sábado, 8 de setembro de 2012

Resiliência

Para o amor é preciso resiliência. Quando ouço ou leio a palavra resiliência, só consigo associá-la ao amor. Dizem por aí que é um conceito emprestado da física. A física que me desculpe, mas esta palavra não era para pertencer à ela. O amor tem por sobrenome resiliência.

Ninguém pode se dizer incapaz de amar, ou de ser amado. O amor é inerente. Independe de vontade, independe de esforço está ali, resiliente. Ele adapta-se, mesmo em terrenos desfavoráveis. Mesmo não sendo bem-vindo, instala-se e permanece intransigente, resiliente. Não aceita sair, mesmo que lhe seja dito os piores desaforos do universo.

Lembro do dia em que conheci o amor. A primeira vez que ele me olhou, eu não o conhecia. Nunca fomos apresentados formalmente, ele dispensa rituais. Abri os olhos e lá estava ele, nos olhos castanhos da minha mãe. E disse que dali não sairia nunca mais. E dos olhos castanhos, parou em mim. Habitou em mim. 

Às vezes o colocava de castigo, no cantinho para pensar. Mas ele nunca se importou. Porque ele nunca pensou. Esta é uma das características fortes dele, irracional. E quando menos se esperava, ele estava em todos os lugares.

Acredita que o encontrei dentro da minha lancheira da escola? Em formato de pão com mortadela. Empesteou o pátio do colégio. Alguns olharam estranho, uns até com cara feia. Mas ele nem se importou, me fez feliz mesmo assim. 
Uma vez ele se disfarçou de vitrola. Era meu aniversário de 15 anos. Dentro de uma caixa gigante esta ele, com laço de fita e tudo. E foi sob o disfarce de vitrola que ele nos alimentou a noite toda, dançando, cantando, rodopiando pela sala ao som de vinis. 

Muitas vezes eu quis desistir dele, mas ele nunca desistiu de mim. E já na vida adulta ele apareceu em forma de homem. Este homem não tinha rosto, eram letras escritas que formavam as mais doces palavras. E antes do homem em si, o amor veio em palavras, e depois veio em carne, e o homem um dia foi embora, mas ele permaneceu dentro de mim. 

E cada dia que passa, desde daquele 16 de junho de 1981 em que ele estava nos olhos da minha mãe, nunca mais me abandonou. Ele se disfarça de coisas inesperadas. Nem sempre vem em forma de gente. Mas sempre está ali, quer eu queira, ou não. Sempre me acompanhando. Pode ser nos momentos felizes, nos tristes. nos momentos de desespero, sempre comigo.

Olha amor, eu aprendi a gostar de você.