domingo, 17 de abril de 2016

Quando você segurava minha mão.

Eu lembro que andávamos de mãos dadas. Dizíamos que seria para todo o sempre. E pra mim, o todo sempre era infinito.
Um dia descobri que o "pra sempre, sempre acaba", como já cantou Cássia Eller.
Eu não sei quem errou. E acredito que ninguém tenha errado. As coisas acontecem como elas devem acontecer, a gente queira, ou não.

Eu estava ali sentada olhando você à distância, e percebi que meus olhos já não te viam da mesma forma. O meu coração não te sentia da mesma forma. Mas você estava ali o tempo todo, ao meu lado, sabendo meus gostos, manias, medos, amores e desamores. Você fez parte de tantos momentos da minha vida, que por mais que meus olhos não te vissem mais com o mesmo amor, eu não queria te perder de vista.

E ali você ficou por anos, como um móvel, como algo físico que compõe o quadro da minha vida.
E se eu não encontrar alguém que me conheça tanto quanto você? E se tudo que imagino que seja o mundo lá fora seja só ilusão? É tranquilo ao seu lado. Brigamos às vezes, às vezes brigamos muito. E, de uns tempos pra cá, nem forças para brigar temos mais. Mas e se for tudo ilusão? E se for tudo uma vida imaginada que não existe e eu esteja jogando pela janela a companhia da minha vida?
O que fizemos com a gente? Quando foi que deixamos as coisas se perderem?

Você me cobrou carinho, atenção, e eu estava ali ao seu lado o tempo todo, e você sequer percebeu que eu já não era mais a mesma. Caminhei ao seu lado de mãos dadas, até que um dia, você largou minha mão, começou a andar na frente, e eu ainda te segui o quanto pude. Mas aí eu cansei, e você tomou distância, e hoje não te vejo mais.
Orquestramos uma rotina cômoda pra mim, pra você, pra gente. Vivemos uma felicidade de propaganda com pessoas ao nosso redor que querem ser como a gente. Mas quem somos?
Já não somos mais o casal jovem e promissor que se ama. O quê somos nós?

E se eu não souber ser outra coisa? E se eu não conseguir encarar a vida sozinha?

Colocamos móveis, amigos, família, planos, viagens, e tudo que podemos colocar, colocamos no quadro da nossa vida. E mesmo assim, parece que estou apenas distraindo da minha mente. Enganando meu coração para que ele se contente com isso, porque é assim que a vida é.
Será que existe mais? Será que estou querendo demais?

Hoje eu sei que te amo. Sei que a vida não seria a mesma sem você. Mas também sei que a vida com você não é a vida que eu quero. E este meu amor, ah, este meu amor, não é o amor que eu imaginei que tivesse pra toda vida.

Segure minha mão. Quero sentir aquele frio na barriga e a vontade de estar com você.
Hoje te amo, mas não sei se é suficiente para nós dois. Dê um passo porque eu não consigo mais dar passo algum. Alguém nos salve. Alguém faça alguma coisa porque estamos lutando por convicções que sequer acreditamos. Mas como deixar-te se amo o cotidiano que fizemos e me torno prisioneira disso?

O amor pode ser fictício, mas eu queria tanto viver isso.