Quando eu era criança e tinha a dúvida entre ser astronauta ou caixa de supermercado, eu não imaginaria nunca que a vida me traria para um caminho tão chato e sonolento, ou eu mesma me direcionaria para um caminho chato e sonolento chamado "Meu trabalho".
Não consigo dizer com brilho nos olhos "Amo o que eu faço". Eu tento, mas soa falso. Eu não odeio o que eu faço, mas também não amo. Temos um casamento morno, e sem sexo. Isso, falta sexo no trabalho. Deixa eu explicar melhor. Aquela gozada quando se finaliza algo que gosta, manja? Não sinto mais isso. Já senti. Já tive até frio na barriga em algumas reuniões. Hoje é tão mecânico, tão sem sal, que só consigo repetir frases de efeito como "Verificaremos e lhe daremos retorno" "Os índices do trimestre passado já demonstravam esta tendência". Porra, até falo bonito. Mas não falo com o tesão de antes, com a vontade de crescer e etc. Dei uma brochada. Brochada trabalhística é pior que sexual. Dá mais trabalho achar um novo parceiro que te faça sentir tudo isso de novo. E com o tempo, ficamos mais exigentes. Não dá para trabalhar por qualquer salário mínimo. Já passei desta fase.
Trabalho perfeito "no ecxiste", já diria sabiamente o Padre Kevedo.
E o quê devemos fazer? Correr para as montanhas? Claro que não. Mudar. Ou se muda de trabalho, ou se encontra maneiras de gozar nesta negócio. É tipo salvar o casamento, compra-se acessórios, inventa novas posições, chama ajuda de especialista, dá uma olhadinha no mercado, até faz um por fora para garantir que o quê tem em mãos é de boa qualidade. E se depois desta sessão de terapia com o seu trabalho, nada mudar, aí é hora de guardar a viola no saco, e dar um rolê pela vida.
Mesmo se tivéssmos uma cápsula do tempo, e pudéssemos voltar ao tempo em que a pergunta era "O que quer ser quando crescer", eu pelo menos, ainda não saberia responder. Mesmo depois de ter vivido 32 anos. Ainda teria sérias dúvidas entre maquinista de trem e astronauta. Caixa de supermercado eu desisti. Não sou boa com matemática.