Recentemente me tornei escrava do ócio contemplativo. Se eu vivesse no ano de 470 A.C, seria considerada filósofa. Mas como estou no ano de 2008, sou taxada de preguiçosa.
Sócrates, aquele mesmo das aulas de filosofia, tornou-se um grande pensador sem nunca ter escrito um livrinho, nada, nadica. Sócrates contemplava, pensava, e alguém que acreditava em suas idéias, escrevia. Os chamados discípulos de Sócrates. Um carinha bem conhecido é Platão. Ele escrevia o que Sócrates filosofava em praça pública.
Se minha mãe conhecesse Sócrates, diria: Senhor Sócrates, o senhor é um fanfarrão preguiçoso.
Ok, eu não sou Sócrates, passo a léguas de distância da inteligência dele. Mas eu posso ter o direito de reservar um tempo só para pensar?
As máquinas surgiram para facilitar a nossa vida. Mas o homem é um mala sem alça de carteirinha. Encontrou outras atividades chatas para fazer. Acho que neste período surgiram os escritórios.
Se existe a máquina, precisamos de alguém para operá-la. E este alguém precisa receber por isso. E para este alguém receber, precisamos de alguém que cuide deste pagamento. E se a máquina pifar, precisaremos de alguém para arrumar, e para isso precisaremos de dinheiro. Mas o dinheiro não pode ficar na fábrica, precisamos de um banco. E um banco precisa de mais funcionários, e etc. Esta parte da história você conhece, e vive nela.
Que coisa mais chata este sistema.
O cara que inventou o negócio foi uma pessoa de muito mau-humor, alguém que definitivamente não gostava de contemplar a vida. Negócio significa negação ao ócio.
Já passei por esta fase. Agora eu assumo meu ócio. Afinal de contas, já dizia Nietzche: "A infelicidade dos homens ativos é que sua atividade é quase sempre irracional. Aquele que não tem dois terços do dia para si é escravo".
Tanta tecnologia para nada. Cada dia que passa o homem fica mais escravo daquilo que construiu.