Ele
reclamava da Irlanda e dizia-se com saudades da Itália, mas não podia voltar
por conta do trabalho. Então eu lhe disse: “A gente só tem saudade daquilo que
se foi. E nem sempre aquilo era bom. Um dia, quando você estiver na Itália, vai
lembrar-se da gente tomando café e reclamando da Irlanda e vai sentir saudade
daqui e de mim, e eu vou sentir saudade de você. Vamos lembrar desses dias em
conversas pela internet e vamos dizer – que saudade daquele tempo!”. Ele riu e
entendeu exatamente o que eu queria dizer sobre saudade.
Tenho
saudade de algumas coisas. Saudades dos churrascos aos domingos em que jogava
conversa fora em tomava cerveja com minhas amigas. Lembro de um dia ter reclamado “Ai, gente!
Todo domingo a mesma coisa. Que saco. Vamos fazer alguma coisa diferente!”, e
cá estou eu com saudade disso.A minha casa tem um cheiro, não sei explicar. É um cheiro de minha casa. O passarinho que canta pela manhã na minha janela é o meu passarinho favorito. Ele fazia isso toda manhã. No final do dia abria a janela da cozinha e ficava olhando o sol se pôr atrás de uma árvore bem grande que tem perto de casa. A minha cozinha tem um buraco no chão milenar, um azulejo que eu sempre digo que vou consertar e tapo com um tapetinho de cozinha, até dele ando sentindo falta. A minha casa é pequena, desajeitada, repleta de coisas que eu prometo arrumar em algum momento, e nunca acontece. Mas isso serve para eu dizer que tenho um monte de coisas para fazer. Meu sofá de bolinhas marrom e meu cobertor vermelho faziam uma parceria perfeita acompanhada de uma boa sessão de Netflix. É o meu canto. Nada especial, mas saudade pra mim é isso. São coisas simples do dia a dia que marcam quem você é.
Tomo meu chá, olho o dia carregado de nuvens cinza com prenúncio de chuva. Reviro os olhos em tédio e repito a frase “Vai chover”. Depois deste texto, olho de novo, olho com sentido de gravar na mente este momento porque quando ele passar, vou sentir saudades.
A vida é uma
eterna saudade. Afinal, não podemos ter tudo.