terça-feira, 26 de agosto de 2014

Ela

Não sei se são as covinhas que ela tem ao sorrir. Ou aquele olhar de espanto quando eu digo coisas agradáveis em seus ouvidos. Ou as diversas pequenezas delicadas que observo em cada pedacinho dela. Não sei bem em qual momento eu olhei para ela e percebi que ela era ELA. Assim, com letras maiúsculas, garrafais, gigantes, como a vontade que tenho de me perder nela, e só nela estar.

Só sei que ela não ouviu de mim. Mas já sabe que sem ela o dia fica mais cinza e chuvoso. Falta ela nos meus dias. Porque quando estou com ela, o mundo começa a fazer um pouco de sentido.

Ela me olha de um jeito. Aliás, ela tem um olhar exclusivamente dela, que sei que só usa comigo. Porque sabe que com aquele olhar, conquista tudo que quer de mim.

E eu, que nunca fui poético, me perdi nela. Usei palavras que desconhecia em grafia e sentimento. Um turbilhão de ela. Ela. E eu só penso nela. Desde a hora que levanto até o adormecer. E mesmo ao adormecer, eis que sonho com ela. Sonho com riqueza de detalhes: cheiro, voz, textura da pele, coloração dos cabelos, as unhas pintadas de esmalte escuro, e todos os detalhes dela que já estão registrados na minha alma.

Ela sabe que tudo mudou com a chegada dela. Ela sabe que o meu mundo ficou mais colorido com ela. Ela sabe. E ela fica mais ela, ao fingir que não percebe tudo que eu sinto. Faz parte deste jogo juvenil que estabelecemos.

E que ela continue sendo ela, o tempo que quiser ser ela.
Que reclame! Que maldiga a vida, e bendiga no minuto seguinte! Que escreva enlouquecida as melhores, e as piores cartas de amor! Que use do bom humor para me conquistar! Que leia muitos livros para me seduzir! Que goste de coisas que me interessam só para me agradar!

Saiba, ela, eu faço o mesmo. E que o jogo continue. E que meus dias tenham muito dela.


*Texto achado de um "admirador".


domingo, 24 de agosto de 2014

Você sente amor, paixão ou carência?

Existe um teste para saber isso. E sim, eu comecei a fazer. Antropologia. Sempre uso a antropologia como desculpa para pesquisas imbecis.

Mas todas as mulheres do universo, em algum momento da vida, fez um teste de revista. E se não fez, não é mulher. Porque mulher que é mulher, já fez teste da Cláudia, Capricho, Atrevida, ou seja lá qual for a revista. Nem que seja por gozação. Afinal "Que personagem da Glória Pires você é? " não é um troço a ser levado a sério.

Cheguei ao teste com esta dúvida. Carência, amor, paixão ou o quê?
O que está acontecendo? Cantei músicas do Balão Mágico, Trem da Alegria, e tudo que me lembrava do amor, paixão, para encontrar uma explicação.

"Cola seu retrato no meu, pra ver se cola", lembra? - Trem da Alegria, pô.
Nada. Nenhuma iluminação.

Como saber de uma coisa dessas?

Na vida real não existe teste que dê jeito. Não tem livro com resposta. E não adianta jogar no Google porque não virá nada que resolva este dilema.

Agora não sei que diabos é. Só sei que penso o dia todo neste homem.



Divagações de um sentimento feminino

Decidido. Um sonoro e do fundo do âmago "Puta que o pariu" faz bem para o moral, como diria Rita Cadilac. E diria isso rebolando. É bom para o moral.

Sei que é feio desejar que as pessoas se fodam. Mas desculpe, universo, eu não sou perfeita. Desejei.
E já diria o sábio Seu Madruga "A vingança nunca é plena. Mata a alma e envenena". Rita Cadilac, Seu Madruga, estou bem de gurus.

Mas no fundo da alma imunda do ser humano, em algum momento ele quer que o fulano sofra (ao menos um pouquinho só), o que sofremos em quilos. Acho justo, acho digno, acho correto. E sei que um dia, quando o garçom da foice chegar com a conta, pagarei cada centavo deste meu lado ruim. Mas gargalhei. Desculpe, gargalhei.
Nenhum filha da puta sairá da Terra impune.Que na próxima vida o cacete! Quero que paguem nesta mesmo. E com juros, please.

Então foi isso, vi você paradinho, malinhas sendo colocadas no carro. Fiz questão de ver. E que vá. Vá chorar no cantinho da desilusão, no recôncavo do chifre. Assine seu nome na imensa lista  da cornidão que todos nós, se não assinamos, assinaremos um dia. Porque a vida é assim.

Seu nome está riscado do meu caderninho de acompanhamento. Sim, eu tenho um. Anoto o nome e aguardo a queda. Não movo uma pena. Só acompanho, e quando acontece, normalmente estou por perto para presenciar. Não gasto energia fazendo nada além de observar de longe. Porque se tem um troço que funciona, é a lei do universo.

Ok. Agora só falta um. E tenho dito.

Boas respostas.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Otto Lara Resende

Graças ao Nelson, O Rodrigues - me encantei pelo Otto Lara Resende. De tanto ler crônicas do Nelson referindo-se ao Otto, cheguei ao Otto (já gastei tudo do Nelson). De uns tempos pra cá tenho lido o Otto. E Otto virou meu amigo, já não uso mais o sobrenome. Assim como é com Nelson, Xico, João, e muitos outros autores que gosto. 

Mas dizia eu que estava lendo Otto hoje pela manhã. Bem, nem sei se disse, mas agora está dito.

Ele tem uma crônica chamada "Vista Cansada", e eu gosto demais dela. Surrupiarei um teco.

"Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo". 


E depois de ler isso, fechei o livro e comecei a ver - vendo. E o que eu vi? Um monte de gente que vê - não vendo!


Já notaram que as pessoas no metrô andam como morcegos guiados pelo som? Deixa eu explicar. Abrem as portas da estação, as pessoas saem mexendo no celular, lendo, com a cara pra cima, menos olhando -vendo. Entende?

Guiam-se pelo som, pelo cheiro, sei-lá que cacete é isso. Mas é assim. 
E no metrô você pode olhar pra geral, pode olhar mesmo, porque NINGUÉM olha para ninguém. 

E foi assim da Ana Rosa até o Tietê. Eu olhando-vendo, e  ninguém notando. E isso, no meu âmbito de retardo, me fez rir. E eu rindo, e ninguém notando. Passei do riso à incredulidade. Da incredulidade à solidão profunda. Isso tudo da Ana Rosa ao Tietê. Uma vida de observação em algumas estações do metrô. 


Em dado momento pensei em chorar. Mas de nada adiantaria meu pranto de mocinha da novela das 20h. Ninguém faria nada. Estavam hipnotizados. Foram abduzidos, não sei. Só sei que não existe vida no metrô de São Paulo. Ninguém olha ninguém. É uma massa teleguiada por algo que não achei explicação.



Brilhantemente Otto disse exatamente o que eu senti.


"O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença".

A palavra com A

Às vezes é melhor não pensar. Simplesmente não pensar. Não pensar, não sentir, não fazer nada.
Há palavras que foram deletadas do meu dicionário pessoal. Tem uma que só de pensar, me faz ter vertigens. Parei com isso faz tempo.
Acho que a última vez que fiz uso dela, se não me engano, foi lá em 2004. Ou seja, 10 anos.
E, se usei recentemente, foi com algum desdém. E como diria minha sábia mãe "Quem muito desdenha..."

Desdenhei de você. Desdenhei com classe. Desdenhei com piada e piedade dos que ousaram usar a palavra. E mais desdém tive de quem acreditou. E foi pelo desdém, que deixei de usar.

Ano passado houve um ensaio, uma tentativa falha de recolocá-la em meu dicionário. Mas ela não existe sem outras palavras que, sem querer, a acompanham. E, por não aceitar nada sem ser completo, ela voltou ao desuso total e absoluto.

E ela lá no obscuro buraco do esquecimento que ninguém sabe o nome está a palavra esquecida.
E neste tempo usei: paixão, affair, caso, paixonite aguda, obsessão, questão de honra, ou qualquer coisa que "não valha". Usei todas as palavras que cabiam para as coisas que aconteceram neste período de 10 anos. A parte que coube à este grande latifúndio de vida.

A palavra me bateu à porta esses dias. Lembrei da existência dela. Chegou muito próxima de sair do coração para a boca, mas deu três passos para trás, e voltou ao buraco, já não tão obscuro. Colocou suas primeiras letras para fora do esquecimento. E junto dela, muito próxima, veio outra palavra - esta velha conhecida - chamada medo.

Volte ao seu buraco, amor. Volte pra lá e não ouse mais sair. Não me venha com galhofa depois de tanto tempo.

sábado, 9 de agosto de 2014

Paulo

Às vezes tenho vergonha de dizer que faço trabalho voluntário. São as crianças que fazem um belo trabalho voluntário comigo.
Desde o começo do ano, dedico algumas horas da minha vida às crianças de um abrigo aqui de São Paulo. O trabalho é estimular nessas crianças a vontade de querer ler e escrever.
No meu grupo tem um menino de 9 anos chamado Paulo. O Paulo tem uma dificuldade gigante com o mundo das letras, mas é um profundo conhecedor da vida, mesmo aos 9 anos de idade.

Essa semana ele resolveu me sabatinar sobre os motivos, razões e pormenores de eu ser quem eu sou.

- Tia, você mora sozinha?
- Sim, moro.
- E você acha legal?
- Sim.
- E como você faz quando assiste filmes de terror?
- Como assim?
- Quando você fica com medo, tia. O que você faz?

Fiquei um minuto em silêncio buscando uma resposta para aquela pergunta. O que eu faço quando tenho medo? De verdade não soube responder assim de bate e pronto.
Não tive dúvidas, abracei o Paulo.

- Você abraça quando tem medo, tia?
- Sim, eu abraço.
- Está com medo agora, então?

Abracei mais forte. E ele desistiu de me testar. Percebeu que não teria resposta.

Acho que sim, Paulo. Quando tenho medo, abraço as pessoas que amo. E você, sem querer, já se tornou uma delas.
Os medos mudam com a idade. Eu não tenho mais medo de filmes de terror. Na verdade nem os assisto mais, talvez por não ter vencido o medo. Então, Paulo, eu fujo quando tenho medo.  Ou eu busco refúgio nas pessoas que amo. Forte é você, que perdeu os que amava, e ainda assim tem carinho para dar, vender, emprestar, dividir, multiplicar, e tudo que se possa imaginar.

E cada dia que passo ao lado das crianças, sinto que o trabalho voluntário que elas fazem comigo tem dado resultado.

A menina da mochila mental

Não sei o que tem me dado nos últimos tempos. Mas só tenho vontade de sair correndo. E sair mesmo. Fechar um ciclo, sei-lá. Fazer algo diferente. Viver diferente. Não sentir que passei a vida somente vendo o tempo passar e empurrando as coisas com a barriga.

Já sei tudo que não quero, isso é um bom passo dado. Não quero ser rica, por exemplo. Choquem-se! Pasmem-se! Não tenho essa vontade. Falo por falar, e porque é bom fazer parte do senso comum. Mas não me faria feliz.

O comercial do Pão de Açúcar é uma merda "O que faz você feliz?". Não acho que um mercado com coisas caras  tenha este poder. Mas a pergunta é boa.

E depois de anos, anos, anos, anos e anos, reclamando, sendo ranzinza e vendo a vida com muita ironia, consegui ser feliz. Sim, estou feliz. Milagre? Não sei. Mas se me perguntarem hoje se sou feliz, não pensaria tanto para responder. Felicidade é um estado de espírito interno, diria algum guru da Ásia. Clichê. Clichê verdadeiro e duro de alcançar.

A minha vontade de sair correndo não é mais fuga, como já foi por muito tempo. A vontade é outra. É de ver muitas coisas, conhecer muitas coisas, ver pessoas, conversar com pessoas, ouvir histórias, rir, chorar, me emocionar com coisas pequenas do cotidiano. E tudo isso fora da caixinha. Tudo isso caminhando por aí no mais puro e melhor espírito hippie.

Quero ser feliz hoje, amanhã e depois.

Perguntarão os frequentadores daqui desde 2008: "Xi, ela está amando...Fim de uma lenda urbana da solteirice congênita". Resposta: NÃO estou!
Estou feliz e ponto final.