Um dia você começa a trabalhar numa empresa grande, milhares de funcionários. E apesar de te encherem o saco, você é apenas mais um entre os milhares.
E é neste momento que eu penso. Se eu sou só mais uma, qual a razão das pessoas quererem tanto puxarem o meu tapete?
Eu tinha uma visão muito rosa bebê do mundo. Acho que os anos na Ilha da Fantasia (meu antigo emprego) me fizeram mal. Descobri que não sei me defender.
Eu sempre achei que pessoas más eram apenas personagens de filmes. Doce engano.
Existe gente que quer te ver pelas costas, que faz de tudo para te ferrar, e o pior, finge que te adora. Sorri para você todos os dias, lhe deseja um ótimo dia, e na sua frente, com um sorriso bem amarelo, te fode. Isso quando não te apunhalam pelas costas.
E depois dessas experiências, comecei a odiar pessoas que vivem sorrindo para todos. Sabe algo meio comissária de bordo? O avião vai cair, todo mundo vai morrer, e a mulher continua esboçando o melhor sorriso.
Eu apelidei este "delicioso" personagem de "Comissária Naja".
E eu tenho uma Comissária Naja bem ao meu lado.
A filha da puta me chama de Vivi, quero morrer com isso. E todo dia ela me deseja um excelente dia.
Semana passada eu atrasei alguns relatórios. Estava meio perdida e acabei esquecendo de mandar o relatório para a comissária. Ela sorriu e me cobrou:
- Vivi, faltou o seu relatório para eu fechar o consolidado.
- Putz, me esqueci. Já te mando.
E assim fiz. Em cinco minutos mandei para o e-mail dela.
Três minutos depois chega um e-mail com cópia para todos os meus "parceiros" de trabalho, inclusive meu chefe.
"Queridos, segue o consolidado. Desculpem a demora, é que tive que cobrar a Vivi".
A filha da puta manda um e-mail desse, e ainda tem a coragem de me chamar de Vivi.
Internamente soltei duzentos palavrões. Olhei para o lado e sorri para a comissária. E o sorriso dizia: Morra de sífilis ou lepra, você pode escolher.
Meu chefe não perde a oportunidade, e delicadamente responde o e-mail.
"Porra, vocês não fazem nada se eu não cobrar?"
Nem respondi o e-mail.
Sabe, estou contaminada. Tento ser uma pessoa melhor e não sentir ódio mortal das pessoas, mas tem horas que é difícil.
Comprei o iogurte que ela gosta. Ardilosamente inseri laxante. Por duas vezes pensei em dar para ela a dose cavalar de remédio. Mas não dei. Enxerguei a luz. Não posso agir com as pessoas da mesma forma que elas agem comigo. Se todo mundo resolve ser vingativo, não sobra um naquela empresa.
Quando eu estiver lá no céu, e lá de cima eu vê-la no inferno, internamente vou sentir uma satisfação absurda. Mas não moverei uma palha para me vingar.