quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Amélia não tinha a menor vaidade

Ela tinha comprado uma linda camisola vermelha.

Esperava ansiosa por ver a reação de seu marido. O casamento de vinte anos estava precisando de algo novo.

No curso “seduza e reconquiste seu marido”, diziam que uma lingerie nova apimenta um casamento.

As aulas de pompoarismo iam bem, mas Amélia tinha medo de arriscar.

Depois de ter visto uma mulher expelir um ovo, sempre tinha o mesmo sonho.
Um ovo gigante com as patinhas de pintinho corria atrás dela gritando “mamãe”. Resolveu que uma camisola vermelha já ajudaria.

Lembrou que sua professora havia recomendado velas e incenso. Os dispôs por toda a casa.
O vinho teria que estar na temperatura ambiente, aberto, e com duas lindas taças.
Escolheu a música para o streaptease. Passou o perfume preferido de Jaime.
Escolheu minuciosamente algumas músicas que eles tinham adotado como sendo deles tocando enquanto esperava.

- Amélia, que porra é essa? Nossa casa virou uma filial de algum centro de macumba? E abaixe esta música que estou morrendo de dor de cabeça. E depois de vinte anos você ainda não sabe que sou alérgico a incensos?

Ele entra no quarto e vê sua esposa deitada na cama com a camisola vermelha.

- Amélia, cadê o filho da puta que estava aqui com você? Você quer me foder, mulher? Puta que o pariu. Vinte anos de casamento para você ficar aí com esta cara de mulher da vida.

Amélia já não sabia o que dizer. Nem chorar conseguia.

Ele senta na cama.


- Vinte anos. Vinte anos para ser traído na minha própria casa. Porra, e o desgraçado ainda gosta de vinho tinto seco. Amélia, depois de vinte anos você deveria saber que sempre bebo tinto suave.