segunda-feira, 26 de junho de 2023

A viagem do eu

Tem um milhão e meio de postagens contando sobre chá de ayahuasca. Provavelmente você vai chegar no vídeo do Caetano, passando pela Maitê Proença e Rian Brito. Talvez o algorítimo te traga até aqui.Talvez!

E, antes de qualquer coisa, eu não sou médica, médium, nutricionista, muito menos especialista sobre o tema. Ou seja, essa é a minha experiência. E ela pode ser muito diferente para cada ser humaninho. Somos biologicamente, socialmente, psicologicamente, fisicamente,  complexos e diferentes. Somos únicos na nossas combinações, então não existe uma regra.

Eu tinha pensado sobre o chá da ayahuasca algumas vezes. Sempre por curiosidade. Fazia uma piada que chá revelação real oficial, é o da ayahuasca, mas sem refletir muito sobre o tema. Era algo que eu sabia da existência, achava interessante, e entendi que o dia que fosse para eu tomar, tomaria. Mas realmente nunca fui atrás. Uma vez, no Peru, me convidaram para um ritual do chá. Não tive coragem. Primeiro porque estava viajando sozinha, segundo que eu estava vindo de um cenário bem ruim de síndrome do pânico, e eu já estava com medos reais demais para entrar no meu subconsciente. E isso é um lance importante. Se conheça, entenda suas limitações. Não tem problema algum você não se sentir pronto. Ninguém te conhece melhor que você. E eu sou bem grata por não ter tomado naquele momento. 

Foi no sábado - 24/06. Eu fiz aniversário dia 16/06. E eu sempre faço um texto de aniversário para me lembrar de como eu penso, e etc. Normalmente publico aqui neste blog que virou mais um diário do que um blog em si. 
Uma amiga me disse que estava indo para um ritual de ayahuasca num sítio no interior de São Paulo. E em tom de brincadeira eu disse "E por quê eu não fui convidada?" - ela me disse que se eu quisesse ela poderia ver se eu poderia entrar no grupo, 20 minutos depois eu estava no grupo. era por volta das 13h e o ritual seria a noite. Tem gente que passa dias se preparando, dias refletindo sobre o tema, alguns passam anos até tomar a decisão. E lá estava eu, em menos de 7h para o ritual, refletindo se era isso mesmo que eu queria fazer.

Bem, eu pesquisei. E aí está o erro, acreditar em tudo que está na internet. Então leia sobre o assunto, mas saiba que assim como você, a internet é um oceano de coisas. Coisas boas, coisas ruins, mentiras, e etc. A peneira de conteúdo é complexa. Aí bateu a insegurança.
E se eu enlouquecer? E se eu for nessa viagem e não voltar nunca mais? O medo da insanidade é real, né? Como se o que a gente vivesse fosse normal. É só olhar pela janela da internet e perceber  que a normalidade foi convencionada, e ela nunca existiu de fato. Mas enfim, isso aqui não é uma ode à sanidade ou insanidade mental. 

Estou em processo terapêutico faz anos. Eu faço teatro por autoconhecimento, faço análise, leio, me escuto, converso comigo e com os outros. Tenho uma escuta ativa e interessada pelo mundo. Será que eu não posso confiar em mim? E, se tudo que eu acho que eu já caminhei e aprendi sobre mim não for suficiente para dar esse passo? Me dei esse voto de confiança. Decidi que a experiência seria minha, e não poderia me influenciar pela história dos outros.

22h em ponto, eu, minha mantinha, meu lencinho de pescoço pro frio, meu japamala (que fazia séculos que não era usado) estávamos lá na tenda sentindo o calor de uma fogueira em roda com mais 12 pessoas que iriam fazer a consagração e três guardiões.

Os três guardiões sentaram conosco na roda, e explicaram como seria o ritual. A duração é de 4h40 e seria servido 3 doses do chá. E que cada um saberia seu momento, e entenderia a dose necessária. Explicaram que cada um tem um processo diferente, e que seria revelado aquilo que nossos corações estivessem prontos para receber. 

Tomei o chá, e esperei o processo. Começou em cerca de 20 minutos. Sabe quando você pega um trem muito rápido, e a paisagem vai passando e você não consegue muito bem entender as imagens? Pra mim foi assim o começo. Era tanta informação, que fiquei até zonza. Acho que é por isso que algumas pessoas vomitam. É uma expansão gigantesca do nosso subconsciente. E lá tem bastante coisa, posso garantir.
O começo é bem difícil, pareceu que eu estava atravessando o umbral. Demorou um tempo para eu conseguir chegar no estado de paz e gratidão. Mas quando eu cheguei, eu não queria sair de lá por nada nesse mundo. Foi a melhor experiência que já tive na vida. A força interna, o agradecimento pela jornada, o entendimento do que sou, e a gratidão por toda a minha história. Eu nunca tinha sido tão grata. 
Não vou entrar em detalhes da experiência em si porque não tem receita. Não tem o melhor jeito de viajar, não é um guia "Conheça a Itália". O terreno é fértil e diferente. E realmente cada um terá sua experiência. 
Mas se eu puder dar só uma dica a dica é AUTOCONHECIMENTO. Saiba seus limites, saiba quem você é - seu lado luz, e seu lado sombra. Agradeça o processo. Se você chegou até ali, é porque estava pronto para aquilo. Nosso cérebro é incrível, e ele essa viagem é interessantíssima. Pode ser que não seja agradável, mas você não sairá sem nada dela.