Fernandinho saia com todas. Alguns diriam, no linguajar atual, que Fernandinho era um galinha.
Mas como se trata de estória da oposição, digamos que Fernandinho sabia exatamente o que as mulheres gostavam.
Iniciou no mitiê da sedução aos 12 anos, com Dorinha - empregada da casa.
Dorinha dizia: Num bulina. Ele continuava. Insistiu tanto que Dorinha não resistiu e caiu em seus braços. Nos braços, em seus lençois, em sua cama.
Fernadinho ainda tinha 16 anos, Dorinha 18.
O romance durou bastante tempo. Dorinha sempre era a outra na vida do patrãozinho. Mesmo quando não queria, era ameaçada. sem ter para onde ir, aceitava as exigências de Fernandinho.
Cinco primaveras depois Dorinha, já grávida, foi expulsa de casa. Por honra à família que a acolhera não disse quem era o filho de seu pai.
Não demorou muito para que Fernadinho encontrasse muitas outras para substituir Dorinha.
Luiza, Camila, Paula, Ana, Cláudia, Soninha, Valéria e a lista só aumentava. Gabava-se de nunca ter namorado.
Aos 22 anos sua lista contemplava cem nomes. Nunca houvera um repetido. Era como uma questão de honra, nunca repetiu um nome.
Depois de tantas histórias, e muitos anos passados, Fernadinho se achava um homem experiente, precisava de novas sensações. Queria duas mulheres. Estava por completar seus quarenta anos e não queria morrer sem ter tido este tipo de experiência.
A proposta partira de Eliete, mulher que ele conhecera em uma pizzaria que ele sempre frequentava com amigos. Jamais pensou em ouvir uma proposta deste tipo de uma mulher, bem nascida, bonita, educada e muito inteligente.
Eliete o ajudou a escolher a terceira pessoa. Saiam quase todas as noites em busca. Até conhecerem Julia.
Carinha de anjo e olhar de menina, num corpo de mulher. Cabelos ruivos e olhos azuis oceano.
Julia não era uma mulher fácil. Demorou a cair em suas graças, que não eram poucas.
Dava beijos e pegava na mão, não passava disso.
Enrolou Fernandinho. O fez ir ao teatro, museus, restaurantes, cinema, exposições, musicais, parques, comer pipoca doce, andar de patins, dormir de conchinha, ser namorado.
Não havia dúvidas, Julia valia a pena. Valia o brincar de romance.
No dia em que ele propôs o Ménage à trois, ela aceitou. A única condição era que ele realizasse a fantasia dela primeiro, que por coincidência, envolvia uma terceira pessoa.
No quarto de motel Fernandinho ansioso aguardava a chegada da tal terceira pessoa que Julia levaria.
A promessa envolvia olhos vendados. Ele não poderia ver o rosto da terceira pessoa.
O corpo e os olhos doíam, Fernandinho queria apenas descansar da exaustiva noite. Pediu para tirarem a venda dos olhos dele. Elas tiraram. Fernadinho ficou alguns minutos tentando entender.
Abriu um sorriso ao reconhecer o outro rosto, Eliete.
Julia era uma mulher perfeita. Não tinha dúvidas, estava apaixonado.
Tentou acariciar o rosto de Julia, como forma de agradecimento pela fantástica noite. Ela o afastou. Entregou-lhe um bilhete.
"Não custou muito caro contratar Eliete. Valeu cada centavo. A sensação de ser usado não é muito boa, não acha?
Queria poder olhar sua cara agora. Sai de sua casa grávida de um moleque que só quis aproveitar da minha pouca instrução. Talvez para sorte do menino, de não ter um pai como você, perdi a criança no sexto mês de gestação.
A vingança tarda, mas não falha. Realizaste a sua fantasia, e eu realizei a minha. Fazer você se apaixonar por alguém e não ser correspondido. Olhe Júlia pela última vez, ela acabou de vingar a mãe dela." - Dorinha.