segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O campo vazio

Eu nunca vou te entender. E, depois de muito tempo tentando, desisti.
Desisti de entender e desisti de tentar me fazer entender. Desisti.
Desisti de demonstrar o que eu gosto, ou deixo de gostar em você.
Desisti de querer estar.
Desisti de tentar fazer você gostar da minha presença.
Desisti de impôr minha presença.
Numa mensagem, num "Olá", "tchau", num interesse feroz em saber de você.
Estar, estar, mesmo que sem estar. Fazer-se presente.
Deu muito trabalho. Muito esforço, e muita chateação.
Impôr-se o tempo todo, até cansar. Onde eu parei? Onde eu estava mesmo?
Eu estava caminhando quando decidi parar para te observar. E parei tempo demais. Parei mais do que o necessário. E fiquei ali, doando energia, tentando, tentando...Até cansar.
E, cansada que estava, não consegui caminhar. Fiquei ali até todas as forças acabarem, até o último suspiro. Fiquei.
Demorei a dar por mim, e quando me dei conta, o tempo tinha passado. E muita coisa tinha mudado. E, mesmo assim, eu continuei lá. Quem merece tanta devoção? Eu. Olhei de novo, e voltei a me reconhecer. Retirei você, e coloquei um espelho. Sentia falta de mim. Foi bom me olhar de novo.
Descobri que fiquei muito tempo parada num campo vazio. Plantando onde sementes não cresceriam.
Estraguei minha pele no sol, desidratei, alucinei no campo vazio, sem que nenhuma semente sequer houvesse germinado. Plantei no solo que não estava propício para o plantio. E, depois, quis reclamar da colheita. Já era sabido.
Gritei. E no campo vazio nem eco se fez.
O que eu fiz?
Desisti. Já sem voz, cansada, e quase sem sementes para uma próxima colheita.
Agora escolho melhor o solo.
Agora parece que eu entendi que não adianta plantar boas sementes em solo que não quer germinar.