Esquecer tudo que faz parte do nosso dia a dia. O que eu chamo de desligar do mundo externo e dar-se a oportunidade. A oportunidade de ficar só.
Quando eu disse "Quero ir ao Peru" esperava que em algum momento alguém diria "Vou com você", e acreditei nisso durante algum tempo. O tempo foi passando, e a companhia não veio.
A passagem estava comprada, e eu comecei a enrolar. Demorei até o último minuto para me organizar, sempre na esperança de haver alguma companhia. E a companhia não veio.
A passagem estava comprada, e eu comecei a enrolar. Demorei até o último minuto para me organizar, sempre na esperança de haver alguma companhia. E a companhia não veio.
Poderia desistir, claro. Mas não sou o tipo de mulher que desiste fácil. E se tem uma característica em mim que é muito forte, é a determinação para coisas que eu encasqueto. Sim, eu sou do tipo que encasqueta. E faço isso com tudo na minha vida. E com a viagem não foi diferente.
O dia chegou. Arrumei e desarrumei a mala 200 vezes. Fiz até um seguro viagem, coisa que nunca faço. Mas desta vez estava indo sozinha, e como dizem, o tal seguro morreu de velho.
E, depois de 3 horas lutando com a mala, ela estava pronta. Era só esperar o táxi e ir ao aeroporto. Encarar meu medo de voar. Medo, não. Tenho pânico. Mas a vontade de viajar sempre vence o medo.
Coloquei minha mochila nas costas, e fui.
Ninguém para segurar a minha mão e acalmar meu medo. Ninguém, além de mim, para dizer que no final iria ser incrível. E, confiei em mim. Estava acompanhada de duas coisas fundamentais "Deus e eu". E assim, o avião seguiu até Cusco.
Ao chegar em Cusco começou a guerra por um táxi, e no meio da confusão estavam 3 brasileiros. Vamos rachar este táxi, minha gente. E naquele momento descobri que o só, só é só, se assim quisermos.
O espanhol ia muito bem, obrigada. As aulas particulares valeram de alguma coisa, dava para seguir em carreira solo.
O mal de altitude não veio. Esperei por ele deitada no meu quarto por algumas horas até cair no sono. Tinha lido tanta história que dentro da minha mala tinha um arsenal de deixar qualquer farmácia com inveja. Não usei nenhum item.
Ao acordar, andei pela cidade como criança em parque de diversão. Até sai com meus óculos de grau para não perder nenhum detalhe. Afinal, mesmo sendo cegueta, luto com este mal franzindo bem a minha testa para ler qualquer coisa.
Comprei algo para comer, sentei na Plaza de Armas, e fiquei observando as pessoas. Famílias com crianças, casais, turistas, muitos turistas, idosos em rodas conversando, e eu ali no meio de uma multidão de desconhecidos, e me sentindo incrivelmente bem por estar comigo. E ali fiquei por algumas horas. Sorrindo sozinha.
Entrei na capela, coisa que não faço quando estou em qualquer outro lugar que tenha uma. E, para minha surpresa, estava vazia. Olhei para todos os santos como se os conhecesse. Não sabia o nome de nenhum deles, nunca fui católica (apesar de minha mãe ser frequentadora assídua).
Me senti bem para ajoelhar diante de todos eles e trocar algumas ideias de agradecimento. Seja lá quem domina isso aqui chamado mundo, merecia minha gratidão. E assim o fiz. Ajoelhei e rezei a única reza que sei "Pai Nosso". Uma invasão de gratidão tomou conta de mim, e chorei. As lágrimas caiam despretensiosamente sem que eu fizesse qualquer esforço, e eu não quis que elas parassem. E, se alguém chegasse à capela, as mostraria com orgulho. Aqui de joelhos há alguém que acredita na vida, nas pessoas, na bondade, caridade e no amor, amor de todas as formas.
Agradeci de forma leve como poucas vezes fiz na vida.
No caminho de volta um cachorro resolveu que seria meu amigo. Fiz uma farra em sua cabeça, e ele me seguiu até chegar no hostel, me mostrando os caminhos de pedras.
Enquanto não me viu entrar, não saiu da porta. Entendi e obedeci. Dei um singelo "tchau", e entrei. Ali acabava meu primeiro, de muitos, dias comigo.