No último ano de faculdade eu tinha encontrado uma paixão, documentários. Fiz alguns. Uns gostei muito, outros nem tanto.
Mas sabe como é a vida de documentarista no Brasil, bem complicada. Guardei o sonho na gaveta, e parti para outra.
Recentemente revi Edifício Master e Santo Forte, duas obras-primas deste documentarista.
Sabe, dá vontade de pegar a câmera e colocar todos os projetos em ação. Mas quando lembro da tremenda dificuldade que tive, dá tristeza. Meu pai nunca foi dono de banco.
Talvez se eu tivesse a sensibilidade e a profundidade do trabalho dele, arriscaria. Faria das tripas coração para colocar meu sonho em prática.
Mas acredito que a humanidade possa sobreviver sem meus documentários. Aliás, se alguém quiser, vendo: "Paixão" e "Amarelo, sim" em um combo promocional!
Tive a oportunidade de conhecê-lo em uma palestra no Itaú Cultural. E, neste dia, mais do que nunca na minha vida, fui tiete. Sem a menor vergonha. Encontrar Eduardo Coutinho, e não elogiar o trabalho dele, ao menos pra mim, seria uma baita heresia.
E como já era de se esperar, obtive respostas para as minhas dúvidas. Idéias para o meu documentário, e todo o apoio moral do mundo.
Lembro dele ter dito: "- Bom saber que há pessoas da sua idade se interessando pelo tipo de linguagem que eu uso. O caminho é longo e cheio de pedras, mas não desista".
Sai do teatro em êxtase. Se eu tivesse uma câmera, naquele dia eu teria feito um documentário sobre, na minha opinião, um dos melhores documentaristas do nosso país.
Decepcionei Coutinho. Decepcionei, mas jamais deixarei de prestigiar o trabalho de um dos caras, que lá na faculdade, me fazia querer ser documentarista.
Se ainda não conhece o trabalho dele, comece por "Cabra marcado para morrer". E, se a linguagem te interessar, assista os demais filmes dele. Provavelmente você não irá se arrepender.