Às vezes é melhor não pensar. Simplesmente não pensar. Não pensar, não sentir, não fazer nada.
Há palavras que foram deletadas do meu dicionário pessoal. Tem uma que só de pensar, me faz ter vertigens. Parei com isso faz tempo.
Acho que a última vez que fiz uso dela, se não me engano, foi lá em 2004. Ou seja, 10 anos.
E, se usei recentemente, foi com algum desdém. E como diria minha sábia mãe "Quem muito desdenha..."
Desdenhei de você. Desdenhei com classe. Desdenhei com piada e piedade dos que ousaram usar a palavra. E mais desdém tive de quem acreditou. E foi pelo desdém, que deixei de usar.
Ano passado houve um ensaio, uma tentativa falha de recolocá-la em meu dicionário. Mas ela não existe sem outras palavras que, sem querer, a acompanham. E, por não aceitar nada sem ser completo, ela voltou ao desuso total e absoluto.
E ela lá no obscuro buraco do esquecimento que ninguém sabe o nome está a palavra esquecida.
E neste tempo usei: paixão, affair, caso, paixonite aguda, obsessão, questão de honra, ou qualquer coisa que "não valha". Usei todas as palavras que cabiam para as coisas que aconteceram neste período de 10 anos. A parte que coube à este grande latifúndio de vida.
A palavra me bateu à porta esses dias. Lembrei da existência dela. Chegou muito próxima de sair do coração para a boca, mas deu três passos para trás, e voltou ao buraco, já não tão obscuro. Colocou suas primeiras letras para fora do esquecimento. E junto dela, muito próxima, veio outra palavra - esta velha conhecida - chamada medo.
Volte ao seu buraco, amor. Volte pra lá e não ouse mais sair. Não me venha com galhofa depois de tanto tempo.