sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Em constante mudança...

A gente muda. Isso é um fato incontestável. As mudanças ocorrem o tempo todo. Notamos as físicas com maior facilidade. Mas é muito interessante quando notamos que o comportamento mudou.

Depois de alguns dias de férias, estava batendo papo com algumas pessoas, e as principais perguntas eram:

- E aí, pegou muito peru no Peru?
- Ficou louca de Pisco?
- Fez muita merda?
- Tomou o chá?
- Experimentou alguma droga diferente?

Nenhuma pessoa, até o momento, me perguntou sobre a cultura Inca, sobre os museus que fui, os caminhos que passei, e tudo que fiz, que não está em nenhum item mencionado acima.

Então chego a uma conclusão. Eu mudei. Talvez em outros tempos eu tivesse feito todos os itens acima, e divulgaria com prazer de quem ganhou um Nobel. Mas hoje? Nesta altura do campeonato? Acho que não. Perdi a paciência e a vontade de ser "Vida louca" (rs). E, de verdade, nem sei se fui tão louca assim, Sempre fui meio pé atrás com drogas. Não sou a pessoa que "enche a cara", até mesmo porque , detesto passar mal no dia seguinte. Mas acho que fiz um marketing negativo de mim tão grande nos últimos anos, que é isso que esperam de mim.

Desapontei muita gente com a cultura inca e o encontro espiritual.
Alguns chamam de velhice. Eu chamo de amadurecimento. E olha que eu levei uma eternidade para chegar neste estágio.

Dizem que geminianos demoram a amadurecer. Eu quase apodreci no pé, mas chegou o momento.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Ollantaytambo

Já que vou até lá, irei fazendo excursão. E assim foi. Passei por todo o Vale Sagrado e parei em Ollantaytambo. Me despedi dos meus novos melhores amigos, e fui para o Hostel que havia agendado.

Peguei um tuk tuk e fui mato adentro.

Entre duas montanhas e o rio Urubamba, bem, mas bem, bem, bem, no meio do nada, estava o hostel.
Tinha reservado um quarto para quatro pessoas na esperança de ter alguém para jogar conversa fora. Não tinha uma alma viva no hostel, e o quarto era só pra mim. Aliás, o hostel inteiro era só pra mim.

Passei exatas 2h comemorando a solidão. Quando decidi acessar a internet porque queria interagir com o mundo, descobri que não funcionava.

Ao questionar a moça da recepção, a resposta foi um choque "Devido às chuvas, estamos sem internet. Sem previsão de volta".
Ficar sozinha é bacana e tal, mas tem horas que uma internet faz uma diferença monstro. Lembrei também que não tinha trazido nenhum livro. Nada que entretesse para não perder o foco.

E lá estávamos nós: Eu, as montanhas e o rio Urubamba. Dava para ouvir o curso do rio batendo nas pedras, era como se fosse uma chuva forte.
Sentei no chão e comecei a fazer os exercícios de yoga que eu lembrava. Fiz o  japamala 2 vezes. Ia para a terceira, mas perdi a vontade. Então comecei a pensar na minha vida.
De onde vim? Para onde vou? O que eu quero? O que eu preciso mudar? O que eu não quero?

Todo este processo pareceu uma eternidade, e só tinham passado mais 2 horas.
O relógio brigava comigo, e estava levando uma vantagem monstra.

Então decidi que não iria mais pensar em nada, só respirar o ouvir o curso do rio.
E, no processo do rio, peguei no sono.

Nunca estive tão comigo. Foi assustador no começo. E, de verdade, ainda tenho um certo medo desses encontros sinceros comigo. Eu não sou tão sensacional quanto eu às vezes acho que sou.

E, durante esta viagem, eu me encontrei comigo algumas vezes. E cada vez que eu me encontrava, a sensação era diferente.
Mas uma coisa que eu me disse, e que está guardada foi: "Nunca se esqueça de você".

E foi assim o caminho, não esquecendo de mim, respeitando os outros, e sempre respirando profundamente...

Viajar sozinha

Às vezes precisamos parar um pouco.
Esquecer tudo que faz parte do nosso dia a dia. O que eu chamo de desligar do mundo externo e dar-se a oportunidade. A oportunidade de ficar só.

Quando eu disse "Quero ir ao Peru" esperava que em algum momento alguém diria "Vou com você", e acreditei nisso durante algum tempo. O tempo foi passando, e a companhia não veio.
A passagem estava comprada, e eu comecei a enrolar. Demorei até o último minuto para me organizar, sempre na esperança de haver alguma companhia. E a companhia não veio. 
Poderia desistir, claro. Mas não sou o tipo de mulher que desiste fácil. E se tem uma característica em mim que é muito forte, é a determinação para coisas que eu encasqueto. Sim, eu sou do tipo que encasqueta. E faço isso com tudo na minha vida. E com a viagem não foi diferente.

O dia chegou. Arrumei e desarrumei a mala 200 vezes. Fiz até um seguro viagem, coisa que nunca faço. Mas desta vez estava indo sozinha, e como dizem, o tal seguro morreu de velho.
E, depois de 3 horas lutando com a mala, ela estava pronta. Era só esperar o táxi e ir ao aeroporto. Encarar meu medo de voar. Medo, não. Tenho pânico. Mas a vontade de viajar sempre vence o medo.

Coloquei minha mochila nas costas, e fui.

Ninguém para segurar a minha mão e acalmar meu medo. Ninguém, além de mim, para dizer que no final iria ser incrível. E, confiei em mim. Estava acompanhada de duas coisas fundamentais "Deus e eu". E assim, o avião seguiu até Cusco.

Ao chegar em Cusco começou a guerra por um táxi, e no meio da confusão estavam 3 brasileiros. Vamos rachar este táxi, minha gente. E naquele momento descobri que o só, só é só, se assim quisermos.

O espanhol ia muito bem, obrigada. As aulas particulares valeram de alguma coisa, dava para seguir em carreira solo.

O mal de altitude não veio. Esperei por ele deitada no meu quarto por algumas horas até cair no sono. Tinha lido tanta história que dentro da minha mala tinha um arsenal de deixar qualquer farmácia com inveja. Não usei nenhum item.

Ao acordar, andei pela cidade como criança em parque de diversão. Até sai com meus óculos de grau para não perder nenhum detalhe. Afinal, mesmo sendo cegueta, luto com este mal franzindo bem a minha testa para ler qualquer coisa. 
Comprei algo para comer, sentei na Plaza de Armas, e fiquei observando as pessoas. Famílias com crianças, casais, turistas, muitos turistas, idosos em rodas conversando, e eu ali no meio de uma multidão de desconhecidos, e me sentindo incrivelmente bem por estar comigo. E ali fiquei por algumas horas. Sorrindo sozinha.

Entrei na capela, coisa que não faço quando estou em qualquer outro lugar que tenha uma. E, para minha surpresa, estava vazia. Olhei para todos os santos como se os conhecesse. Não sabia o nome de nenhum deles, nunca fui católica (apesar de minha mãe ser frequentadora assídua). 
Me senti bem para ajoelhar diante de todos eles e trocar algumas ideias de agradecimento. Seja lá quem domina isso aqui chamado mundo, merecia minha gratidão. E assim o fiz. Ajoelhei e rezei a única reza que sei "Pai Nosso". Uma invasão de gratidão tomou conta de mim, e chorei. As lágrimas caiam despretensiosamente sem que eu fizesse qualquer esforço, e eu não quis que elas parassem. E, se alguém chegasse à capela, as mostraria com orgulho. Aqui de joelhos há alguém que acredita na vida, nas pessoas, na bondade, caridade e no amor, amor de todas as formas. 
Agradeci de forma leve como poucas vezes fiz na vida.

No caminho de volta um cachorro resolveu que seria meu amigo. Fiz uma farra em sua cabeça, e ele me seguiu até chegar no hostel, me mostrando os caminhos de pedras. 
Enquanto não me viu entrar, não saiu da porta. Entendi e obedeci. Dei um singelo "tchau", e entrei. Ali acabava meu primeiro, de muitos, dias comigo.