quarta-feira, 9 de julho de 2014

Brasil e brasileiro

Não adianta me consolar, Ana Maria. Estou chateada. Fique tranquila, não sairei por aí chutando paredes e quebrando tudo. Tenho 33 anos e educação. Mas não me console.
Quero ficar aqui, chateada, meio desapontada. Acho que desapontamento é a palavra. Me deixe desapontada.

Me sinto traída pelo futebol. Me prometeram uma festa. E a sensação que tenho é que a festa acabou. Vai rolar ainda um som, meio que saideira, e fim. A gente permanece balançando os drinques no bailinho porque a casa é nossa. Mas dá uma vontade de desligar o som. A casa é minha, a festa não está mais legal, então façam a gentileza de voltarem para suas casas. Mas a boa educação não nos permitirá ato tão nobremente infantil. A festa continua.

Sabe o fim de um relacionamento? Você finge que não aconteceu, pensa em outras coisas, sai com os amigos, mas a cabeça está na pessoa. Foi assim com a saída da Seleção Brasileira da Copa 2014. Sai, bebi um pouco, fiz piadas, falei mal da "pessoa amada", menosprezei mesmo "Ela não era tão boa assim", meio que cuspindo no prato que comi, e me esbaldei durante anos, desde 1994 (minha primeira Copa). É assim mesmo. A gente fica chateado. Chateado a puta que o pariu. A gente fica puto pra caralho. É só um jogo, dizem os mais moderados. E daí?
Ah, meu. Desculpe. É Copa do Mundo. Me deixem ao menos ficar chateada. Não se tem nem mais este direito.

Depois, quando a Argentina perder para Holanda por 8 x 1, pode ser que eu fique menos chateada.Porque não tem nada melhor do que ver outras pessoas na merda também para curar uma dor. A gente é assim.

Estou chateada. Globo, vai tomar no cu. Não me tragam especialistas, números, explicações, vídeos de crianças, os jogadores chorando e aquela porra toda. Estou chateada, vou ficar por mais algumas horas, e não quero ser consolada.

Sem mais,
Viviane.

Tenho vergonha da falta de educação, não do futebol

Lá no futuro, quando me perguntarem da Copa de 2014, me lembrarei desses 7 x 0? Acredito que sim.  Mesmo as pessoas dizendo que brasileiro não tem memória. Tem coisa que é difícil esquecer, como aquela derrota para a França em 1998. Eu tinha tomado consciência do tamanho de uma Copa do Mundo em 1994, primeira vez que vi o Brasil ser campeão. Em 1998 estava certa a vitória, pelo menos pra mim. Realmente fiquei decepcionada. Mas a vida seguiu. Assim como seguirá em 2014.

O que é diferente desta vez? A humilhação de perder por uma goleada histórica, dentro de casa.  fui ao banheiro, quando voltei, já estava 5 X 0. Foi impressionante. Alemanha destruiu a seleção brasileira. Eu já imaginava que iria perder, mas esperava mais raça. Esta é a diferença. A seleção não entrou em campo. E ficou aquela sensação de pelada do condomínio. Faz 5, vira o campo. Com 10 gols acaba.

O que me deixa chateada é o espírito brasileiro. Perdeu. Agora o negócio é sair pela rua quebrando tudo, batendo em todo mundo, sendo boçal até onde der. A regra da boa educação diz que devemos ser cortês com as visitas. Eu esperava um pouco mais de maturidade e educação da população. Perdeu. É um jogo, um jogo, um campeonato. Virão outros. Faz parte. Segue a vida. Siga com dignidade e respeito ao ser humano.
Ler matérias dizendo que os argentinos estão com medo de sofrerem violência física, me entristece demais. Deixem os caras comemorarem. Tirarem sarro mesmo. Exatamente como estamos fazendo "Rindo da nossa desgraça!". Faríamos diferente se fosse com eles? Não. E é isso. Futebol é a sacanagem com quem perdeu, é a brincadeira, é esporte. Não é a quebradeira e a violência gratuita.

Não tenho vergonha de ter perdido uma partida de futebol, até mesmo porque eu sequer entrei em campo para dizer que perdi alguma coisa. Mas me envergonha muito a falta de educação brasileira. E isso tem a ver comigo, porque mexe comigo como cidadã brasileira que sou. De resto é futebol, fuleragem, cambismo, salários milionários e Galvão Bueno.

Que o brasileiro aprenda a demonstrar um pouco de educação na derrota. Assim já me sentirei vitoriosa nesta Copa do Mundo.