E, depois de um longo, longo, longo, longo, infinitamente longo, inverno, desintoxicação completa.
Fiz de tudo. Chorei, me joguei no chão, desci paredes ouvindo músicas tristes, falei incansavelmente sobre o assunto. Foi um ano e meio de chateação. E, hoje me dei conta que não dói mais.
A gente fica chorando o defunto e não deixa que a terra leve os restos mortais. Fica ali numa velação cansativa porque é assim que o ser humano é.
Depois de um tempo a gente se dá conta que foi embora. Quando chega é um arregaço. Festas, fogos de artifícios, planos, ideias, pensamentos constantes, mas pra ir embora a entidade demora. E fica se a gente não deixar ir.
Eu sempre fui a pessoa que gasta. A pessoa que vai ao fundo do poço da dignidade. Aquela que arruma desculpas para o "Hoje ele estava ocupado" "Ah, não respondeu porque não deu tempo" "Não ligou porque deve estar um dia corrido".
Sábio Xico Sá e vovô Nelson sempre dizem "O homem que quer, dá um jeito". Dá seus pulos, eu diria.
Não é demérito nenhum tomar o gole amargo da decepção. O pé na bunda ensina. Faz com que nos sintamos vivos. Deixa uma marca, mas o tempo sabe das coisas e tira a marca sem deixar muitos arranhões. Mas machucado nenhum vai embora sem cicatrizes. E são elas que nos fazem contar as melhores histórias do boteco.
Olha, cara oferenda, eu fiz o que estava ao meu alcance. Até esqueci que tinha orgulho. Estava lá bem quietinha quando você apareceu, e eu sabia que só poderia dar merda. Deu.
Agora estou lhe devolvendo para o oceano. E não poderia fazer a devolução sem endereçamento e testemunhal escrito para que eu lembre que lhe devolvi para o oceano.
Vá, oferenda. Encontre Iemanjá. Seja feliz a sua maneira. Viva muitos e muitos anos da maior felicidade.
Nunca fui das que desejam o mal alheio. E isso nem você, nem ninguém vai tirar de mim. Afinal, coisas boas atraem coisas boas.
Lições de casa mais que feitas.
Não espere nenhum contato para alimentar seu ego.
Um dia eu iria sumir da sua vida. Sei que é triste pra você, pois é tão bacana ter alguém que nos ama, né? Mas deu uma cansada. Ninguém vale tanto esforço.
Bom, este foi o último texto, o último suspiro. Coloquei você no barquinho, e já vejo ele bem longe, quase sumindo no horizonte.
Sem choro, nem vela, nem a tal rosa amarela.
E, termino com clássico dos meus términos afetivos "Lhe desejo uma boa vida".