No dia 07/05 chegou em minha casa o livro "Uma autobiografia - Da Rita Lee".
Comprei porque tinha assistido uma entrevista da Manu Gavassi falando das homenagens que fez à Rita. Sabia que ela estava doente e que de certa forma estavam todos a homenageando em vida para que ela pudesse entender o tamanho de sua influência no rock nacional.
Dia 22/05 estava agendado o lançamento do "Outra Autobiografia", dia de Santa Rita de Cássia. Queria reler a primeira. A cabeça é aquela coisa, não guarda tudo. Aliás, eu nem sei o que a minha têm escolhido guardar. Isso é outra história, tá vendo como a cabeça engana a gente?
08/05 a Rita faleceu. Eu tinha apenas começado a ler a primeira autobiografia.
Eu ainda acho interessante esses fatos de datas. Semana passada morreu Zé Celso 06/07. Ele havia casado no dia 06/06- Exatamente um mês antes da sua morte.
Nestes dias de falecimentos de pessoas que movimentaram a cultura deixando sua linguagem marcada no tempo, todos que não os conheciam, passam a conhecer - e eu acho ÓTIMO! Vende-se um monte de camiseta, livros, discos, surgem fãs, críticos, videntes que já previam tudo isso, especiais nos programas, ET´s descem à Terra pra ver o que está acontecendo com esses humanos, enfim, é um movimento.
E da mesma forma que ovacionamos, meses depois, estão no "ostracismo". Dizem que o legado será levado adiante, que lembraremos com respeito e admiração, dizem. Em tempos de Tik Tok, a gente não guarda nem o que almoçou no mesmo dia. Nosso cérebro está virando mingau.
Lembro de estar em Londres quando a Amy morreu. Camden Town e adjacências estava um inferno (no bom sentido). Todos cantavam, bebiam, falavam, choravam Amy Winehouse. Admito que eu também. Era 2011 e eu era jovem. Me sentia fazendo parte de um momento histórico, de fato estava. Tanto que apesar da minha pouca memória, esse dia ficou cravado nela. Sai dali querendo conhecer mais e mais sobre ela. Não seus vícios, nem seus memes, eu queria saber da artista foda que Amy é. E digo no presente porque a obra está aí.
Hoje a camiseta da Rita estava em promoção.
O Teatro Oficina anda cheio, os que não conheciam, querem conhecer o trabalho do Zé (iupi, que bom!)
Amy Winehouse? O que virou o legado dessa artista? Usaram o corpo dela ao último, usaram a memória dela ao último, fizeram documentários dos problemas com as drogas, bebidas, falaram da família, e sugaram de todas as formas possíveis, jogaram o bagaço fora. Em setembro Amy faria 40 anos. Com certeza farão muitas especulações, alguma IA vai fazer o "Como Amy estaria hoje", e vão ressuscitar a Amy de alguma forma. Não pelo seu conteúdo artístico, mas pelo potencial financeiro que essas coisas têm.
E a arte? E a composição? E o real legado?
O que essas pessoas deixam, é uma mudança de pensamento, um tijolo para construção de uma sociedade diferente, um modo de pensar, um modo de ver o mundo sob a lente da arte. É muito mais que uma camiseta com uma frase.
Esses dias a IA da Elis Regina estava dirigindo uma kombi e cantando "Como nossos pais" em um comercial. Elis, já morta, foi comercializada pelos filhos para vender uma kombi. Alguns dizem que foi lindo, foi uma homenagem, os filhos deixaram, e blá blá blá. E eu realmente não tenho nada a ver com isso, mas me dou ao direito de ter minha opinião. Ainda podemos ter uma, certo?
Levando em consideração tudo que a Elis falou, fez, construiu, mudou, revolucionou...Será mesmo que ela venderia uma kombi?
A camiseta da Rita estava em promoção. Na semana que ela morreu estava caríssima, assim como seus livros. Os artistas morrem, o capitalismo lucra.
Amanhã Zé Celso será uma camiseta quando na verdade ele queria ser nome de parque. Parque este que Silvio Santos, que logo mais será nome de Rua, Teatro, Cinema, etc, etc, etc por sua popularidade, não o permitiu construir. Talvez o Silvio IA dirigindo uma kombi faça mais sentido pra mim.