domingo, 11 de dezembro de 2011

Não ser

Quando eu nasci minha mãe olhou pra mim e disse: "É a menina mais linda do universo". Ok, era normal, mas ela achava linda.

Quando comecei a andar ela deve ter pensado "Meu Deus, foi tão rápido, e ela faz isso tão bem, vai ser uma atleta!".

Quando cheguei à adolescência e ela me viu usando roupas estranhas, ouvindo música bem alto e começando a fumar, deve ter mudado de idéia quanto ao atletismo.
Pelo som alto que ouvia o dia todo, deve ter pensado que eu seguiria a carreira musical.

Quando tive meu primeiro amor, escrevi "lindos poemas" na minha agenda, que ela leu escondido. Deve ter pensado "Nada de musicista. Ela vai ser escritora!".
Quando tirei minha primeira nota baixa em português porque mais cabulava do que ia às aulas, deve ter desistido desta ideia.

E como lidar com tudo isso?

Fiz magistério, e por alguns instantes ela deve ter pensado que eu seria a nova Emília Ferrero (procure no google, por favor)!

Aí um dia me enchi disso tudo e fiz Rádio e Televisão. Eis um futuro gênio da televisão brasileira. Não, isso não aconteceu. Mais tomava vinho no bar que estudava.

Arrumei um emprego safado, e por alguns instantes os sonhos da minha mãe devem ter descido esgoto abaixo. Fiquei neste trabalho safado por anos a fio, me achando imprestável, era o auge dos 20 e poucos anos.

Quando achei que não supreenderia mais, fiz um curso de comissária. Meu destino era servir as pessoas que compraram passagens baratas pela internet.
Uma sábia psicóloga me reprovou no teste. Mais uma vez não sabia mais o que fazer.

Astronauta seria uma boa, mas nunca fui boa de física. Atriz? Hum, acho que sou pastelona demais para isso.Cantora de rock? Não consigo decorar uma letra de música. Sim, fiz curso de canto.

E que tal não ser nada?

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Não ser nada e ainda achar que a vida pode ser divertida sem encontrar a cura do câncer, ou a do HIV. Sem nenhum Nobel, Oscar, ou qualquer outro prêmio. Ser o que era pra ser, e ser feliz com a escolha.
Me premiar a cada dia por aceitar as coisas como elas deveriam ser. Afinal, o que seria do Bono Vox sem mim para achar U2 a melhor banda de todos os tempos e fazer propaganda de graça?

O que seria da minha mãe se eu não fosse todo santo dia encher o saco dela com os meus "e se..."?

A gente sempre acha que está pré-destinado (deste jeito mesmo), a fazer algo grande e especial. E os que te amam adorariam que assim fosse. Mas pra quê papel principal do mundo se você pode ser um coadjuvante feliz? Tem muitas estrelas que não conseguem.
Lacan era um atormentado bígamo. Freud tinha problemas de ereção. Clarice Lispector era uma atormentada. Nelson Rodrigues um tarado que sabia escrever (bem!). Clinton, ah... essa história você conhece. No final de tudo ninguém é tão especial assim. Depende dos olhos que os vêem.

E se você me olhar de perto...Ah, eu não sou normal!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Ale, o Rocha

Depois de ler muita coisa sobre o Ale, fiquei pensando se eu deveria escrever alguma coisa. E ter um blog e não falar do Ale, seria muita heresia. Ainda mais depois de ter lido um comentário em algum blog dizendo "Conheci os textos do Ale pela Vivi".

Conheci o Ale em 2005 através de um amigo comum. Este amigo falava muito bem dos textos dele, e viciei. O Ale teve um milhão e meio de blogs antes do Poltrona, e eu acompanhei todos diariamente. Era uma das minhas primeiras leituras.

Passei boa parte daquele ano falando com ele todo santo dia, e não era conversa pouca. Era conversa pra mais de horas, atravessava a madrugada e acabava com os primeiros raios de sol. O Ale durante muito tempo foi meu "mentor amoroso", dava conselhos, pitacos mesmo, acho que a minha vida foi a primeira novela que ele criticou. E nem sempre era bacana ouvir as verdades. O Ale era um cara cheio de verdades absolutas que me faziam pensar por horas.

Depois de meses falando pela internet, decidi que era hora de conhecer o Ale. Encontri o Ale na maternidade um dia depois do nascimento do João. Era difícil acreditar que aquele cara gente boa, de sorriso aberto, extremamente feliz por ser pai, tinha recebido o "aviso prévio". E toda vez que eu me via triste com alguma coisa, pensava no Ale. Um cara simples, de modos simples, que gostava de participar da minha vida, e sempre tinha algo a dizer, e por mais que a vida dissesse "NÃO", ele fazia questão de desafiá-la.

Fiquei feliz em saber que receberia mais uma chance de prorrogar o tal aviso prévio, feliz mesmo. E se a vida é mercecimento, ele tinha bônus na escala do merecimento, e merecia muito viver. Merecia porque queria, e sabia viver, mesmo em momentos não tão favoráveis. Tinha sede de vida. Estabelecia metas, e as cumpria com maestria.

Toda vez que o via na televisão, aproveitava para dar uma lição de moral em alguém que reclamava da vida - até mesmo eu. E agora que ele foi embora, deixou muita gente refletindo sobre o que realmente vale a pena nesta vida.

Vou continuar usando o Ale como exemplo de vida. Pra mim ele sempre foi, e sempre será um bravo.

Muitas pessoas passam pelo mundo de forma despercebida. O Ale fez questão de deixar sua marca e lição de vida para os que tiveram o prazer de conhecê-lo.

Talvez se ele lesse este texto, acharia uma bosta. Desculpe, Ale, é muito foda escrever como você.