Ela entrou no ônibus toda estabanada. Segurava o celular com o rosto, pegava alguma coisa na bolsa. Derrubou uma sacola no meu colo, tentou pedir desculpas, mas a pessoa do outro lado da linha atendeu o telefone.
- Alô?
- Você está me ouvindo?
- Só quero saber uma coisa. Onde você está?
- Onde você está?
- On-de vo-cê es-tá?
- Que bom, Carlos. Nem me esperou.
- Sabe, eu vou te abandonar. Estou de saco cheio de você.
- Carlos? Carlos? Não mente, porra. Onde você está? Pode falar a verdade.
- E onde fica isso?
- Sei, sei...
- Que horas você chegou aí?
- Mentiroso. Liguei no seu escritório às 17:00 e você já tinha saído.
- Carlos, quem está com você?
- Carlos, quem está com você?
- Alô? Alô?
Desconfiei que Carlos havia desligado o telefone na cara dela.
Ela não contente, ligou de novo.
- Caixa Postal, filho da puta. Carlos, se você pensa que pode desligar o telefone na minha cara, está muito enganado.
O Carlos até que foi paciente. Eu já teria desligado bem antes.