terça-feira, 2 de agosto de 2011

Carta ao "amigo"

Caro "amigo",

Goede morgen, goede middag of goede avond!


Promessas vazias, palavras jogadas fora, e um turbilhão de imaginação despediçado por um fora banal que sequer foi verbalizado.
Muitas vezes as ações doem muito mais que as palavras. Ações dependem de interpretações, e interpretações machucam. O ser humano tem a tendência a ver as coisas piores do que elas realmente são. E se não há palavras, há pensamentos. Pensamentos perigosos que podem acabar com uma auto-estima danificada. Palavras, faltam palavras. Os gestos deveriam vir com legendas. Veja, se me afastei de você, é porque não lhe quero mais. Leia-se a vida, não à deixe com signos de exclamação, interrogação, ou o pior de todos, as reticências.
Vamos traduzir tudo ao pé da letra, como deve ser. Vamos ser alfabetizados na arte da fala.

Há que se preencher as lacunas, o tempo todo. Uma vida lacunar, não dá espaço para mais vida. Não se preenche espaços vazios que aguardam respostas. Só há espaço para questionamentos e a certeza de que algo ruim aconteceu. Mas o que aconteceu? Nunca saberei.

A maneira como jogo o cabelo não lhe agrada?
As minhas covinhas que eram simpáticas, passaram a serem sinal de algo bonachão? A minha fala não exprime o meu pensamento?

Muito difícil falar de sentimentos, sensações, pensamentos, numa língua que não é a sua. Mas não dizem que existe uma tal língua universal?
Não, não era amor, nem nunca achei que fosse. Também não tinha a esperança de que poderia vir a ser. E se não falávamos a língua universal, o texto ficou incompleto, mal feito, sem expressão, sem vida. Frases prontas de um filme que eu roubei de alguém, mas não era o meu filme. Não era eu.

Éramos personagens de uma novela mexicana dublada num inglês de péssima qualidade. Eu menti, você mentiu, e ninguém teve coragem de contar a verdade. Começamos mal, terminamos mal. Terminamos/ Bem, não se termina algo que sequer começou. Então posso dizer que interrompemos mal.

A auto-estima abalada pela falta de palavras. Grite, fale algo, só não me deixe pensar que sou a pior pessoa do mundo, ou a mais feia, a mais desengonçada, a mais sem sal e sem açúcar. Nada pior do que ser morno. Nada pior do que ficar sem saber em que momento a coisa desandou. Em que momento deixamos as risadas e as brincadeiras de lado e passamos a sermos pessoas mornas torcendo para que o dia acabe para que não precisêmos mais nos olharmos?

A sua gentileza me dói.

Falta-me argumentos, falta-me palavras, falta-me as tulipas, falta tudo. Falta, principalmente, as palavras.

Andar pela casa, andar e olhar, mas o olhar não diz nada. Os olhos castanhos parece um mar escuro de coisas que jamais conseguirei uma interpretação. Não saber quem você de fato é, me causa náusea.

Mais uma vez, a culpa é a Branca de Neve. Sempre ela, juntamente com a Alice do País das Maravilhas e todas as outras semi-princesas, semi-deusas, semi-seres humanos. Rascunhos de estórias que permeiam a mente feminina, e que nunca acontecerão.

Sentir-se péssima sem saber o real motivo, é pior que ouvir um monte de verdades que cortem a alma. Verdades sempre são boas, por pior que sejam. Não se vive bem com interrogações.

Não saberei as respostas. Até mesmo porque, tradução de sentimentos sempre são falhas. Mas isso martelará na minha cabeça por um bom tempo. Passa, assim como tudo sempre passou, mas o que aconteceu? Nunca saberei.

A brincadeira terminou da pior forma possível. Um sofá no meio da noite. Um pra lá, outro pra cá.