domingo, 9 de outubro de 2016

Volte ou avance 5 casas.

Quando eu sai do penúltimo emprego, eu achei que faria diferente. Aquele sentimento "Pink e Cérebro" que me assola em alguns momentos.
E não, eu não estava preparada. Olhei no tabuleiro e voltei 5 casas. O peão não foi adiante, recuou. Você joga o dado, ele te dá a oportunidade, e você não aposta, volta 5 casas, e fica com a sensação de "Eu já vivi isto antes"...

Os textos são iguais, as dificuldades são iguais, os pensamentos das pessoas são iguais, e aquela insanidade cega de fazer algo que não faz muito sentido. Mas quando você regressa no tabuleiro, você já conhece o jogo, e evita os mesmos erros. E olha aquele jogo com um olhar mais de aprendizado.

Voltar 5 casas no tabuleiro te dá a oportunidade de refazer o caminho com mais consciência, com mais tranquilidade, e perceber de fato o quê aquele caminho tem para te ensinar. Porque não acho nada em vão. Se voltei é porque alguma coisa deixei de aprender, alguma coisa passou batido, e eu realmente precisei viver para entender.

Lá em 2014 quando a Índia era uma fuga, o destino me deu uma rasteira gigante, e tudo que parecia certeza, virou dúvida, e no final, deixei passar. Precisei viver uma história, precisei tirar uma lição. E, de verdade, levarei a lição de 2014/15 para o resto da vida. Parece que 2016 é uma digestão. Um fechamento de ciclo. A compreensão do que me faz, ou não feliz. Perdi alguns medos e apegos. E agora que o ano vai fechando, eu vou refletindo sobre o quê eu aprendi. E devo dizer que não foi um ano jogado fora, como normalmente acho.

Chamarei 2016 de "O ano da preparação". O ano em que aprendi a respirar. O ano que aceitei aquilo que não posso mudar. E mudar aquilo que realmente me incomoda.

O teatro foi incrível e libertador. Se eu puder dar um conselho, além de recomendar filtro solar, recomendo teatro. Vá de coração aberto. E realmente viva o "Segure na minha mão, e eu seguro na sua, para que juntos possamos fazer aquilo que eu não posso fazer sozinho!". Isso deveria ser um mantra de vida. Teatro ensina respeito, gratidão, trabalho em grupo, humildade e um milhão de coisas que eu poderia escrever aqui.

Todo ano eu aprendo algo. Já fiz curso de palhaço, teclado, canto, trabalhei com crianças numa Ong incrível, fiz yoga, pilates, resolvi dançar zumba, e fico nesta vida, nesta busca incansável de conhecer, de me conhecer, e de fazer algo por mim e pelo próximo.

Então, voltar 5 casas no tabuleiro da vida, ao invés de ser uma infinidade de lamentações, tem sido uma lição. Então, não reclamo. Olho com olhos de quem quer aprender e entender a lição que muitas vezes não se apresenta logo de cara.

Sinto de verdade que esta volta é o primeiro passo de uma grande reviravolta no jogo.

Elas sabem o que é felicidade...

Eu sinto falta dos tempos de criança. Quando eu podia ser criança sem preconceito algum. Um tempo em que quando alguém dizia que eu era criança, era apenas uma constatação.

Hoje tento manter o olhar como o da criança. Mas depois de tantos anos olhando a vida, este olhar se polui. E a sensibilidade, franqueza e pureza vão se escondendo. E recuperar esta criança fica cada dia mais difícil.

Se alguém me perguntasse, quando eu ainda era criança, o quê eu gostaria de ser quando crescesse, hoje teria uma resposta. Queria não crescer. Ok, nem cresci tanto assim em altura. Mas vocês entenderam, vai. Queria ser criança, ao contrário do Tom Hanks em "Big" que quer ser adulto, eu trocaria facilmente com ele. Você vira adulto, e me deixa ser criança no seu lugar.

Eu lembro com muito carinho desta fase da vida.
Eu tinha uma imaginação que não cabia em mim. Fazia do pouco, ou nada, algo extremamente grandioso. Não tinha tempo ruim para brincar. E brincava o dia todo.
Colecionei joaninhas, comi terra, corri na floresta achando que eu era a Kate Marrone, brinquei de taco, cai de bicicleta, quebrei o braço, tive corte de cabelo constrangedor, cortei o cabelo da irmã brincando de cabeleireira, tive minha própria estação espacial no galpão de artesanato do meu pai, vivi no meu mundo da lua particular, dancei ouvindo Balão Mágico, chorei quando vi a Xuxa pela primeira vez, fui o Dunga no teatro da escola (mesmo brigando muito para ser a Branca de Neve), e sob protestos aceitei este papel.
Tive medo de fantasmas, invadi casas mal assombradas para fazer a brincadeira do copo, tive medo de dias chuvosos, e achava que o Apocalipse bíblico aconteceria a qualquer momento (espero até hoje), roubei hóstia da igreja porque sempre quis saber que gosto tinha, fugi de casa com um cabo de vassoura nas costas a lá Chaves - só dei uma volta no quarteirão - fiquei com medo e voltei.
Fui à escola de perua escolar me achando muito adulta, usei conga, tive camiseta fluorescente, roubei o caderno de ocorrências da escola, fui Miss Caipirinha, fui em diversas excursões ao Playcenter e achava que era quase a Disney, demorava 3 horas montando uma casinha para brincar 5 minutos, ganhei a Família Coração porque meus pais não tinham dinheiro para Barbies, e fiz disso um estilo só meu. Chorei quando ganhei a Lu Patinadora,tive uma boneca Xuxa do Paraguai, brincava de submarino numa banheira de plástico de quando eu era bebê (o que pra mim aos 5 anos era algo de outra vida, ser bebê era algo muito distante), fazia teatro para as minhas bonecas, tive um bolo incendiado porque a grama era de papel, entrei escondida pela lona do circo para ver o palhaço, sentei numa motoquinha de plástico e só sai de cima dela quando minha mãe comprou, e só acreditei que ela realmente tinha comprado quando chegamos em casa, voltei do mercado até minha casa sentada nela, tiveram que tirar a tampa do porta malas para que nós coubéssemos. Já passei  muitos natais brincando com o brinquedo novo. E me lembro de ter ganho uma piscina de plástico de um Papai Noel negro, num Natal distante.

E hoje, muitos anos depois, passaria horas lembrando da época em que fui criança. Lembro com riqueza de detalhes dos pequenos prazeres que eu tinha, e era muito feliz.

Hoje sou "adulta", mas visito sempre minha criança. Sinto saudades da Vivi criança. A visito quando estou com outras crianças, é uma desculpa para um prazer particular. Gosto de crianças porque sei exatamente o que sentem. E espero nunca esquecer esta satisfação do novo, do diferente, dos pequenos gestos, e das boas gargalhadas com o simples. Amo as crianças porque elas sabem o que é viver. Amo visitar a minha criança para nunca esquecer que a vida é feita de pequenos momentos, pequenas descobertas, e uma infinidade de possibilidades.
Deixem as crianças serem crianças. Sejam crianças às vezes.Unam-se aos que sabem sobre felicidade.