sábado, 31 de dezembro de 2016

2016

Acaba mais um ano, e com o fim do ano, as famosas retrospectivas.

Uns agradecem, outros reclamam, uns estão de férias, outros não. Alguns estão trabalhando, outros não. Mas no fim de tudo, é uma energia boa de renovação. E, apesar de não acreditar em Papai Noel, acredito em Ano Novo.

Naquele momento em que a folhinha muda de dia, é tanta gente mentalizando coisas boas, pensando que o próximo ano será melhor, que alguma coisa mágica deve acontecer. É assim que eu penso.

Não vou reclamar. Reclamo o ano inteiro. Vou agradecer. Como sempre digo: "O que a gente vive são experiências para construção do que seremos amanhã". E se aconteceu, era importante. A vida não é um roteiro de filme que a gente faz o que quer. Ela tem seu próprio curso, e não vai seguir exatamente aquilo que você quer. Afinal, você não vive numa bolha sozinho.

Finalmente, depois de 2 anos, acho que vou começar um ano zerada. Sou daquelas que sempre tem uma história mal resolvida, um amor mal acabado, uma pendência afetiva...Um ranço (sempre quis usar esta palavra). 2016 me deu a oportunidade de fechar histórias que na minha mente nunca foram resolvidas. Sigo com o coração leve, e com a certeza de que 2017 será phodástico. E será porque plantei isso. Plantei uma mudança em minha vida, e optei por fazer o que sempre tive vontade de fazer (mistério!).

2016 foi a escolinha do sonho. Reguei, analisei, investi, acreditei...E tudo isso é aprendizado.

Coração leve, sorriso no rosto, e muita vontade de que em 2017 eu seja uma pessoa melhor porque o ano te trata como você o trata.

Desejo à todos um 2017 cheio de novas lições, amores, sonhos, cores e sabores...Que surjam muitos novos sonhos, muita vontade e determinação para que eles se transformem em realizações.

Valeu 2016, foi um prazer. Lições aprendidas.

domingo, 9 de outubro de 2016

Volte ou avance 5 casas.

Quando eu sai do penúltimo emprego, eu achei que faria diferente. Aquele sentimento "Pink e Cérebro" que me assola em alguns momentos.
E não, eu não estava preparada. Olhei no tabuleiro e voltei 5 casas. O peão não foi adiante, recuou. Você joga o dado, ele te dá a oportunidade, e você não aposta, volta 5 casas, e fica com a sensação de "Eu já vivi isto antes"...

Os textos são iguais, as dificuldades são iguais, os pensamentos das pessoas são iguais, e aquela insanidade cega de fazer algo que não faz muito sentido. Mas quando você regressa no tabuleiro, você já conhece o jogo, e evita os mesmos erros. E olha aquele jogo com um olhar mais de aprendizado.

Voltar 5 casas no tabuleiro te dá a oportunidade de refazer o caminho com mais consciência, com mais tranquilidade, e perceber de fato o quê aquele caminho tem para te ensinar. Porque não acho nada em vão. Se voltei é porque alguma coisa deixei de aprender, alguma coisa passou batido, e eu realmente precisei viver para entender.

Lá em 2014 quando a Índia era uma fuga, o destino me deu uma rasteira gigante, e tudo que parecia certeza, virou dúvida, e no final, deixei passar. Precisei viver uma história, precisei tirar uma lição. E, de verdade, levarei a lição de 2014/15 para o resto da vida. Parece que 2016 é uma digestão. Um fechamento de ciclo. A compreensão do que me faz, ou não feliz. Perdi alguns medos e apegos. E agora que o ano vai fechando, eu vou refletindo sobre o quê eu aprendi. E devo dizer que não foi um ano jogado fora, como normalmente acho.

Chamarei 2016 de "O ano da preparação". O ano em que aprendi a respirar. O ano que aceitei aquilo que não posso mudar. E mudar aquilo que realmente me incomoda.

O teatro foi incrível e libertador. Se eu puder dar um conselho, além de recomendar filtro solar, recomendo teatro. Vá de coração aberto. E realmente viva o "Segure na minha mão, e eu seguro na sua, para que juntos possamos fazer aquilo que eu não posso fazer sozinho!". Isso deveria ser um mantra de vida. Teatro ensina respeito, gratidão, trabalho em grupo, humildade e um milhão de coisas que eu poderia escrever aqui.

Todo ano eu aprendo algo. Já fiz curso de palhaço, teclado, canto, trabalhei com crianças numa Ong incrível, fiz yoga, pilates, resolvi dançar zumba, e fico nesta vida, nesta busca incansável de conhecer, de me conhecer, e de fazer algo por mim e pelo próximo.

Então, voltar 5 casas no tabuleiro da vida, ao invés de ser uma infinidade de lamentações, tem sido uma lição. Então, não reclamo. Olho com olhos de quem quer aprender e entender a lição que muitas vezes não se apresenta logo de cara.

Sinto de verdade que esta volta é o primeiro passo de uma grande reviravolta no jogo.

Elas sabem o que é felicidade...

Eu sinto falta dos tempos de criança. Quando eu podia ser criança sem preconceito algum. Um tempo em que quando alguém dizia que eu era criança, era apenas uma constatação.

Hoje tento manter o olhar como o da criança. Mas depois de tantos anos olhando a vida, este olhar se polui. E a sensibilidade, franqueza e pureza vão se escondendo. E recuperar esta criança fica cada dia mais difícil.

Se alguém me perguntasse, quando eu ainda era criança, o quê eu gostaria de ser quando crescesse, hoje teria uma resposta. Queria não crescer. Ok, nem cresci tanto assim em altura. Mas vocês entenderam, vai. Queria ser criança, ao contrário do Tom Hanks em "Big" que quer ser adulto, eu trocaria facilmente com ele. Você vira adulto, e me deixa ser criança no seu lugar.

Eu lembro com muito carinho desta fase da vida.
Eu tinha uma imaginação que não cabia em mim. Fazia do pouco, ou nada, algo extremamente grandioso. Não tinha tempo ruim para brincar. E brincava o dia todo.
Colecionei joaninhas, comi terra, corri na floresta achando que eu era a Kate Marrone, brinquei de taco, cai de bicicleta, quebrei o braço, tive corte de cabelo constrangedor, cortei o cabelo da irmã brincando de cabeleireira, tive minha própria estação espacial no galpão de artesanato do meu pai, vivi no meu mundo da lua particular, dancei ouvindo Balão Mágico, chorei quando vi a Xuxa pela primeira vez, fui o Dunga no teatro da escola (mesmo brigando muito para ser a Branca de Neve), e sob protestos aceitei este papel.
Tive medo de fantasmas, invadi casas mal assombradas para fazer a brincadeira do copo, tive medo de dias chuvosos, e achava que o Apocalipse bíblico aconteceria a qualquer momento (espero até hoje), roubei hóstia da igreja porque sempre quis saber que gosto tinha, fugi de casa com um cabo de vassoura nas costas a lá Chaves - só dei uma volta no quarteirão - fiquei com medo e voltei.
Fui à escola de perua escolar me achando muito adulta, usei conga, tive camiseta fluorescente, roubei o caderno de ocorrências da escola, fui Miss Caipirinha, fui em diversas excursões ao Playcenter e achava que era quase a Disney, demorava 3 horas montando uma casinha para brincar 5 minutos, ganhei a Família Coração porque meus pais não tinham dinheiro para Barbies, e fiz disso um estilo só meu. Chorei quando ganhei a Lu Patinadora,tive uma boneca Xuxa do Paraguai, brincava de submarino numa banheira de plástico de quando eu era bebê (o que pra mim aos 5 anos era algo de outra vida, ser bebê era algo muito distante), fazia teatro para as minhas bonecas, tive um bolo incendiado porque a grama era de papel, entrei escondida pela lona do circo para ver o palhaço, sentei numa motoquinha de plástico e só sai de cima dela quando minha mãe comprou, e só acreditei que ela realmente tinha comprado quando chegamos em casa, voltei do mercado até minha casa sentada nela, tiveram que tirar a tampa do porta malas para que nós coubéssemos. Já passei  muitos natais brincando com o brinquedo novo. E me lembro de ter ganho uma piscina de plástico de um Papai Noel negro, num Natal distante.

E hoje, muitos anos depois, passaria horas lembrando da época em que fui criança. Lembro com riqueza de detalhes dos pequenos prazeres que eu tinha, e era muito feliz.

Hoje sou "adulta", mas visito sempre minha criança. Sinto saudades da Vivi criança. A visito quando estou com outras crianças, é uma desculpa para um prazer particular. Gosto de crianças porque sei exatamente o que sentem. E espero nunca esquecer esta satisfação do novo, do diferente, dos pequenos gestos, e das boas gargalhadas com o simples. Amo as crianças porque elas sabem o que é viver. Amo visitar a minha criança para nunca esquecer que a vida é feita de pequenos momentos, pequenas descobertas, e uma infinidade de possibilidades.
Deixem as crianças serem crianças. Sejam crianças às vezes.Unam-se aos que sabem sobre felicidade.


domingo, 25 de setembro de 2016

Me perdi de você

Eu já nem sei se sinto falta de você, ou se sinto falta do "você" que eu criei. Acho que sinto falta mesmo de um você que não existe mais e só eu achei que fosse real,
Era um você bem diferente de agora. Um você que estava no meu mundo particular, e que eu adorava visitar.
Notei que deixei de te visitar. Notei que perdeu a graça te visitar. Notei que estou substituindo você por algo mais real. O você de agora não me interessa mais.

Não gosto de coisas pela metade. Não gosto de gente que não sente, não vive. E também não gosto de gente egocêntrica. Quando os seus problemas, o seu dia a dia, a sua vida, os seus afazeres e todo o resto passou a dominar sua vida, eu perdi você. Ficou intocável, ficou distante, virou fumaça.

Passei muito tempo tentando resgatar um você que já não existe mais. Você virou reclamações, virou desesperança, virou um dedo apontado para a verdade, sanidade, moral, costumes, um você que não alimenta o meu "eu". Um você que está tão, tão distante, que chego a pensar se realmente existiu, ou eu te criei para suprir minha necessidade de carinho e atenção.

Eu pensei tantas coisas. Tantos lugares, tantas coisas, tantos cheiros, sabores, e vida. Pensei, pensei tanto em você, quis tanto que tudo virasse planos, que tudo se transformasse em realidade. Acreditei tanto que eu poderia estar feliz ao seu lado. E quis tanto que você estivesse feliz ao meu lado. Mas você não existiu. Este você foi um doce fruto de um desejo de que fosse diferente. Você não é diferente. Você não quer ser diferente.

Acorda, trabalha, reclama, volta pra casa, e trabalha mais, mais e mais. Trabalha tanto pra quê? É feliz? Já me perguntei tantas vezes sobre isso. E longe ou perto, eu queria tanto que você fosse feliz,

Sei que está num poço do qual não quer sair. Às vezes lembro e estendo a mão. Estendo a mão em vão. Você não quer sair porque dentro dos seus problemas, você se esquece. E eu não posso me esquecer. Não quero me afundar neste poço tentando pegar sua mão.

Queria que você voltasse. Te queria como da primeira vez. Mas isso virou utopia. O poço é muito fundo. Não consigo mais estender minha mão.
Vem aqui fora quando descobrir que a vida pode ser muito mais do que você vive.
Te garanto que a vida é boa.

O outro você sabia disso...




More sozinho

Faz muito tempo que moro sozinha.
E nestes 10 anos em carreira solo fui desenvolvendo manias. Só rezo para não acordar às 5 da manhã para varrer a calçada. Todo o resto é superável, e você acaba aprendendo lições.

Ninguém vai lavar a minha roupa. Se eu não colocar na máquina, elas não marcharão até a máquina e muito menos subirão ao varal só porque eu sou legal. E o pior, elas não se dobram sozinha e pulam de forma organizada dentro da gaveta.

A comida segue o mesmo padrão das roupas. Ou você faz, ou morre por inanição. Ou ainda, terá que se locomover em busca de algo comestível na rua. Mas comendo na rua durante toda a semana, em algum momento será obrigado a encarar o fogão. E não é nada mágico. Eu não sou, nem nunca fui a melhor cozinheira do mundo. Sendo assim, apelidei minha comida de "comida do sobrevivente". Lógico que há os momentos de inspiração master em que eu acho que fui possuída por um espírito "Palmirinha", mas isso é raro.

A sujeira que você faz, você limpa. E não há uma alma que possa levar a culpa por sua casa estar uma zona. Se está uma zona, é porque você é um baita relaxado preguiçoso. E vendo em alguns momentos o cenário de guerra que minha casa se encontra, chego a conclusão que sou uma baita preguiçosa desorganizada. Mas mesmo assim, é minha bagunça. Minha só minha. Minha e amada zona particular. 

Existirá momentos em que você terá o comportamento político, fará a si mesmo promessas em vão "Vou arrumar a casa" "Vou deixar organizado depois que a faxineira vier, mantendo tudo em seu devido lugar", mas já se conhecendo, saberá que o cenário de guerra tarda, mas não falha.

Vai começar a falar sozinho. Este sintoma aparece cedo, logo nos primeiros meses. Depois de um tempo vira tão habitual, que nem achará que é loucura.
Fará coisas que beirarão o bizarro, e vai rir muito disso, sozinho. 

Uns dias sentirá solidão, noutros vai amar estar só com você. Terá seus altos e baixos. Mas chego a conclusão que antes de dividir a vida com alguém, deveria ser obrigatório estar sozinho, se conhecer. Conhecer seus limites, manias e loucuras. Porque se não conseguimos co-existir conosco, é quase impossível dividir algo com outra pessoa.

Siga em carreira solo. Siga em carreira solo com muita dignidade e aproveitando cada momento com você. É uma viagem bem interessante. Só tome cuidado para não se apaixonar demais. Afinal, tão bom quanto se gostar, é saber dividir e conviver.

Viva bem com você, só assim conseguirá viver bem com o outro.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Bem no dia do amigo

Conselho e opinião todo mundo tem. Basta vir uma dúvida, uma vontade, um desejo de algo que sempre haverá os palpitadores de plantão que fariam algo se fossem você.

Eu ouço conselhos desde que nasci. Não sigo muitos, mas sempre gosto de ouvir uma perspectiva diferente sobre a minha vida. Não sei muito bem explicar os porquês disso.
Mas o melhor conselheiro, por mais piegas que possa parecer, ainda é seu coração. E eu sigo o meu desde que me entendo por gente.
Hoje ele falou comigo depois de um longo inverno. Siga seu caminho, você já deu tudo que poderia dar. Ok, faz quase um ano que ele repete isso incansavelmente, mas estava me fingindo de surda. Agora tive que ouvir. A consciência bateu profundamente com o "Move on".

Eu tenho a doce mania de ficar amiga de tudo que é homem que passa pela minha vida. Afinal de contas, ninguém é obrigado a ficar com ninguém, e tenho a teoria que se eu escolhi aquela pessoa, antes de tudo rolou uma admiração, um carinho, uma afinidade, e se temos tudo isso, por qual razão não podemos seguir amigos? E trato isso muito de boa. Sempre foi assim, até ter uma exceção. Tudo na vida tem sua exceção. O cara não sabe ser amigo. Alguém que não tem muitos amigos, e não sabe lidar com a amizade alheia. Ou talvez não precise de amigos. Bem, eu preciso, gosto, e valorizo cada um que está comigo. E os mantenho por longas e longas datas. Amigo é a família que a gente escolhe, e eu escolhi os meus muito bem.E é assim que é...

Olha, moço, sinto muito que não queira ser meu amigo bem no dia do amigo. Sinto por você que perdeu a oportunidade de conviver com as minha maluquices, ideias bizarras, e vontades surreais. Sinto por não vivermos histórias boas para contar aos netos. Sinto pelas boas risadas e as gracinhas que me farão falta. Sinto também pelas longas conversas no trânsito caótico de São Paulo. Sinto pelos conselhos e puxões de orelha que você sabe dar muito bem.
A base fundamental para uma boa amizade é o respeito. E eu exerço isso da melhor forma possível,coisas de quem tem muitos amigos, e por aprender a respeitar, respeito sua vontade, viu?
Falta vou sentir, e vou contar aos netos que tive um amigo bem gente fina que um dia sumiu. Sem mágoas, sem rancor, sem mimimi, fica aqui as recordações, e o carinho que sempre existirá.
E, apesar dos pesares, aqui você ganhou uma amiga e admiradora. Quem sabe um dia a gente se encontre por aí, não é mesmo?
Feliz dia do amigo.







domingo, 22 de maio de 2016

O jornalista favorito

Comecei a escrever em julho/05. Nunca foi porque eu tinha um talento nato. Lendo as coisas que escrevi nesta época, sinto uma certa vergonha alheia. Assim como sentirei vergonha alheia de tudo que já escrevi ao longo desses muitos anos.

Mas este texto não é sobre vergonha, vou deixar isso para um outro momento. É sobre as lições que aprendo com as minhas relações.

Ele era jornalista e tinha um blog. Bom, ele não sabia que eu sabia. Mas lia religiosamente. Aliás, era a primeira coisa que fazia logo cedo. Café + blog. Depois da lida, vinha a prática, e eu tentava, tentava, mas só saia texto ruim. Já diziam os sábios "A prática...". Ok, estou bem distante da perfeição, mas deu uma boa melhorada depois de 11 anos.

Um dia, como se eu escrevesse em blogs desde que o mundo é mundo, resolvi dizer como quem boceja, com calma e elegância "Tenho um blog!".  Wow, what a coincidence!!

Não, nunca antes de conhecê-lo, cogitei esta ideia. Mas lá estava eu, tendo algo em comum. Ou melhor, inventando algo em comum. Ainda hoje me pergunto se ele fosse piloto. Bom, fiz curso de comissária, mas isto é uma outra história. Sim, tinha um piloto envolvido.

E por conta de uma paixão, surgiu outra paixão. Na verdade, outras. Fiz aula de canto, entrei para uma banda, emagreci, "enloireci", passei a escrever mais e melhor. Tive noção básica de jornalismo, meu coração deu uma leve amolecida, e me apaixonei de verdade pela primeira vez. Daquelas paixões que você desce a parede chorando igual novela, sabe,

Uma hora essas paixões passam. Depois de chorar, gritar, se jogar no chão. Uma hora você limpa a roupa e continua. Nunca é o fim do mundo. É só o mundo te mostrando que ainda corre sangue nas suas veias e que dali vai sair uma lição. Talvez não fique clara nos primeiros dias, meses, e talvez anos, mas um dia, quando estiver tomando seu bom café, vai lembrar com carinho daquilo. Porque sempre há uma lição.

E foi assim nesta manhã de domingo. Uma boa lembrança.

Bom, ele continua sendo meu jornalista favorito mesmo depois de tantos anos. E, um amigo mais que querido. Sim, depois da tempestade, se o sentimento é verdadeiro, a amizade continua.

domingo, 17 de abril de 2016

Quando você segurava minha mão.

Eu lembro que andávamos de mãos dadas. Dizíamos que seria para todo o sempre. E pra mim, o todo sempre era infinito.
Um dia descobri que o "pra sempre, sempre acaba", como já cantou Cássia Eller.
Eu não sei quem errou. E acredito que ninguém tenha errado. As coisas acontecem como elas devem acontecer, a gente queira, ou não.

Eu estava ali sentada olhando você à distância, e percebi que meus olhos já não te viam da mesma forma. O meu coração não te sentia da mesma forma. Mas você estava ali o tempo todo, ao meu lado, sabendo meus gostos, manias, medos, amores e desamores. Você fez parte de tantos momentos da minha vida, que por mais que meus olhos não te vissem mais com o mesmo amor, eu não queria te perder de vista.

E ali você ficou por anos, como um móvel, como algo físico que compõe o quadro da minha vida.
E se eu não encontrar alguém que me conheça tanto quanto você? E se tudo que imagino que seja o mundo lá fora seja só ilusão? É tranquilo ao seu lado. Brigamos às vezes, às vezes brigamos muito. E, de uns tempos pra cá, nem forças para brigar temos mais. Mas e se for tudo ilusão? E se for tudo uma vida imaginada que não existe e eu esteja jogando pela janela a companhia da minha vida?
O que fizemos com a gente? Quando foi que deixamos as coisas se perderem?

Você me cobrou carinho, atenção, e eu estava ali ao seu lado o tempo todo, e você sequer percebeu que eu já não era mais a mesma. Caminhei ao seu lado de mãos dadas, até que um dia, você largou minha mão, começou a andar na frente, e eu ainda te segui o quanto pude. Mas aí eu cansei, e você tomou distância, e hoje não te vejo mais.
Orquestramos uma rotina cômoda pra mim, pra você, pra gente. Vivemos uma felicidade de propaganda com pessoas ao nosso redor que querem ser como a gente. Mas quem somos?
Já não somos mais o casal jovem e promissor que se ama. O quê somos nós?

E se eu não souber ser outra coisa? E se eu não conseguir encarar a vida sozinha?

Colocamos móveis, amigos, família, planos, viagens, e tudo que podemos colocar, colocamos no quadro da nossa vida. E mesmo assim, parece que estou apenas distraindo da minha mente. Enganando meu coração para que ele se contente com isso, porque é assim que a vida é.
Será que existe mais? Será que estou querendo demais?

Hoje eu sei que te amo. Sei que a vida não seria a mesma sem você. Mas também sei que a vida com você não é a vida que eu quero. E este meu amor, ah, este meu amor, não é o amor que eu imaginei que tivesse pra toda vida.

Segure minha mão. Quero sentir aquele frio na barriga e a vontade de estar com você.
Hoje te amo, mas não sei se é suficiente para nós dois. Dê um passo porque eu não consigo mais dar passo algum. Alguém nos salve. Alguém faça alguma coisa porque estamos lutando por convicções que sequer acreditamos. Mas como deixar-te se amo o cotidiano que fizemos e me torno prisioneira disso?

O amor pode ser fictício, mas eu queria tanto viver isso.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Só tinha medo a tal Joana de Santo Cristo

Lembro como se fosse hoje o término do Ensino Médio. Foi uma tristeza profunda. Enquanto todos os meus amigos do colégio já tinham planos para dominar o mundo, eu não tinha a menor ideia do que eu seria, visto que já tinha crescido. E assim começava meu Faroeste Caboclo pessoal.

Achava/acho de uma sacanagem sem fim pedir para alguém que mal consegue pagar seu lanche, escolher o que deve fazer pela vida toda.

É mais ou menos assim: "Te sustentamos atá agora. Agora é com você. Se vira, neguinha!".

Na época eu fazia curso de inglês com uma professora super gente boa. A Lu era descolada, ia nas melhores festas, falava inglês fluente, tinha viajado pra danar, e escrevia para a Revista Dynamite. Era muita coisa "cool" para um ser humano só. Pronto, estava decidido - jornalismo.

Eu nunca fui um gênio. Lembro de mais ter cabulado aula do que estado dentro de uma sala de aula. Tirava boas notas porque alguma entidade divina iluminava meus pensamentos. 
Vivia uma época rebelde como a maioria dos adolescentes. Mas o meu rebelde era bem levado a sério. 

E no maior estilo cigarra, esperei o vestibular. Esperando que as entidades divinas não me abandonassem. 

Minha mãe tentou direcionar minha vida dizendo que eu deveria fazer Faculdade de Direito. Me inscreveu para tudo quanto foi  vestibular. De preferência os baratos, bons e extremamente difíceis de passar sem preparo de uma vida. 

A última inscrição foi feita por mim. Lembro dela me dando os R$ 90,00 para inscrição no Mackenzie. Chegava a ser piada ela achar que eu passaria em Direito no Mackenzie.
Vi a relação candidato/vaga e resolvi que isso não teria a menor chance. Não pensei duas vezes, assinalei Publicidade e Propaganda.  Para surpresa do universo, eu passei. E, para a minha surpresa, a resposta da minha mãe foi taxatória "Não tenho a menor condição de pagar por este curso". 

Ou seja, a única faculdade que passei, não poderia fazer. E o conselho dado foi "Trabalhe e pague pela Faculdade". Trabalhar? Como? O que eu sei fazer?

Voltei ao colégio e fiz Magistério. Vou dar aula e pagar pela minha faculdade.
E, com o salário MARAVILHOSO de professora, não pude pagar lá grande coisa. Acabei fazendo Rádio e Televisão. Curso novo e barato, e na área que me interessava - Comunicação Social.

A gente acha que vai ser fácil. Passei a faculdade inteira buscando estágio. Deixei currículo (sim, na época você entregava pessoalmente) por toda a Av Paulista, onde havia uma concentração enorme de rádios. Eu só queria uma oportunidade. Na época nem pensava em salário.

Terminei a Faculdade, nunca estagiei.

No final das contas fiz um curso que nunca utilizei pra nada. 

E, a vida acaba te ensinando outras coisas, e você acaba trabalhando naquilo que não tem ABSOLUTAMENTE nada a ver com o que você gostaria de fazer. 

O tempo passa, e nunca é fácil responder "O que você vai ser quando crescer?"




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Opinião - Em cima do muro.

Eu sou de um tempo em que para formar uma opinião sobre qualquer coisa, precisava ler, pesquisar, ver várias vertentes sobre o assunto. Enfim, dava um puta de um trabalho ter opinião sobre alguma coisa. Defender um ponto de vista então, a vida toda.

De uns tempos pra cá venho lendo comentários nas redes sociais. E, no meu momento Ivete penso: "Quem é essa aí, papai? Cheia de opinião!".
Liberdade de expressão! Esta frase sempre é o mote para um derramamento sem fim de palavras. Não sei, ainda sou do tempo do "Não tenho opinião formada".
Credo! Coisa chata este negócio de ter opinião sobre tudo. Esta formação globalizada que nos dá direito a opinar sobre: economia, política, futebol, religião, moda, culinária, veterinária, medicina holística e qualquer outro assunto. A gente anda muito profundo conhecedor do mundo.

Temos opinião, mas também perdemos a atitude. Protestar na rede social é fácil. Eu sento no meu sofá, abro uma página e escrevo, escrevo, escrevo até cansar. Talvez no dia em que as pessoas, inclusive eu, falarem menos e fizerem mais, talvez, as coisas melhorem.

Você é em cima do muro, dirão os radicias. Sim, sou em cima do muro. E é de cima deste muro que tenho a oportunidade de ver os dois lados. E, espero em Deus, que eu continue em cima deste muro aconteça o que acontecer.

Uma boa vida pra você.

E, depois de um longo, longo, longo, longo, infinitamente longo, inverno, desintoxicação completa.
Fiz de tudo. Chorei, me joguei no chão, desci paredes ouvindo músicas tristes, falei incansavelmente sobre o assunto. Foi um ano e meio de chateação. E, hoje me dei conta que não dói mais.

A gente fica chorando o defunto e não deixa que a terra leve os restos mortais. Fica ali numa velação cansativa porque é assim que o ser humano é.
Depois de um tempo a gente se dá conta que foi embora. Quando chega é um arregaço. Festas, fogos de artifícios, planos, ideias, pensamentos constantes, mas pra ir embora a entidade demora. E fica se a gente não deixar ir.

Eu sempre fui a pessoa que gasta. A pessoa que vai ao fundo do poço da dignidade. Aquela que arruma desculpas para o "Hoje ele estava ocupado" "Ah, não respondeu porque não deu tempo" "Não ligou porque deve estar um dia corrido".
Sábio Xico Sá e vovô Nelson sempre dizem "O homem que quer, dá um jeito". Dá seus pulos, eu diria.

Não é demérito nenhum tomar o gole amargo da decepção. O pé na bunda ensina. Faz com que nos sintamos vivos. Deixa uma marca, mas o tempo sabe das coisas e tira a marca sem deixar muitos arranhões. Mas machucado nenhum vai embora sem cicatrizes. E são elas que nos fazem contar as melhores histórias do boteco.

Olha, cara oferenda, eu fiz o que estava ao meu alcance. Até esqueci que tinha orgulho. Estava lá bem quietinha quando você apareceu, e eu sabia que só poderia dar merda. Deu.
Agora estou lhe devolvendo para o oceano. E não poderia fazer a devolução sem endereçamento e testemunhal escrito para que eu lembre que lhe devolvi para o oceano.

Vá, oferenda. Encontre Iemanjá. Seja feliz a sua maneira. Viva muitos e muitos anos da maior felicidade.
Nunca fui das que desejam o mal alheio. E isso nem você, nem ninguém vai tirar de mim. Afinal, coisas boas atraem coisas boas.

Lições de casa mais que feitas.
Não espere nenhum contato para alimentar seu ego.

Um dia eu iria sumir da sua vida. Sei que é triste pra você, pois é tão bacana ter alguém que nos ama, né? Mas deu uma cansada. Ninguém vale tanto esforço.

Bom, este foi o último texto, o último suspiro. Coloquei você no barquinho, e já vejo ele bem longe, quase sumindo no horizonte.
Sem choro, nem vela, nem a tal rosa amarela.

E, termino com  clássico dos meus términos afetivos "Lhe desejo uma boa vida".

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sou paulista.

Eu disse que era paulista.
Você disse que paulistas não gostam de cariocas porque somos invejosos.
Em apenas 5 segundos conseguiu minha antipatia. E sincera que sou (não é uma qualidade), logo joguei na sua cara "Não gostei de você, sabia?". E você riu de mim.

Dali por diante virou uma briguinha infantil de alguém que sequer era carioca, aliás, de alguém que sequer era brasileiro, contra os paulistas.
E, sabe de uma coisa? Essas briguinhas sem sentido me divertem.

Deixei você pegar na minha mão. Sou boa moça. Deixo no máximo pegar na mão. Mas é carnaval, dizia você. E minha resposta era: E daí? Sou paulista, lembra? Somos conservadores.
Um dia deixei que me desse um beijo na bochecha. Você tentou mais. Mas como boa paulista que sou, já achei que fomos longe demais.

Um dia, já irritado do jogo, tentou me beijar. Deixei só um pouco, para logo depois afastar. Afinal, paulistas não ficam de pegação na rua.

No dia seguinte te deixei horas me esperando. Você não tinha marcado nada. Achou que me encontraria. Lembre-se paulistas marcam horário, e são bem responsáveis com isso. Como não tínhamos marcado, lhe deixei esperando. E, para minha surpresa, depois de horas, lá estava você esperando.
Disse que seria somente uma cerveja, pois tinha compromisso com o carnaval logo cedo. Você aceitou. E, paulista que sou, cumpri a promessa - uma cerveja.
Você argumentou que tinha esperado horas, mas não funcionou, sou paulista.

Sei que foram alguns dias deste chove não molha. E você foi persistente. Diria que "Foi brasileiro". Aliás, lhe disse isso algumas vezes.
E, com tanta oferta, com tanta mulher, com tantas coisas acontecendo, me surpreendeu tamanha devoção.

Ao contrário do que pensam, gosto do carnaval por "n" motivos, e a pegação desenfreada não é um deles, acredite quem quiser.

E, não fazer parte da pegação desenfreada foi a melhor opção. Pude conhecer pessoas de verdade, conversar, rir e fazer novos amigos.

Amigo gringo, você foi brasileiro. E, no final, sabe que foi a melhor coisa?
Não deu para pegar a mala e ir embora com você.
Vou te visitar uma hora dessas. Mas com tudo mais organizado, sabe como é...sou paulista.



quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Fácil se perder...

É bem fácil se perder.
No meio de uma pilha de papéis, no meio de um turbilhão de sentimentos ou em meio a diversas perguntas que muitas vezes não fazemos ideia de quais são as respostas.
Então, no resumo, é bem fácil se perder em algum caminho. Parar no meio, ou simplesmente nem iniciar jornada alguma.
É fácil sentar em algo cômodo e reclamar todos os dias. Aliás, o ser humano é expert em reclamar e fazer o que chamo de "culpabilização". Culpar o outro por nossas escolhas, culpar pela infelicidade, culpar porque deixamos de fazer algo, ou porque fizemos. Apontar o dedo para o outro é muito simples. E neste processo todo, é bem fácil se perder.

A expetativa, plano, seja lá  o que se decida fazer, não pode e nem deve passar somente pelo outro. Sim, ele deve fazer parte. Somos seres sociáveis, e ninguém vive numa bolha, apesar de muitas vezes querermos isso. Mas o outro não deve ser o ponto inicial, nem o final.

Um emaranhado de "se" estagna a vida e nos cega do que realmente queremos ser/viver/estar.Tomar decisões, fazer escolhas, desistir de algo, nunca é fácil. Fácil mesmo é julgar os outros e fazer isso pelos outros quando as consequências não estão diretamente ligadas à nos tirar de nossa zona de conforto. Difícil é assumirmos a vida que temos e fazer dela o que realmente queremos.

Viver é um dom divino repleto de livre arbítrio. Podemos fazer disso o que queremos, mas muitas vezes não temos ideia do que seja isso. A liberdade pode assustar e estagnar. Ter tanto pra ver e viver, e ter medo de dar um passo adiante.

Não existe receita. Pode procurar no Google "Receita de vida", nenhuma vai estar adequada à você. Cada um escreve sua história da forma que mais lhe convém.
Não culpe as pessoas por suas escolhas. Não condicione sua vida à vida do outro. Isso não é, e nunca será, egoísmo. Egoísmo é não seguir em frente e passar a vida toda culpando alguém por não ter lhe dado a permissão de viver a sua vida.

O ato de seguir em frente é um ato de coragem. Só conseguimos fazer alguém feliz quando estamos felizes.
Lembre-se, é bem fácil se perder, assim como é bem fácil culpar o outro. Pode não ser hoje, amanhã, nem num futuro próximo, mas olhar pra trás e ver o tempo perdido por rancor, mágoa e insistências inúteis, é um desperdício de vida.

É fácil se perder. Difícil é fazer o exercício de vida seguindo em frente e respeitando o outro.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O quê cabe na vida

Faz um mês que estou no que chamamos "mercado de trabalho".
E, desde então, passada a euforia do "Então é Natal e Ano Novo também", iniciei uma jornada interna de entender o quê realmente é importante e faz sentido.

Somos programados para a rotina. Quer dizer, eu fui.
Acordar, trabalhar, voltar para casa morta de cansaço, puta com o trânsito, com as pessoas, com o mundo, com a falta de tempo, com a comida excessiva para domar a ansiedade e etc. Estava acostumada a reclamar.
E, quando me perguntavam "Como você está?", nunca sabia exatamente como responder. Porque aquilo tudo era uma imensa bola de neve diária que me consumia constantemente. E eu?

O final de semana era o oásis no meio de muitas coisas. Felicidade miojo. Só que estava tão cansada, que a maior alegria era poder dormir muito, assistir algum filme, série ou seja lá o que fosse. A preguiça me consumia tanto, que o convívio com amigos, família e etc, era obrigação. O famoso EU PRECISO fazer isso, EU PRECISO ligar para minha mãe, EU PRECISO sair com o pessoal. Porque tudo durava somente 2 dias, e depois disso, voltaria à rotina. Teria mais segunda, terça, quarta...

Não estamos acostumamos ao ócio. Não estamos acostumados ao "não fazer". Sempre precisamos fazer algo para nos sentirmos úteis.
Confesso que este processo não tem sido fácil.

Lembro que em fevereiro de 2014 eu tinha decidido tirar um ano sabático e ir à Índia. Pensar, meditar, viver com menos, mais simples, mais humana e etc. Não funcionou.
O universo é sábio. Eu não estava preparada. Assim como não acho que esteja agora.
Não precisei ir à Índia. Tenho vivido minha Índia pessoal diariamente.
É impressionante como entupimos a vida de coisas, compromissos e tralhas que não precisamos.

A cultura do "Eu mereço" nos cega. Trabalhei muito, eu mereço um doce. Trabalhei demais, eu mereço comprar esse carro. Desculpas mil para consumir.

Eu acho que a gente merece tão mais do que somente os bens materiais. Hoje eu penso "Eu mereço um abraço de alguém bem especial pra mim", ou "Eu mereço fazer uma caminhada num dia de sol".

Não preciso de uma bolsa cara, ou um sapato de grife para viver melhor.  Os quereres mudam um pouco.
Acorde, respire profundamente, agradeça por estar viva e com saúde.

Agradecer todos os dias por ter a oportunidade de aprender novas lições.

Tentando entender um pouco do que Cora Coralina quis dizer com "Fechei os olhos e pedi um favor ao vento. Daqui pra frente levo apenas o que couber no bolso e no coração".

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

E o mundo vai ficando careta...

E o mundo fica mais careta hoje.

O mundo ficou órfão. A frase "Ninguém é insubstituível" não faz o menor sentido quando o assunto é David Bowie.

A história dele você encontra nos sites, nos livros, no mundo. Não preciso citar tudo que ele fez. E, nem cabe em um único post.

Quero simplesmente agradecer a contribuição do gênio David Bowie.

Em 1986 foi lançado o filme Labirinto. E, neste filme, foi a primeira vez que eu vi David Bowie. Simplesmente apaixonante. Decorei as falas, as músicas, e foi durante muito tempo meu filme favorito. Lembro que fazia contas para saber em qual idade eu poderia casar com ele. Coisas infantis que não esqueço. Bowie foi minha primeira paixão platônica.

Já na adolescência, ele apareceu no livro Christiane F. Lia o livro sempre ao som de David Bowie, nada combinava mais com aquele livro.

Durante anos, nos bares do bairro do Bixiga, dancei com bandas covers "Let´s dance". Era uma das minhas favoritas para dançar até cansar.

Em 1997, não vi Bowie. Chorei, me joguei no chão, mas nada convenceu. Sem grana, e sem muita idade. Bowie passou, e eu não vi. Mil chibatadas no lombo por isso.

O show da minha banda favorita, U2, começou com Space Oddity. Todos os pelos dos braços, pernas e demais lugares arrepiaram-se. Uma canção que me dá calafrios toda vez que toca.

Bowie pra mim sempre foi o submundo. Letras que traduziam sentimentos confusos e profundos.
Um grito de liberdade num mundo bem careta e moralista. Androgenia em tempos que as pessoas querem se afirmar. Sem afirmação, e tão presente. Em sua confusão, éramos parceiros. Ele traduziu durante muitos anos da minha vida os meus sentimentos.
Sempre houve uma letra do Bowie que representasse exatamente um momento importante.

Lembro de uma noite no interior de São Paulo em que eu dizia "Meu sonho é correr pelada no meio do mato. Correr pra lugar algum. Correr, correr, correr. Por nada, só correr". Coisas bizarras de uma juventude esquisitamente bem aproveitada.
E, em uma noite de lua, não tive dúvidas. Pedi para pararem o carro, deixei minha roupa lá dentro e sai correndo.
E, enquanto eu corria no escuro - sim, um pouco alterada - pensava "We can be heroes!". E cantei essa música como se não houvesse amanhã. Sentimento de liberdade tremenda. Sem sentido algum. Ninguém é herói por correr pelado. Mas naquele momento em que faz algo inusitado, sem pensar, a sensação é de que "We can be heros just for one day..."

Fiz mais dessas bizarrices ao som de Bowie. Acho que muitas das coisas bacanas que fiz, propositalmente, fiz questão que ele fosse a trilha sonora. Porque ele sempre significou liberdade.

Obrigada, gênio. Fico agradecida pelo legado que você deixou. E saiba que ainda ouvirei muito suas músicas, e espero que elas façam parte de muitos outros momentos da minha vida.
Se eu casar, o trato ainda continua de pé. Vai tocar Bowie.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Pausa para a selfie

Não começarei uma tese de Doutorado sobre de onde viemos e pra onde vamos, e tudo mais. Tem muita gente incrível fazendo isso. E, não estou nesta lista.

Hoje eu estava no hospital, e ao meu lado tinha uma mãe com o filho aparentemente com alguma virose. Sim, sou formada em Medicina, e sei que o médico dirá que é virose, sempre é.

Enfim, não suporto ver criança doente. Fiquei ali olhando o fofinho um tempo. Ele olhou pra mim, deu um risinho. Adoro quando eles fazem isso. Fiz cara de tonta e ele riu de novo. Ficamos neste namorico um tempo.
E nesta relação que construímos, em um curto espaço de tempo, estava bacana pra gente.

De-re-pen-te!!!!! Assim separado pra dar emoção...A mãe do moleque arruma o cabelo, saca o telefone da bolsa e começa a tirar uma selfie. Assim, do nada. Não tem paisagem, não tem ninguém curtindo a vida adoidado, não aconteceu nada que merecesse uma foto. Sim, Brasil, ela tirou uma selfie dela e do filho doente.
Consigo imaginar a legenda - Se sentindo preocupada - Em Hospital Cema. E consigo ir muito além neste drama. Amigos, amigas, gente que ela não vê desde o Ensino Fundamental, comentando a foto "Força, amiga!" "O gatinho vai ficar bem" "Deus no comando", e tudo aquilo que já estamos cansados de ler.

Sei que dali em diante, eu e o moleque continuamos nosso joguinho dos risos e caretas enquanto a mãe dele respondia os comentários do Facebook.

Eu uso rede social, e gosto. Me divirto, mato o tempo, leio piadas, gosto das opiniões diversas, dos rumores políticos, das brigas, intrigas e indiretas de amores que terminaram, dos casais novos e apaixonados que vão terminar em 50 dias úteis, da felicidade fake de casais que estão na merda, mas gostam de manter as aparências e tudo que tem neste mundo virtual.
Comento, posto fotos, cuido da vida alheia (e não sou recalcada) faço isso como todo e qualquer ser humano. Mas ainda não consigo entender alguém que prefira ficar nas redes sociais, ao ficar com o filho doente esperando ser atendido no Hospital. E, ainda acho péssimo quem exponha desta forma. Minha opinião, ok?

Juro que tentei não julgar, mas foi impossível.

O menininho deve estar bem, certeza que era virose.