Cara, eu vou desistir de você. Sei que já disse isso algumas vezes, e não cumpri. Mas me relendo, lendo, e me relendo, decidi hoje que vou desistir de você. Pela enésima vez, diga-se de passagem. Sempre desisto e volto atrás. Mas senti, neste exato momento, que é hora de desistir.
Todo ano que Deus deu, eu me apaixono. Todo ano tem um amor novo, uma esperança renovada, uma história, um cara, um momento apaixonante. Nasci para estar apaixonada. Vou passar a vida inteira apaixonada. Não me queixo.
Sempre me entrego. Me jogo de cabeça. Não faço nada pela metade. É para estar, eu estou. E estou de verdade - inteira. E quando estou sem escudo algum, sem proteção alguma, tomo um tombo. Sempre assim. E não vou mudar. Não mudo mesmo.
Não faço jogo, não tenho paciência para meias palavras...Sou intensa! INTENSA. Mas cansei. Pôxa, eu cansei. Não queria, pois estava gostoso. Mas não dá para ficar apaixonada sozinha. Gosto de paixões correspondidas, isso não abro mão.
A ciranda fechou. Dá uma dorzinha no coração, sabe? Achei mesmo que era você o cara que eu dividiria um pouco da minha vida. Mas não foi desta vez. Pena. Pena mesmo.
Foi bem bom. Bem bom, não. Foi ótimo! Excelente! Divertido! Emocionante! Delícia! But, pero, não consigo mais. Perdi o fôlego. Perdi o tesão. Perdi a vontade.
Não vou discutir a relação. Não vou chorar também. Não vou fazer nada. A tristezinha do que poderia ser e não foi existe, mas não tenho mais forças nem para chorar. Que coisa, não?
Este é um desabafo. Mulheres desabafam, eu não sou diferente. Era o que eu queria te dizer, mas não vou perder mais este tempo. Já falei muitas, muitas, muitas vezes, tipo um disco riscado...Quebrei o disco. Você não vai mais ouvir minhas queixas, meus pedidos de atenção. Não se pede atenção, ela vem de graça. Ela vem porque queremos dar atenção. E, se você não pode, ou não quer. O que eu posso fazer? Pular fora, oras. Amassar a folha, jogar no lixo, e escrever novas páginas.
Valeu. Vou contar pros netos.
Obrigada. Apareça qualquer dia para um café.
segunda-feira, 23 de março de 2015
Saudades do meu pai
Eu não sei onde você está. Faz tempo que não nos vemos, ou
nos falamos. Faz muitos anos, muitos anos.
Hoje me peguei pensando em você. E meu deu uma dor gigante
no peito. Uma saudade que nunca senti de ninguém. Do que você poderia ter sido, do que a gente
poderia ter sido. Nós éramos tão próximos, tão amigos, tão parceiros, aí veio a
minha adolescência, e nos perdemos. Eu
deixei você ir embora sem dizer o quanto eu te amo. Sim, pai, eu te amo. Te amo
muito. Ridículo pensar que agora vai adiantar alguma coisa, que eu vou voltar
no tempo e resolver tudo isso, sei que não. Mas eu precisava tanto dizer isso.
Precisava tanto de você hoje comigo.
Sabe, pai, eu fui uma idiota. Cobrei coisas de você que não
me cabiam. Esperei de você um pai de propaganda de margarina. E você não era
desses, nunca foi. Aliás, a nossa família é bem esquisita mesmo. Eu deveria
continuar te amando pelo simples fato de você ser quem você era, e fim. Mas eu
quis que você atendesse as minhas expectativas. E eu te perdi.
Você me ensinou muitas coisas, e hoje eu sei que eram
importantes. Você via a vida de forma muito leve, e eu não sabia entender.
Cresci. E não me vejo muito diferente de você. Faço coisas que eu detestava em
você, e faço sem o menor peso na consciência. Queria ter a oportunidade de
sentar com você e conversar, conversar, entender sua visão de mundo, entender
um pouco de você. Sem julgar.
Você foi o melhor pai de todos. Eu conto o que fazíamos
quando eu era criança com muito orgulho.
Tenha consciência disso, você foi o melhor. Não quero outro, não troco,
não vendo, não empresto. Você foi o melhor. Mesmo com as brigas, mesmo eu não
concordando, mesmo eu achando que você deveria mudar alguns comportamentos,
você foi humano. Nunca foi o cara perfeito. Mas quem é?
A bicicleta Monark preta enquanto eu esperava uma Cecizinha,
foi um golpe de mestre. Lição: Não se pode ter tudo da forma que a gente quer,
mas podemos nos divertir com o que a vida dá.
A perna de pau. Lição: Tente até cansar. Se você quer
realmente uma coisa, não desista fácil. Lembro que passei um dia inteiro
tentando subir naquilo. Você me desafiou, e eu não sai do quintal enquanto não
consegui.
Família coração. Lição: Barbie é para os fracos. Somos
originais e temos Família Coração. Na verdade não tínhamos dinheiro para
Barbie, mas você vendeu a Família Coração tão bem, que nem me importei.
Você era o cara que na adversidade tinha ideias
mirabolantes. O cara que acreditava nos planos doidos, e tocava em frente. Sem
medo de perder, sem medo de errar, sem medo da vida. Perdeu muito, tomou tombos
gigantes, mas não posso de jeito algum dizer que você não viveu intensamente.
Um brinde à vida. Um brinde à saudade. Me desculpe por ser
lenta e só ter entendido agora quem você foi. Saudades, te amo. Sua filha
primogênita, Viviane.
As diversas mulheres
Ser mulher não é, e nem nunca foi, tarefa fácil.
E a cada dia que passa, quanto mais eu conheço minhas
parceiras de gênero, mais difícil acho.
Não passo, não lavo e não cozinho por obrigação. Faço por
necessidade, e quando tenho vontade (raramente, diga-se de passagem).
Não sou, e nem nunca fui, uma mulher prendada. Não sei
pregar botões de camisas, não sei fazer nenhum arranjo de flores, não toco
piano, não faço massagem, não sei qual é o melhor amaciante, e se não houvesse
máquina de lavar, nem sei o que seria de mim. Ah, também não faço tricô, e não
bordo panos de prato. Se deixar uma criança sozinha comigo, vai nos encontrar
uma hora depois sujas e descabeladas. E ela vai apontar o dedo pra mim, e eu
vou apontar o dedo para ela, como culpada de toda a arte.
Visto este resumo, me peguei pensando. Que tipo de mulher eu
sou? Que mulher é essa que não lava, não passa, não cozinha, e não cuida de crianças
(porque não as teve).
Trabalho 13 horas por dia. Depois do trabalho, quando me
sobram energias, vou para a academia, ou chego em casa e leio algo, assisto um
filme, ou durmo mesmo. A louça pode esperar, a roupa também. A cama não precisa
ser arrumada todo santo dia.
Gosto de cinema, livros, caminhadas, teatro, música, roda de
amigos, discussões filosóficas que não levam a nada. Gosto de contar dramas,
ouvir dramas, apoiar, aconselhar, me sentir útil, rir e fazer rir. Simples
assim. E adoro que seja assim.
Se eu tivesse que trabalhar 13 horas do meu dia, e ainda
fazer tarefas domésticas diárias, cuidar de filhos e etc, não sei o que seria
de mim. E além disso, estar linda e cheirosa para o marido. Que horas vocês
fazem isso? Meu Deus! Minha profunda admiração às mulheres que equilibram os
pratos, cospem fogo, dançam, cantam, representam, e ainda conseguem tempo para
serem doces, e sempre mulheres.
Eu não sei que tipo de mulher eu sou, mas sei as que eu
respeito e admiro. Parabéns às mães, trabalhadoras, esposas e donas de casa.
Tudo isso junto e misturado.
Domingo
Levanta que hoje é domingo. Me dói só de pensar que quando
eu era criança, eu gostava do domingo. Gostava muito. Hoje, quando abri os
olhos, e lembrei que era domingo, tentei
lembrar porque eu gostava deste dia.
Eu abria os olhos, não pensava duas vezes, e saia correndo. Tinha uma disponibilidade atroz para fazer isso. Sem pestanejar, pulava na cama dos meus pais que ainda estavam sonolentos. Nunca recebi nenhum tipo de repreensão por este comportamento. Muito pelo contrário, era bem recebida na cama deles. E começava a cantoria:
"Hoje é domingo, pede cachimbo (eu sempre cantei pé de cachimbo - descobri recentemente a versão correta), o cachimbo é de ouro, bate na gente, a gente é fraco, cai no buraco, o buraco é fundo, acabou-se o mundo!!!!!"
Levantávamos e eu ia com meu pai até a padaria. Tinha as comidas de domingo. Neste dia era possível escolher um sonho para comer mais tarde, e antes do almoço!!! Doce antes do almoço. O pão era fresquinho, e eu adorava mortadela com café e pão fresquinho. E domingo era este dia. Tinha mesa do café. E ficávamos lá um tempão. Depois eu e meu pai íamos brincar, minha mãe cuidava das coisas, e já iniciava os preparativos para o almoço. Sempre massa. Não sei se gosto de massa tanto quanto eu acho que gosto, ou se pela memória afetiva dela.
Vinha tios, tias, primos, primas da minha idade, eu tinha um quintal grande e uma bicicleta. O que mais eu poderia querer da vida?
Meus pais eram jovens, faziam planos de mudar de casa, compartilhavam com meus tios, falavam do meu futuro quarto. Enfim, ali era a perfeição. Não tinha dúvidas de que era feliz. Aliás, criança não questiona felicidade. É feliz e ponto.
Hoje eu acordei com preguiça. Não é habitual. Acordo cedo, disposta a fazer mil coisas do dia. Eu me programo para ter muitas coisas no dia. Hoje foi diferente.
Preparei meu café lentamente. Olhei ao redor e estava sozinha. Sem bicicleta, sem tios, tias, primos, primas, sem o cheirinho de pão fresco (compro pão de forma, mais prático), sem aquela leveza que eu costumava ter. E, realmente, me senti sozinha. Me senti absurdamente sozinha numa manhã de domingo. E não adiantaria sair, não adiantaria ligar para alguém, eu estava sozinha. E eu, que ja tive medo do escuro, que tinha medo de ficar sozinha, estava sozinha.
Os dias da semana continuam iguais. A gente que muda a forma de vê-los.
Eu abria os olhos, não pensava duas vezes, e saia correndo. Tinha uma disponibilidade atroz para fazer isso. Sem pestanejar, pulava na cama dos meus pais que ainda estavam sonolentos. Nunca recebi nenhum tipo de repreensão por este comportamento. Muito pelo contrário, era bem recebida na cama deles. E começava a cantoria:
"Hoje é domingo, pede cachimbo (eu sempre cantei pé de cachimbo - descobri recentemente a versão correta), o cachimbo é de ouro, bate na gente, a gente é fraco, cai no buraco, o buraco é fundo, acabou-se o mundo!!!!!"
Levantávamos e eu ia com meu pai até a padaria. Tinha as comidas de domingo. Neste dia era possível escolher um sonho para comer mais tarde, e antes do almoço!!! Doce antes do almoço. O pão era fresquinho, e eu adorava mortadela com café e pão fresquinho. E domingo era este dia. Tinha mesa do café. E ficávamos lá um tempão. Depois eu e meu pai íamos brincar, minha mãe cuidava das coisas, e já iniciava os preparativos para o almoço. Sempre massa. Não sei se gosto de massa tanto quanto eu acho que gosto, ou se pela memória afetiva dela.
Vinha tios, tias, primos, primas da minha idade, eu tinha um quintal grande e uma bicicleta. O que mais eu poderia querer da vida?
Meus pais eram jovens, faziam planos de mudar de casa, compartilhavam com meus tios, falavam do meu futuro quarto. Enfim, ali era a perfeição. Não tinha dúvidas de que era feliz. Aliás, criança não questiona felicidade. É feliz e ponto.
Hoje eu acordei com preguiça. Não é habitual. Acordo cedo, disposta a fazer mil coisas do dia. Eu me programo para ter muitas coisas no dia. Hoje foi diferente.
Preparei meu café lentamente. Olhei ao redor e estava sozinha. Sem bicicleta, sem tios, tias, primos, primas, sem o cheirinho de pão fresco (compro pão de forma, mais prático), sem aquela leveza que eu costumava ter. E, realmente, me senti sozinha. Me senti absurdamente sozinha numa manhã de domingo. E não adiantaria sair, não adiantaria ligar para alguém, eu estava sozinha. E eu, que ja tive medo do escuro, que tinha medo de ficar sozinha, estava sozinha.
Os dias da semana continuam iguais. A gente que muda a forma de vê-los.
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