pouco demais para o dia seguinte.

Por enquanto

No começo, não se conta as horas em horas, nem os dias em dias. É tudo sensação. Uma vaga idéia do tempo que passa, porque é escuro e claro lá fora, porque às vezes se trabalha e outras vezes não, porque os amigos fazem anos, os feriados acontecem, mas não existe lógica, nem total apreensão das coisas. Se eu choro, o meu choro é devaneio abstrato. A saudade é tão primeira e irracional, que ainda sinto o seu cheiro na saudade. Você há pouco estava aqui.

Depois, as formas vão de novo desenhando as coisas. Devagar, eu reconheço o meu quarto. Sei que está vazio. Já sou capaz de discernir algumas vozes, ler o jornal, tomar o café, responder a pequenas questões sobre a vida. Eu tenho noção do que acabou, do que esteve e já não está. A saudade é segunda – compreendida e qualificada. De repente, me deixou triste saber que não fizemos fotos, mas eu já solto risadas para surpreender o silêncio. Na primeira semana, o silêncio é de ensurdecer a alma, me diz o horóscopo.

O horóscopo se apropria de fragilidades. Diz que o inferno começou no instante em que o Sol flertou com Câncer. Repara como não temos culpa de nada: somos fantoches dos astros. Como um louco, eu te pergunto as coisas, e você responde. A sua imagem é relutante como a de um holograma, e já passa pela minha cabeça a idéia, que ainda nego ferozmente, que talvez eu esteja completamente só.

Então, deixa passar a solidão por Câncer, deixa assentar a poeira das estrelas, dos humores, cessar de vez a rebordosa astral. Eu ando calado, como um bichinho cooptado pelos hábitos domésticos, falando pouco, de poucos amigos. Veja você que ironia, eu ando falando quase nada. E ainda me deito e levanto abstinente, como se faltasse uma última dose na veia. Era químico o meu amor, eu acho. E acho em versos toscos, não me arrisco em estrofes articuladas (não nasci para a poesia). Meus pesadelos são como aqueles que devem ter os adictos, cheios de refluxos e personagens falhos. E você vive livre neles, transita desimpedido entre maus e bons sonhos, enquanto eu te adoro, te odeio, te justifico, te invento e te mato. Agora é deixar que a Lua se entenda com Escorpião. E alguém virá recolher as garrafas vazias, limpar as cortinas do cheiro do cigarro, dizer: amanheceu, rapaz; outra festa só amanhã.

Quando o sol passar por Leão, eu serei feliz de novo. Por enquanto, ainda te amo.

(Roberto Vitorino - 13 de Julho de 2008)

Oco

O meu cérebro está oco!

Faz mais de um mês que nem gibi eu leio.
E uma coisa é fato, quem não lê, não pode escrever.

Acho que este é o real motivo de tanta ausência no blog. Não tenho sobre o quê escrever.

Poderia escrever sobre as Olimpíadas, mas isso o jornal, a internet, e todos os meios de comunicação já fazem. E com certeza melhor que eu.

Ultimamente não tenho tido tempo nem para dar os meus conhecidos foras.

A semana passa tão rápido que eu nem vejo. É impressão minha, ou o tempo está mais rápido
?

Não sei o que acontece. Só sei que tudo tem sido tão igual, que a inspiração, se é que ela já existiu, foi dar uma volta e nunca mais apareceu.
Tipo aquelas histórias do cara que foi comprar cigarro e a família agora coloca fotos em postes da cidade procurando por ele.

Acho que vou fazer isso. Colocar fotos do meu cérebro pela cidade de São Paulo. Quem sabe assim ele dá sinal de vida.

Só sei que o pulso ainda pulsa, já a criatividade...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Difícil entender

Parecia uma piada de péssimo gosto. Mas infelizmente não era.
Ouvir que você não fará mais parte dos meus dias nunca mais foi a pior notícia dos últimos tempos.
Os jovens não deveriam morrer. Ainda mais alguém tão jovem quanto você.

Aquela pessoa que estava ali, estática, sem nenhum sorriso para oferecer, não era você.
Pentearam seu cabelo de um jeito que você não gostava, lhe vestiram com uma camisa que em sã consciência você nunca usaria.

Faltou o sorriso. Faltou o brilho nos olhos, as piadas, os comentários sem noção. Faltou a pessoa que me fazia rir com facilidade.
Difícil acreditar no que os olhos viam.

Às vezes a vida é tão ilógica que dá até medo.

Você foi embora.
Alguns dizem que para um lugar melho. Outros dizem que você descansou. Mas descansou de quê
?
Como uma pessoa feliz, cheia de vida, entusiasmo, descansa
?
Se eu soubesse a resposta, questionaria quem decidiu que sua estadia aqui na Terra acabaria assim de forma tão rápida.
Disseram que os bons vão embora cedo. Talvez você deveria ter sido mau.
Talvez assim você não teria deixado tanta saudade.

Parece que vou acordar e perceber que tudo foi um pesadelo.
Você vai chegar na minha sala, brigar comigo, como sempre fazia, dar uma gargalhada e dizer que nos enganou direitinho. Desta vez eu nem me importaria.

A única coisa que consigo pensar neste momento é que seja lá onde você estiver agora, está rolando uma grande festa. Porque é assim que todos nós lembraremos de você, uma pessoa que levava alegria por onde passasse.

Adeus, "queri".

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Você precisa mudar

Você precisa mudar muito.
É esta a frase que eu tenho ouvido. E depois vem o complemente. "Enquanto você for assim, vai ser bem difícil você desencalhar!". Sim, porque agora eu sou encalhada.
Mulheres com quase 30 que não se relacionam, segundo a maioria, é encalhada. Esta é a opinião de 70% dos membros da minha família.

Vamos lá, homens do meu Brasil varonil. Me expliquem, pelo amor de Jorge, o que acontece.

Se falamos, é porque falamos.
Se não falamos, é porque não falamos.
Se eu chamo para sair, sou atirada.
Se não chamo, sou recalcada.
Se tomo atitude, sou oferecida.
Se não tomo, algo de errado acontece comigo. Provavelmente sou lésbica.

Já disseram que eu preciso de uma pitada de hipocrisia.
Um punhado de senso.
Um pouco mais de freio.
E uma dose exagerada da personalidade Amélia, aquela mulher de verdade.

Ainda há homens em pleno século XXI que classificam as mulheres. Esta é para namorar, esta é para sair algumas vezes. E o pior de tudo, nem se dão ao trabalho de saberem o que você pensa sobre o rótulo, simplesmente rotulam e ponto final.

Chego a conclusão que o problema é o filtro do cérebro. O meu está quebrado. O que passa pela minha cabeça sai pela boca sem filtro algum. Sai. E depois que sai o turbilhão de palavras, as pessoas somem. E depois do terceiro, ou quarto encontro, o telefone pára de tocar.
Não adianta fazer o mantra do "toca telefone, toca". Depois de me ouvir por algumas horas, o telefone não toca no dia seguinte.

Se eu preciso realmente mudar, eu não sei. Mas que o relacionamento entre pessoas de sexos diferentes está cada dia mais difícil, isso eu não tenho dúvida.

Ou talvez os relacionamentos não sejam difíceis, eu que sou.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O tempo e as malas

Faz 37 dias que não cai nem uma gotinha de água do céu.

Parece que quinta-feira vai chover. E com isso vai acabar o assunto dos malas que gostam de puxar papo no ponto de ônibus, metrô, fila de banco e afins.

Faz 37 dias que todo santo dia eu ouço um comentário sobre o tempo em São Paulo.
Esses dias um cara conseguiu falar sobre o tema quase 15 minutos.
Começou a história dizendo que ele não aguentava mais. Terminou dizendo que acorda de madrugada para tomar banho porque sente falta de ar.

Honestamente, eu não preciso saber deste tipo de informação. Quase fiz um comentário desagradável. "Jura que você toma banho de madrugada
? Não parece."

Se não chover na quinta-feira, serei obrigada a conversar com algum pajé e exigir que ele faça a dança da chuva.
Como dizem que vivemos num mundo globalizado, é bem capaz de eu achar um e-mail de contato paje@triboxama.gov.br.
Em último caso eu mesma farei a tal dança. Porque entre pagar este mico, ou aguentar os comentários sobre o tempo, sou muito mais colocar um cocar e sair dançando.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Salto

Hoje eu entro mais tarde no trabalho. Então resolvi dar uma passada pelo blog. Afinal, faz séculos que não atualizo.
Não, não estou namorando.

Enquanto lia as notícias do Brasil e do mundo na internet, procurava uma roupa para vestir.
Chegou a vez do sapato. Meus olhinhos encheram de lágrimas - sapato. Eu detesto salto alto. Passei o final de semana inteiro de havaianas, e agora terei que enfiar meu pé num sapato que vai machucar bastante. Não existe sapato alto que não machuque. Já tentei todas as marcas e modelos. Não adianta.

Ainda farei uma pesquisa séria na internet para descobrir quem foi que inventou esta história de salto alto. Tenho certeza que foi um homem.

Não se anda de salto em São Paulo. Preciso ficar o tempo todo me equilibrando, tomando cuidado para não torcer o pé, para não pisar na merda do cachorro. Porque pisar na merda do cachorro de salto, é pedir para feder o dia todo. Não tem Cristo que tire merda de salto.

E não é só isso. Mesmo estando aproximadamente 8 cm do chão, preciso manter a elegância. Me sinto um rinoceronte de sapatilha.

Dizem que o salto alto deixa a mulher elegante. Quando disseram esta frase não me viram andando na rua.

Enfim, está na hoar de ir. Deixa eu colocar a p&%$# do salto e sair.

Homens, ao encontrarem uma mulher em um salto agulha, olhem muito e façam cara de admiração. Aquela mulher é uma guerreira.


segunda-feira, 14 de julho de 2008

"Amigos"

Acabo de receber um e-mail de uma amiga.


Juro que se eu tivesse grana te dava uma... morri de rir... beijo!

http://www.tokstok.com.br/cgi-bin/WebObjects/TSVitrine.woa/16/wa/mostraVitrine?ps=2%2C50715%2C50747&idObap=42712&wosid=BTzxzfNcKl5P79v9sFdfpM

É muito bom ser lembrada!

domingo, 13 de julho de 2008

O mundo das gostosas

*Este é um texto feminino


Quando eu ainda era apenas uma estudante bochechuda do ginásio, eu acreditava que assim como o patinho feio, eu ficaria bonita e iria me vingar de todas as gostosas que me humilharam durante todo o ginásio. Doce engano. Cresci, e nada mudou.

Em algum momento da sua vida é necessário escolher. Pode-se ser popular, linda e gostosa, ou, impopular, feia e com um certo intelecto.
Malhar era algo completamente fora de cogitação, na verdade ainda é. Abracei meia dúzias de livros, e decidi conquistar meu espaço. Fingindo ser inteligente.

Acabo de visitar o orkut das gostosas da época do colégio. As malditas continuam gostosas. Na verdade estão melhores do que nunca.

Depois disso corri até o espelho e admirei por alguns minutos aquela maldita ruga que descobri no dia do meu aniversário.

Levantei a blusa e contei quantas celulites habitam minha barriga. Percebi que seria humilhante chegar a um número exato. Passei a contar estrias. Foi menos humilhante.
Pensei no bisturi.
E se eu tirasse daqui e colocasse em outro lugar
? Ou eu poderia jogar fora mesmo. Assim como fazem com carne gordurosa.

Olhei, olhei, olhei de novo. Não está tão ruim assim, Viviane. Ainda há o seu charme irresistível. Qual era mesmo
?

Tem dias que o charme não compensa. Queremos mesmo é sermos bem gostosas. Queremos parecer com a mulher da capa da Boa Forma e andar de biquini pela praia sem o auxílio da canga para esconder as imperfeições.

No fundo, bem lá no fundo, toda mulher quer ser gostosa.
E como nem todas são, falam que as gostosas são burras. Afinal de contas, já são gostosas, não precisam mais que isso.
Deus seria muito injusto se todas as gostosas fossem inteligentes. Há aquelas malditas que conseguem as duas coisas. Assim como há as feias que são burras.

Pouco importa o resultado do seu QI, minha cara.
Quando você está sozinha no banheiro, em momento algum você pensa em algum filósofo alemão, ou um físico armeno, ou qualquer pensador. Você olha para a sua bunda e quer mesmo que ela seja maior e mais durinha.

Riu, né
? É a mais pura verdade!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A justiça tarda

Era um funcionário antigo da empresa. De contínuo chegou à chefia a duras penas. Gostava de gerir pessoas. Estava em sua melhor fase.

Ela tinha aproximadamente 24 anos. Era protestante ferrenha e funcionária exemplar. Jamais chegava atrasada, e jamais saía no horário.

Um dia chegou atrasada. Preferiu não dar explicações.
Carlos, humano que era, foi ter com ela:

- Silvana, você está bem
?

Tocou levemente em seu ombro. Ela retraiu-se com feição de dor.
Ele tentou puxar assunto, ela desconversou.

Não precisava dizer o que estava claro, ela havia sido violentada.

O mesmo ocorreu na semana seguinte. Desta vez ela estava de óculos escuros.
Foram até a copa tomar um café, e conversar.
As lágrimas não paravam de rolar. Silvana estava sendo violentada por seu marido.

- Silvana, este homem não te merece. Largue-o.

A partir daquele dia Carlos virou confidente, sempre apoiando Silvana em seus momentos mais difíceis.
Como ela era a última a sair da empresa, ele sempre a levava até perto de casa. Sempre com aquele sorriso amigável:

- Vamos, moça! Vai ficar aí na porta esperando o ônibus no frio
? Vem para o quentinho!

Depois de um mês, ela finalmente largou o marido.

Era final de tarde do dia 01 de Agosto quando ela se levantou e começou a gritar no meio do escritório:

- Quando você vai me assumir, heim
? Você me fez largar meu marido, disse que moraríamos juntos. E agora? Estou morando sozinha, não posso mais ir à igreja porque me acham adúltera. O que você pretende fazer?

Ele não teve reação. Era tudo mentira o que Silvana dizia. Carlos era um homem casado, com uma família muito bem estruturada, e estava no melhor momento de sua vida.

Ela saiu da sala aos prantos e pediu demissão.

Dois meses depois, no tribunal.

Caso: Assédio Sexual.

Dona Lourdes, copeira, estava no tribunal. Seu Jonas, segurança, também.

- Olha, o Seu Carlos é gente boa e decente.

- Senhora, atente-se a responder o que eu pergunto. A senhora percebeu algum tipo de relação entre os dois
?

- Uma vez ela estava chorando muito, e ele pediu para ela largar o marido.

Seu Jonas:

- Ela sempre ia embora com ele. Ele a chamava para dentro do carro dizendo que iria esquentá-la.

Não houve dúvidas. Eles tinham um caso. Ela largou o marido que a batia por causa dele. Ela só aceitou ficar com ele porque ele a ameaçou. Caso ela não ficasse com ele, perderia o emprego. Cansada desta exposição, pediu demissão.

Saiu do trinubal com R$ 25.000,00 em indenização.

Ele saiu desmoralizado, sem emprego, e perdeu a esposa.

Um ano depois a foto de Silvana estava estampada no jornal.
"Presa chefe de quadrilha que dava golpes pelo interior de São Paulo. Mais de vinte causas ganhas por assédio sexual".

Bateram em suas costas, e disseram que a vida continua.

Carlos já estava depressivo, tomando remédios, e obeso. Realmente, a vida continuou, mas nunca mais foi boa.


segunda-feira, 23 de junho de 2008

Rimar

Os detalhes da mão.
O jeito de olhar.
O sorriso maroto.
O seu caminhar.
Até o seu "não",
me faz sonhar.
E como criança,
tento rimar.
Porque amar, é voltar no tempo.
Amar é não ter medo de se expôr.
Amar é tentar rimar só para te agradar.

domingo, 22 de junho de 2008

Frase

"A única coisa que a fama traz de bom é o cachê. Não consigo ver vantagem em ser famoso". Luca Lima.

Pôxa, se ele não fosse famoso, não teria conhecida a Sandy. É verdade, não há vantagem alguma em ser famoso.

Ignorância

A sensação é bem simples. O mundo está tão rápido, que eu não consigo mais acompanhá-lo.
As notícias são tão instântaneas, que eu simplesmente já não sei mais o que acontece no mundo.

Lembro que eu ria quando a minha mãe não conseguia mexer em alguns aparelhos tecnológicos. Hoje a minha irmão mais nova ri de mim. Estou ultrapassada. E o pior, aos 27 anos.

Antes se levava muito mais tempo para ficar ultrapassado. Hoje, de um minuto para o outro, você passa de uma pessoa informada e antenada com o mundo, para um hermitão que passou séculos recluso.

Ontem as pessoas comentavam sobre Alice Braga. Pelo sobrenome chutei que era alguma coisa da Sônia Braga. Acertei! Mas até aí, saber a história da moça, era demais.
A conversa rolou sem que eu desse um pitaco sequer, coisa rara. Quando fui questionada, não tive o menor pudor e disse que jamais ouvira falar da tal moça.
As expressões faciais demonstravam pensamentos - ignorante.

Não deu outra. Cheguei em casa e fui pesquisar no novo pai dos burros (google) quem é Alice Braga. Foi neste exato momento que me dei conta do quanto eu estou desatualizada. Faz milênios que não vou ao cinema, milênios que não vou ao teatro, e séculos que não leio um jornal sequer. Alienada. Eu estava alienada.

No ímpeto de saber o que aconteceu no mundo enquanto eu estava fora, decidi ler o jornal, ver televisão, acessar a internet e me recolocar no mundo.

O mundo continua chato. Por mais que eu não tenha lido nada sobre ele nos últimos meses, não mudou muita coisa. O que muda são os nomes, as carinhas mais famosas, as roupas da moda, mas a essência do ser humano continua a mesma.
Talvez tenha sido um bom negócio esquecer um pouco do mundo e criar um só meu.

Alice, me desculpe. Não sabia que você estava em ascensão.
Fashion Week, desculpe não ter acompanhado suas modelos magricelas desfilando pela passarela coisas que eu jamais comprarei ou usarei.
Mundo, desculpe a minha ignorância.
Mãe, você estava certa. Não dá mais para acompanhar.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Eu quero é mais...

Um dia você começa a trabalhar numa empresa grande, milhares de funcionários. E apesar de te encherem o saco, você é apenas mais um entre os milhares.

E é neste momento que eu penso. Se eu sou só mais uma, qual a razão das pessoas quererem tanto puxarem o meu tapete?

Eu tinha uma visão muito rosa bebê do mundo. Acho que os anos na Ilha da Fantasia (meu antigo emprego) me fizeram mal. Descobri que não sei me defender.
Eu sempre achei que pessoas más eram apenas personagens de filmes. Doce engano.
Existe gente que quer te ver pelas costas, que faz de tudo para te ferrar, e o pior, finge que te adora. Sorri para você todos os dias, lhe deseja um ótimo dia, e na sua frente, com um sorriso bem amarelo, te fode. Isso quando não te apunhalam pelas costas.

E depois dessas experiências, comecei a odiar pessoas que vivem sorrindo para todos. Sabe algo meio comissária de bordo
? O avião vai cair, todo mundo vai morrer, e a mulher continua esboçando o melhor sorriso.
Eu apelidei este "delicioso" personagem de "Comissária Naja".

E eu tenho uma Comissária Naja bem ao meu lado.
A filha da puta me chama de Vivi, quero morrer com isso. E todo dia ela me deseja um excelente dia.
Semana passada eu atrasei alguns relatórios. Estava meio perdida e acabei esquecendo de mandar o relatório para a comissária. Ela sorriu e me cobrou:

- Vivi, faltou o seu relatório para eu fechar o consolidado.
- Putz, me esqueci. Já te mando.

E assim fiz. Em cinco minutos mandei para o e-mail dela.

Três minutos depois chega um e-mail com cópia para todos os meus "parceiros" de trabalho, inclusive meu chefe.

"Queridos, segue o consolidado. Desculpem a demora, é que tive que cobrar a Vivi".

A filha da puta manda um e-mail desse, e ainda tem a coragem de me chamar de Vivi.
Internamente soltei duzentos palavrões. Olhei para o lado e sorri para a comissária. E o sorriso dizia: Morra de sífilis ou lepra, você pode escolher.

Meu chefe não perde a oportunidade, e delicadamente responde o e-mail.

"Porra, vocês não fazem nada se eu não cobrar
?"
Nem respondi o e-mail.

Sabe, estou contaminada. Tento ser uma pessoa melhor e não sentir ódio mortal das pessoas, mas tem horas que é difícil.

Comprei o iogurte que ela gosta. Ardilosamente inseri laxante. Por duas vezes pensei em dar para ela a dose cavalar de remédio. Mas não dei. Enxerguei a luz. Não posso agir com as pessoas da mesma forma que elas agem comigo. Se todo mundo resolve ser vingativo, não sobra um naquela empresa.

Quando eu estiver lá no céu, e lá de cima eu vê-la no inferno, internamente vou sentir uma satisfação absurda. Mas não moverei uma palha para me vingar.

domingo, 15 de junho de 2008

Velhice

Segundo a minha mãe, parece que foi ontem que meu pai saiu parecendo um doido gritando pelo hospital: - É menina!! O nome dela é Viviane.

E este tal ontem já faz mais de vinte anos.

Como diria um comercial da minha época; o tempo passa, o tempo voa, e o Bamerindus nem existe mais. As pessoas nem limpam mais seus delicados bumbuns com o, nem tão delicado, papel primavera. Há uma tese de que este papel causa hemorróida.
Talvez algumas pessoas ainda chamem a DDDrim para matar insetos, e riam ao se lembrar do jingle do comercial - a pulguinha dançando iê-iê-iê. Aliás, ninguém mais dança iê-iê-iê.

As polainas ficaram para trás. As boinas voltaram, as saias balonês também. Ainda bem que, tirando uniforme de time de futebol, ninguém mais usa roupas fluorescentes.

E o tal ontem ficou bem lá para trás. Muita coisa aconteceu. E todos os acontecimentos ajudaram a formar a pessoa que sou hoje, uma velha. E isso não tem jeito. Cada ano que passa, eu fico mais próximo da minha aposentadoria, da coleção de remédios, das manias. Bem, manias eu já tenho mesmo.

Eu já sou uma anciã. Reclamo de tudo, como estou fazendo agora, gosto de tirar um cochilo após o almoço de domingo, comecei a me interessar por artesanato e serviços manuais, vou me matricular na hidroginástica para as aulas das 7:30 da manhã, saio e fico bocejando quando passa da uma da manhã, já começo a contar histórias do tempo que eu era mocinha, ou começo frases com "no meu tempo". Fato, o tempo passou mesmo.

Quando eu tinha 16 anos, mentia que tinha 18. Agora parei nos 24 já faz muitos anos, e me recuso a sair desta idade.
Vai chegar uma hora que vai pegar mal, mas enquanto isso não acontecer, sigo mentindo a minha idade.

Hoje pela manhã me olhei no espelho com bastante atenção. E não é que já nasceu a minha primeira ruga
? E ainda dizem que eu tenho que comemorar. Humpf!

Bem, amanhã eu completo 24 anos pela enésima vez. Brincadeiras à parte, é bom poder completar mais uma primavera, como diz minha avó. Afinal, é sinal de que estou viva, e seguindo o processo natural da vida.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Estou viva

Tá, eu sei que parece descaso com meu "imenso" público. Mas está complicado atualizar o espaço.

Estou com um monte de trabalho. E não é só isso, final de semestre da Pós.
Enfim, ninguém me prometeu uma vida justa. Mas às vezes tenho a sensação de que o dia deveria ter 72 horas para que eu pudesse fazer ao menos 50% das coisas que eu preciso fazer.


Meu aniversário está chegando, e junto com ele o inferno astral passará. Sendo assim, voltarei a escrever o mais breve possível. Não me deixem só.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Um pouco verde

Maurício não tinha dó nem piedade. Aproveitava-se de sua carreira musical para traçar garotinhas. Garotinhas, porém nada inocentes.

É impressionante como um homem que toca algum tipo de instrumento se torna lindo. O cidadão pode tocar oboé, ser vesgo, careca e barrigudo, e mesmo assim, elas encontrarão um charme: "Ele tem covinhas quando ri. Tão fofo!".

Mas com Maurício não era assim. Além de músico virtuoso, era bonito, e sabia muito bem aproveitar seus dons.

Gostava de selecionar o prato do dia durante o show. Olhares e sorrisos davam um retorno de 100%. Nunca houve uma mulher que não caira em sua lábia.

Cíntia não era bonita. Os mais bondosos diziam que ela era charmosa. Outros, mais ácidos, a chamavam de feia mesmo. Estava acima do peso e usava roupas cafonas. Mesmo sendo alguém extremamente agradável, era difícil alguém prestar atenção nela.

Assim como muitas mulheres, se encantou por Maurício. O grande diferencial de Cíntia é que ela jamais esperou um cortejo, sempre foi à caça. E com Maurício não foi diferente.

No camarim, entre tantas mulheres, ela nem foi notada. Esperou pacientemente a sua vez de falar com o músico. Assim que todas foram embora, ela se aproximou.

A conversa durou mais de duas horas. Os risos eram constantes, e as afinidades também.

O grande problema era físico. Maurício, por ser casado, só se arrisacava em casos que realmente valessem a pena, fisicamente falando. E este, definitivamente, não era o caso de Cíntia. Ele dizia que ela precisaria mudar muito para ter uma chance. E quando os amigos brincavam sobre o futuro daquele flerte, ele dia que ela ainda não estava madura.

A noite acabou sem grandes aproximações físicas, apenas um beijo no rosto de despedida.

Depois desta primeira noite vieram muitas outras. Todas com o mesmo desfecho.

E depois de muito tempo, Cíntia desistiu.

Já havia passado mais de três anos quando se reencontraram. Cíntia já não era mais cafona, e tinha um corpo de fazer inveja a muita capa de revista Boa Forma.

Para Mauricio foi difícil reconhecer Cíntia, mas ao reconhecer, não acreditou no que via. Agora sim havia chegado o momento dela, finalmente estava pronta.

Saíram do bar e foram direto para o motel.

Segundo Maurício, foi a primeira vez que aquilo havia acontecido. Não conseguia entender o real motivo para aquela situação.

Até hoje ele espera uma segunda chance com Cíntia. Pelo que sei, ela diz à ele que ele ainda não está maduro.

terça-feira, 3 de junho de 2008

E-mail. Só mande se for necessário.

Eu não sei vocês, mas houve uma época em minha vida em que eu adorava receber e-mail.
Isso foi logo quando começou este lance de internet. Ficava chateada quando todo mundo recebia e-mail, e eu não.

De uns tempos pra cá tenho ódio mortal a este tipo de correspondência. Infelizmente é um mal necessário. Mas isso não vai fazer com que eu goste mais deste meio de comunicação moderno.

Odeio quando me perguntam: Nossa, mas você não viu seu e-mail
?

Ao chegar ao trabalho é a primeira coisa que eu faço, ler os tais e-mails. Hoje eu cronometei. Gasto cinquenta minutos do meu tempo lendo e respondendo e-mail.

Recentemente adotei uma regra contra o duplo manuseio. Ler e responder. Nunca deixar para depois, porque o depois nunca chega.
Mas confesso que está extremamente difícil seguir a minha própria regra.
Eu leio aproximadamente cinquenta e-mails por dia. Com esta meta eu poderia ler um livro a cada dois dias. Absurdo!

E mesmo com esta realidade, tem gente que perde seu valioso tempo mandando corrente. Não consigo entender.
O que leva uma pessoa ler um e-mail gigante dizendo que se ela não mandar aquela merda o pinto dela vai cair
?

E além de ler, o infeliz faz questão de mandar para as trezes pessoas que a corrente manda.

E o mais interessante. Se são só treze pessoas, eu só queria saber os reais motivos para as pessoas SEMPRE me incluírem nas correntes.

E se todos os males prometidos nas correntes acontecerem de verdade, não passarei dos 30.

domingo, 1 de junho de 2008

O maior amor do mundo

Era final de julho quando seu vôo aterrizou em Guarulhos. Vinte e quatro horas de viagem. Seu corpo doía muito, parecia ter levado uma surra. Mas mais que seu corpo, sua alma.

Olhou em volta e não viu os cartazes, os sorrisos, os amigos. Não havia ninguém a sua espera. Uma realidade bem diferente da última vez que esteve no Brasil.
Ninguém sabia de sua chegada. Ninguém a esperava porque não era para ela estar ali.

Depois de mais de cinco anos morando em Paris, seu marido havia recebido uma proposta de uma empresa japonesa, e teriam que morar no Japão. Mesmo sabendo que seria uma mudança radial em sua vida, Raquel em momento algum cogitou a idéia de não acompanhá-lo nesta nova fase.
Mudava de país pela quarta vez em dez anos de casamento.

Antes de ir para o Japão, passou pelo Brasil para visitar amigos e parentes. Enquanto isso seu marido organizava a nova vida no Japão.
Ao término de um mês, foi para o Japão ao encontro de Rogério.

A casa ficava no bairro de Miyagawa, conhecido como bairro das gueixas.
Ficou encantada com toda aquela atmosfesra oriental. E por alguns minutos cogitou a felicidade em uma cultura tão distinta da sua.

A casa não era muito grande, mas era bastante acolhedora. Rogério havia feito uma decoração muito parecida com a da antiga casa.
Ele a recebeu com um jantar japonês para desejar boas vindas.
Conversaram a noite toda. Já embreagados, foram domir.

Já fazia uma semana que estava no Japão. E em uma semana, não fizeram sexo sequer uma vez. No começo achou que poderia ser o cansaço, mas depois de tentar algumas vezes, chegou a conclusão que o problema era outro.

Estavam deitados em um silêncio sepucral. Incomodada, Raquel puxou a conversa:

- Algo aconteceu...

- O que quer dizer com isso
?

- Estamos diferentes. Eu te fiz alguma coisa
?

- De jeito algum. Estou muito agradecido por você ter aceitado vir pra cá.

- Agradecido. Acho que esta palavra é a chave de tudo. A palavra correta é feliz. Mas não é o que parece. Você não está feliz.

- Não.

- O que eu posso fazer
?

- Nada.

- Nada
?

- Não há nada que você, ou eu, possamos fazer. O meu amor por você acabou.

- Em que momento
?

- Não sei explicar o momento exato em que isso aconteceu. Mas aconteceu. E não há explicação sensata para isso. Sei que esse mês sozinho me fez perceber que já não te amo mais.

- E esperou eu atravessar o mundo para me falar
?

- Queria que eu fizesse isso por telefone
?

- Eu vou embora.

- Não precisa sair daqui correndo. Fique o tempo que precisar.

- Como você quer que eu permaneça ao seu lado
? Acabo de descobrir que a pessoa que eu amo, não me ama mais.


Não conseguiu chorar. Não conseguiu prosseguir a conversa. Arrumou as malas e saiu no meio da noite. Dormiu em um hotel. No dia seguinte comprou uma passagem para o Brasil.

Passou dez anos de sua vida ao lado daquele homem. O acompanhou por todas as partes do mundo. Fez tudo por aquele casamento. Agora estava sozinha. Sentia-se como uma criança com medo do escuro.

Ao chegar em casa abraçou sua mãe, e chorou.

Sayuri nasceu em abril do ano seguinte.
Rogério nunca soube que era pai.

Na noite em que Raquel saira de casa, Rogério enforcou-se.
Um bilhete explicava o motivo.

"Raquel,
Sou um biltre. Mudei para o Japão porque meu amante havia vindo para cá. Ele mesmo me indicou para o novo emprego. Quando eu lhe disse que o amor havia acabado, e vi em seus olhos o quanto você me amava, me senti culpado pela sua infelicidade. Me senti culpado por não te amar. Deveria ter sido mais honesto com você. O amor não acabou, ele nunca existiu. Nunca me separei porque era importante manter as aparências. O único momento em que fui verdadeiramente homem foi quando terminei nossa relação. Mas não sou homem o suficiente para conviver com as minhas escolhas. Espero que seja feliz."

Rogério nunca amou Raquel, porém lhe propiciou vivenciar o maior amor do mundo, o amor de mãe.



Antitabagismo

Uma perna carbonizada, um feto, um ratinho bem feio, ou um cigarro impotente.
Não conheço um fumante que tenha parado de fumar por causa dessas fotos. Não contente com as fotos, resolveram apelar para vídeos.


Claro que é importante alertar a população para os riscos que corremos diariamente.
Por exemplo: peidar demais pode acabar com a camada de ozônio, dirigir em São Paulo pode acabar com a sua vida; respirar então, nem se fala. Nadar na Lagoa do Abaeté pode causar doenças de pele, receber salário mínimo é prejudicial à vida, roubar, se você for pobre, pode dar cadeia, ser corintiano pode causar problemas cardíacos. Enfim, ninguém nos prometeu uma vida justa.

E porque só nós fumantes somos obrigados a ver imagens desprezíveis de coisas carbonizadas
?
Os fumantes não são fumantes porque querem. Não conheço um fumante que não queira parar.
Além de sofrermos pelo vício, ainda somos obrigados a recebermos este tratamento de choque
?

Existem outras formas de se alertar a população. Não acredito em tratamentos de choque. Se funcionasse, aquelas propaganda bizarras sobre o uso de drogas, teria ajudado a diminuir o consumo de drogas. Mas não é o que as estatísticas mostram.

O dia do antitabagismo não ajuda em nada.
Mas já que as pessoas gostam de criar dias para combater alguma coisa, gostaria de deixar a sugestão de um amigo. O dia sem um puto.
Todo mundo sai de casa sem um puto para protestar contra a má distribuição de renda.
Não vai resolver nada, mas ao menos será engraçado.

Não percam tempo!

Juro que eu ainda dou risada quando leio matérias sobre o estato civil alheio.
Fulano de tal está solteiro.

A bola da vez é George Clooney.
Prováveis chamadas para esta notícia que abalará o mundo.

- Mulheres, se rasguem. Ele está solteiro.
- 47 anos, gostoso, lindo, vitaminado e... disponível no mercado!
- Meninas, façam suas apostas, ele está livre.
- Mais esperado que chocolate em dia de Tpm. George Clooney está solteiro.

Tenham fé, meninas. A última namorada de Clooney tinha 29 anos, e era garçonete.
Sendo assim, qualquer uma pode ter em seu currículo amoroso um dos homens mais cobiçados do planeta.
Sonhar é de graça.

O fim

Devo admitir. Gosto de novelas. Às vezes tenho vergonha de dizer isso, mas é a mais pura verdade.
E aos poucos fui descobrindo em meu convívio pessoas que gostam de novela.
Pessoas estas que eu jamais imaginaria.

- Vamos sair
?

- Claro. Vem pra cá, a gente vê a novela, e sai depois.

- Ainda bem que você comentou. Pensei nisso. Só vou sair depois de ver o final da novela.

- Vem pra cá. Vamos assistir o final todo mundo junto.

Advogado, professor, psicólogo, comunicólogo. Pessoas que nunca manifestaram seu gosto peculiar pela dramaturgia, estavam esperando o final da obra de Aguinaldo Silva.

Não dá para explicar este tipo de comportamento.
Esta foi uma das piores novelas de todos os tempos. Até os bons atores estavam ruins. Salvo Marília Pêra.

Ficamos o tempo todo rindo e metendo o pau. Mas se é uma merda, não consigo entender o motivo pelo qual queríamos tanto ver o final. Somos masoquistas
?

Em dado momento surgiu uma explicação para um dos piores argumentos da história. Aguinaldo Silva usou drogas a novela inteira. Quando estava chegando no final da novela, alguma alma resolveu dizer para ele dar um tempo com as drogas, aí deu no que deu.

Sem drogas, e sem a menor idéia de como terminar a novela, Aguinaldo entrou em crise. Deixou Wolf Maia decidir como terminar a novela. Wolf Maia, que até então, tinha um papel secundário na novela, decidiu que ele seria o cadeirudo, ou melhor, o sufocador. Não houve nenhuma explicação, ele só queria ter um final digno.
E assim seguiu o samba do crioulo doido.

O beijo gay, mais uma vez, foi podado. Aliás, o ator Luigui Palhares ficou a cara do Fred Mercury com aquele bigode.

Branca e Célia Mara, protagonizaram a briga mais patética da história da televisão brasileira.

Ferraço se entregou de livre espontânea vontade à justiça, passou dois anos preso, e saiu da cadeia com a aparência de quem sai de um spa.
Mesmo na merda, ainda mantinha celular Blackbarry, com linha. Inclusive, o mesmo número de quando entrou na cadeia. Porque assim que colocou os pés para fora, recebeu uma chamada de Maria Paula.
E não é só isso, ainda mantinha o mesmo carro! Se Maria Paula estava em Búzios (que a novela insistiu em chamar de Caribe), onde deixaram o carro dele
? Na garagem da penitenciária?

Silvia acabou em Paris. Isso até minha irmã de 8 anos de idade sabia que aconteceria. E a Globo, num momento mão de vaca, resolveu resgatar as cenas dos primeiros capítulos da personagem pedalando pelas ruas de Paris, e colocar no final.

E o que a Alzira foi fazer em Ibiza
? Pelo que eu saiba, Ibiza é praticamente uma cidade gay. Eles gostam de homens descendo no cano, não mulheres.

Enfim, nenhuma novidade. Qualquer dia eu mando uma novela para a Globo. Acho que está mais que na hora de ter novos autores.
Não me espanta a Record emplacar seus mutantes. As novelas globais estão tão óbvias e repetitivas, que só resta apelar para um absurdo mais deslavado.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Bilhete

"Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria."- Pablo Neruda.

Te encontro no final do dia.


Depois deste bilhete o dia não passava. Os ponteiros do relógio estavam estagnados. O sol não queria se recolher.

Camila não conseguiria mais trabalhar. Decidou então fazer uma lista de prováveis pretendentes.

Julio - Gerente de contas.
Carlos - Supervisor de atendimento.
César- Aquele cliente que vive fazendo hora na minha sala.
Alfredo - Diretor de operações.

Tinha a certeza que um dos quatro era o seu pretendente. Eram homens inteligentes, educados, e que provavelmente teriam a sensibilidade de mandar um poema de Pablo Neruda.

O dia acabou. O autor de uma das mais belas declarações que Camila recebera, não apareceu.
Desapontada, fechava sua sala.

Ao apagar a luz levou um susto com a presença de Seu Romualdo:

- Seu Romualdo! Que susto. Achei que o senhor já tinha ido embora. Hoje não é o dia de limpar a minha sala.

- Desculpe se te assustei. Mas estava te esperando. Não sei se contei para senhora, mas sou um profundo admirador de Pablo Neruda.

- Seu Romualdo, desculpe se não posso falar com o senhor agora. Estou com muita pressa. Outro dia conversamos sobre o seu gosto literário.

A resposta estava bem ali. Nada de gerente, supervisor, diretor, era o Seu Romualdo - faxineiro. Um faxineiro que conhece Neruda, mas mesmo assim, faxineiro. Sentia-se envergonhada por ter esperado tanto por aquela revelação.

Fechou a sala e foi embora. Romualdo ficou ali, parado, olhando sua amada ir embora sem dizer sequer uma palavra sobre o bilhete. Em uma das mãos, um botão de rosa.

Talvez fosse o momento de se colocar em seu lugar, pensou Romualdo. Mas logo este pensamento sumiu. Não existe razão para as coisas do coração. Colocou a rosa em um copo com água, pegou um papel e uma caneta, e começou a escrever um poema de sua autoria.

O nome já estava mais que decidido, Camila.

Camila nunca recebeu o poema feito em sua homenagem. Alfredo a despediu por telefone no dia seguinte.

Sem emprego, hoje vende produtos Avon para se sustentar. Sem amor, hoje pensa na oportunidade que perdera em ter tido um homem que a amava de verdade.

Defenestração

Uma coisa que mexe comigo é quando o Brasil decide eleger alguma palavra ou expressão como algo chique que deve ser falado por pessoas de classe.

"A nível de país..."
"Enquanto negra, acredito..."
"São apenas factóides."
"É sine qua nom que façamos estes relatórios!"

E não pára por aí. Daria para fazer uma lista gigantesca.

Acabo de ouvir a seguinte frase: Célia Mara já foi defenestrada.

Automaticamente lembrei de um texto fantástico do Veríssimo que diz que certas palavras deveriam ter outros significados. E no decorrer do texto ele vai citando exemplos de palavras. Li este texto ainda no Ensino Fundamental, nunca mais esqueci o significado do verbo defenestrar.

"
Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:

- Defenestras?"

No final do texto se descobre que defenestrar é o ato de jogar alguém pela janela.

Sendo assim, a mulher que tinha sido demitida, deposta do cargo, na voz de Wilker, foi jogada pela janela - literalmente.

Seria uma alusão ao caso recente de defenestração
?

Ainda não sei. Mas acredito que se Wilker continuar defenestrando Célia Mara, a arte imitará a vida.

domingo, 25 de maio de 2008

A festa do Noé

Pode ser que seja inferno astral. E se não for, significa que estou ficando muito chata, o que não seria grande novidade.

Uma amiga me chamou para o aniversário de um outro amigo nosso:

- Vi, você vai, né
?

- Putz, não sei. Acho que vou assistir Zorra Total.

- Credo, como você está chata!

- Essas festas são muito chatas. Primeiro, só tem casal. Segundo, eu só conheço o aniversariante e você, que agora está namorando. Terceiro, estou com preguiça.

- Pára. Se tem gente desconhecida, é uma ótima oportunidade de você conhecer pessoas.Quem sabe
?

- Vai ser uma merda.Só vai ter casal. As pessoas vão se reunir, tomar todas, reclamar da política, economia, contar causos, falar do último filme de alguém que eu jamais ouvi falar, rir um pouco, e fim! Mas mesmo assim eu vou.

A profecia se realizou.

Às vezes eu me sinto na arca de Noé. Noé abre a arca para que os bichos entrem em par. E, se o dilúvio ocorrese, as chances de eu morrer afogada seriam enormes. Afinal, Noé só deixa entrar casal.

Parada Gay 2008

Já é a minha quarta parada gay.
No final da parada eu sempre digo que será a última vez. Mas não adianta, passa um ano, e lá estou eu.

E sempre faço a mesma pergunta: Onde este povo se esconde durante o resto do ano?
Digamos que 9% estão no prédio em que eu trabalho. E o restante
?

Tinha gente de tudo que é tipo. Uma diversidade absurda de pessoas. Gente feia, gente bonita, gente arrumada para a festa, gente bêbada e jogada no chão, gente.
E acho que este é o motivo pelo qual eu ainda vou ao evento - gente.

A parada gay já não é mais a mesma. Virou carnaval. O que era para ser um protesto, um momento de reflexão, virou carnaval, como tudo no Brasil.

E no meio de tanta bagunça as pessoas esqueceram o motivo pelo qual estavam lá nesta tarde de domingo.
Os políticos aproveitaram para aparecer. As "celebridades" aproveitaram para mostrar a carinha na televisão, os espertos aproveitaram para vender a cerveja a preço de ouro, e assim acabou mais uma parada.

Não resolveu muita coisa. Mas muita gente beijou na boca, dançou, bebeu, e vai voltar para casa com a roupinha de lantejoula bem escondidinha na bolsa para ninguém no bairro ver.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Churrasco

Uma das maiores dificuldades em fazer um churrasco é calcular a quantidade de carne a ser comprada.
Ou falta, ou sobra demais.

No site da smirnoff você consegue calcular o seu churrasco. Prático e eficaz. Com isso nada de ficar um mês comendo a carne do churrasco de domingo.

Além disso, tem excelentes dicas do senhor Wessel, que é um churrasqueiro de mão cheia.

E não é só isso!!!! O site traz ainda uma página para você enviar os convites para seus amigos que chegam com a previsão do tempo para o dia da festa. Perfeito. E depois de tudo isso, aguardo convites.


Confira o site!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Eu quero!

Cheguei cansada, com sono, com fome, depois de doze horas de labuta.
A minha maquiagem já estava derretida e as minhas olheiras demonstravam uma idade que eu não tenho. Algo em torno dos quarenta. O pé gritava dentro do sapato de salto alto.

Liguei a televisão. Enquanto eu estava num estado deplorável, ela continuava bem maquida, cabelo escovado, sorriso reluzente e uniforme impecável.
Pensei: "Filha da puta! Quero um trabalho como o dela". Ela
? A Maria Paula da novela Duas Caras.

Ela foi roubada pelo vilão, dividiu a casa com a empregada, depois decidiu sair de São Paulo e ir para o Rio de Janeiro.

Mora em um condomínio de classe média, seu filho estuda em escola particular, sai do trabalho sem avisar a qualquer hora, tem um chefe que parece um pai.

Olha, o Extra deve estar pagando bem. Afinal, que repositora de estoque tem a vida da Maria Paula
?

Depois dizem que novelas são pequenos retratos da realidade. Realidade de quem
?

domingo, 18 de maio de 2008

Os seus são nossos

Já fazia um ano que estava casada. Ainda assim, todas as tardes, saia de casa, se arrumava, pintava-se, e saia pela cidade de São Paulo.
Não tinha um rumo certo. Não fazia plano algum, apenas saía.

Gostava de olhar as pessoas em seus andares apressados pela cidade. Gostava também de ouvir conversas, participar, mesmo que fosse por alguns instantes, da vida de estranhos.
De uns tempos pra cá notou certa preferência pelos pais solteiros.
Achava lindo o sentimento de paternidade.

Entrava no metrô e sentava-se num banco, ao lado de um homem. Podia ser velho, moço, feio ou bonito, bastava que estivesse com alguma criança.

Começava fazendo amizade com a criança. Sempre andava com um chocolate na bolsa. A tática era simples. Abrir o chocolate e oferecer. O pai pedia para a criança não aceitar. Afinal de contas, que pai deixaria seu filho aceitar algo de uma pessoa estranha?

Ela sorria e tirava uma nova barra. Insistia com seu doce sorriso. Que homem desconfiaria de uma mulher de aproximadamente 1.60, olhos azuis, cabelos loiros longos e cacheados? Era como recusar uma benção de um anjo.

O assunto começou na estação Jabaquara e terminou na estação Sé.

A pergunta final foi fatídica:

- Você é casado?

O homem até ficou sem graça com tamanha objetividade na pergunta, mas respondeu com um profundo suspiro que jamais havia se casado.

Ela se dizia solteira e com filho. A idade de Cláudio, seu filho imaginário, variava de acordo com a idade do filho da vítima.

Aos poucos se infiltrava na vida dos homens solteiros com filhos. Conseguia estabelecer uma relação. Durante a semana era uma mulher exemplar. Aos finais de semana, dizia ao marido que ficaria com a mãe doente em um hospital. Ele nunca pedia para acompanhá-la.

Na verdade, Carlos até gostava dos sumiços de Paula. Era nessas oportunidades que encontrava Laurinha, sua amante.

As relações duravam, no máximo, três meses. Os abandonava quando eles pediam para conhecer seu filho.

Enquanto a relação durava, Paula conhecia a família de seus namorados, levava os filhos ao parque de diversões, cinema, teatro infantil, e tudo mais que eles quisessem. Era muito difícil alguma criança não gostar de Paula.

Era um final de tarde de sábado. Paula passeava com João e filhos pelo parque Vila Lobos quando avistou ao longe um rosto conhecido-Carlos. Aproximou-se para ver melhor. De mãos dadas com uma mulher, a beijava carinhosamente na testa. Uma criança o puxou pela mão e foram os três em direção ao pipoqueiro.

Primeiro tudo ficou escuro. Logo na seqüência veio uma pontada enorme em seu coração. A última palavra que ouviu foi: “Pai, depois eu vou querer um algodão doce!”.

Foi naquele exato momento que teve a absoluta certeza de que era infértil.

Ficou ao longe observando aquela família. Foi a última imagem que viu antes de morrer.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Cenas do cotidiano

Ela entrou no ônibus toda estabanada. Segurava o celular com o rosto, pegava alguma coisa na bolsa. Derrubou uma sacola no meu colo, tentou pedir desculpas, mas a pessoa do outro lado da linha atendeu o telefone.

- Alô
?

- Você está me ouvindo
?

- Só quero saber uma coisa. Onde você está
?

- Onde você está
?

- On-de vo-cê es-tá
?

- Que bom, Carlos. Nem me esperou.

- Sabe, eu vou te abandonar. Estou de saco cheio de você.

- Carlos
? Carlos? Não mente, porra. Onde você está? Pode falar a verdade.

- E onde fica isso
?

- Sei, sei...

- Que horas você chegou aí
?

- Mentiroso. Liguei no seu escritório às 17:00 e você já tinha saído.

- Carlos, quem está com você
?

- Carlos, quem está com você
?

- Alô
? Alô?

Desconfiei que Carlos havia desligado o telefone na cara dela.
Ela não contente, ligou de novo.

- Caixa Postal, filho da puta. Carlos, se você pensa que pode desligar o telefone na minha cara, está muito enganado.

O Carlos até que foi paciente. Eu já teria desligado bem antes.

O ponteiro do relógio que passou

Eu ainda lembrava do dia em que a coloquei para fora da minha vida. Não foi fácil. Mas naquele momento eu não estava preparado para dar o que ela queria, um relacionamento.

Tudo andava muito bem. Clarice era uma mulher inteligente e divertida. Não era do tipo bonita. E acho que, no fundo, foi isso que ajudou na decisão.
Nos dávamos bem. Nos víamos com frequência, nos falávamos diariamente.
Eu só não assumi a relação, mas tínhamos uma.

Ela queria me apresentar todos seus amigos, mãe, pai, avô, papagaio. Eu não estava preparado. Tínhamos apenas uma amiga em comum, Amanda. Não queria mais vínculos. Nada de apresentar meus amigos, nada de colocá-la na minha vida.

Casamento da Amanda.
No fundo eu sabia que encontraria Clarice. Eu continuava solteiro. Tinha feito planos para dar uma carona e levá-la para casa. Conversar, relembrar os velhos tempos, ouvir aquela risada gostosa e rir de suas histórias.

Não demorou muito para que eu ouvisse a risada que me conquistou.
O cabelo continuava o mesmo, o corpo, o jeito, nada havia mudado. Não parecia que o tempo havia passado.
Ela me olhou e sorriu. Me cumprimentou com a cabeça.
Um homem muito bem vestido e bonito a abraçou, lhe entregou uma taça de champanhe e lhe deu um beijo no rosto.

Fiquei ao longe olhando aquele belo casal.
Ele ria o tempo todo. Lembrei de mim. Eu já tinha sido uma pessoa como ele. Já tinha tido momentos como o que ele estava vivenciando.

Passei a noite sozinho. Acompanhando com os olhos a felicidade dos que tinham alguém para fazê-los sorrir.

Voltei para casa com a sensação de ter deixado a felicidade escapar por entre meus dedos.
A chuva batia forte no parabrisa.
As lágrimas não foram tão generosas quanto a chuva, mas caíam.

Família

Ontem foi dia das mães. E dia das mães é dia de almoço em família, e toda aquela coisa.

Pela primeira vez, em anos, o clã todo se encontrou para o almoço. Nem eu sabia que a minha família era grande.

Todos os personagens estavam lá. Desde o tio bicho grilo até a tia velha solteirona e gorda. Acho que meu futuro será este: tia velha solteirona gorda e bem chata.

Logo nos primeiro passos pela entrada da casa já ouço comentários animadores que já demonstram que a tarde promete.

- Vivi, você engordou
?

- Sim, bastante.

- Precisa se cuidar, mocinha. Depois dos trinta fica bem mais difícil de emagrecer.

Sorriso amarelo.

- Mas eu ainda nem tenho 30.

- Não
?

E as pérolas foram faladas durante todo o dia.

O ápice foi minha vó.

- Querida, você se formou em quê mesmo
?

- Rádio e televisão.

Ela demorou cinco minutos para processar a informação.

- Sim, sim, rádio e televisão (...pausa dramática...) Filha, você arruma a televisão do quarto para a vovó
?

- Claro, vó. E se tiver algum rádio, me liga.