segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Quando crescer

 Eu nunca fui a criança que alguém perguntasse sobre o que eu seria quando crescesse.
A única coisa que valia na minha família era se iríamos sobreviver. Pagar o aluguel, vestir e comer. 

Comprar roupa somente na troca de estação. E não era simples. Era comprar roupa de frio no verão, e de verão no inverno. Então, nunca fui a criança que esteve na moda.

Eu fui ao Mc Donald´s depois de grande, quando eu pude pagar meu próprio lanche. Talvez por isso hoje eu seja a adulta que não está nem aí para a rede de fast food. 

Essas coisas materiais, honestamente, não me fazem a menor falta. Mas eu notei, depois de adulta, que eu não tive pais presentes. Minha mãe nunca falou sobre sexo comigo. Tudo que eu aprendi foi na rua, ou lendo. Eu era uma baita de uma leitora. Vivia pegando coisas na biblioteca.

E, além de não ter sido educada/instruída,  o que me pega mais é a famosa pergunta "O que você vai ser quando crescer?".  Na minha infância minha mãe estava tão preocupada com ela, com terminar os estudos dela, pensar na carreira e etc, que nunca pensou sobre a minha vida.

Eu lembro que um dia, quando eu já estava prestes a terminar o Ensino Médio, ela me disse "Você vai fazer Direito". Eu não tinha vocação alguma pra isso. Mas na cabeça dela era o que dava dinheiro.

Óbvio que eu nunca passei em um vestibular para Direito. Eu mal estudei! Nunca coloquei os pés em um cursinho. Eu não sei de onde ela tirava a ideia que eu, sem estudo algum, vinda de uma escola pública, iria passar num vestibular. 

Quando ela notou que tinha fracassado neste sonho da advocacia, me disse "Já que você não passa na faculdade, precisa trabalhar". E, como não tem profissão, vai fazer magistério". Ou seja, eu terminei o Ensino Médio, e voltei a fazer o Ensino Médio. Enquanto os pais dos meus colegas pagavam cursinho, faculdade, eu estava voltando para o Ensino Médio.

Foi horrível! Eu me sentia péssima. Inútil, era isso. 

Bem, depois que terminei o Magistério eu comecei a trabalhar para pagar a faculdade privada. Fiz Rádio e Televisão. Isso diz muita coisa.

Eu demorei anos e anos para perceber que o que me faz feliz é arte. Deveria ter feito artes cênicas e foda-se, sabe? Mas não tive coragem porque eu precisava trabalhar para me sustentar. E artes cênicas? Anos 2000, minha gente. Eu não era padrão, e não era filha de ninguém. Quais as chances?  

Esse textão é só pra dizer. Incentivem seus filhos. Perguntem sobre o que eles gostam. Se interessem por eles. Isso tem muito mais valia do que qualquer brinquedo, qualquer curso, qualquer coisa.
O interesse genuíno não tem preço. Isso fará essa criança se sentir segura, acolhida, e com certeza terá mais ferramentas para enfrentar a vida.

Por outro lado, tem uma coisa que essa infância/adolescência desacompanhada me trouxe.

Sou uma adulta que não está nem aí pra validação, nunca tive mesmo. Então se as pessoas gostam, não gostam, querem ver, não querem, eu não estou nem aí. 
E, isso também reflete nas relações. Eu sempre acho que não preciso me relacionar com ninguém. Na verdade eu nem sei me relacionar. 

Sabe o que foi isso tudo? Uma boa sessão de terapia...


segunda-feira, 15 de abril de 2024

Menos Pausa

Eu escrevo em blog desde que o mundo da internet existe. Sou blogueira desde quando blogueiras faziam blogs. 

Agora estou no climatério. Sim, aconteceu. Quer dizer, eu tirei essa informação da minha mente. Ainda não fui ao médico. Mas tenho dito isso aos quatro ventos como se eu tivesse sido sentenciada. Cheguei naquele momento da vida que a gente diz "na minha idade (...)", mas tendo a oportunidade de me ler desde os 25 anos, eu sempre fui assim. Sempre cheguei antes nos problemas das idades. É um preview. Vanguarda, alguns diriam.
Mas que tipo de gente quer chegar na menopausa antes de chegar?

Sempre tive amigas mais velhas que eu. Aí na virada dos 35, eu me juntei com jovens. Eu que era a antítese do Peter Pan, quis tardiamente entrar na terra do nunca. Fui fazer um intercâmbio com jovens, e tive a oportunidade de me sentir velha de verdade. Quem é velho aos 35 anos, meu Deus? Eu não sou velha nem agora aos 42. Me espanta quando alguém me chama de senhora. E que doideira é essa de jovem pra ser velha, e velha pra ser jovem, Sandy?

Bem, agora eu entrei nesse combo do climatério. Toda vez que alguém me conta uma história de menopausa, eu compadeço como se eu vivesse de menopausa desde criancinha. Aqui é menopauser, team menopausa! Bora, idosas, mulheres.

Eu sinto calor. Mas de fato está calor, o nome disso é aquecimento global, não menopausa.
Eu sinto cansaço. Mas quem não sente? A gente trabalha muito mais que antigamente, ganha-se muito menos, e vive-se muito mal.  

Ando sem paciência. Mas isso eu nunca tive mesmo. Nunca foi um dom. Confesso que é até minha marca registrada. 

Eu nunca precisei da idade para falarem "deixa ela, tá louca!", porque sempre fui estranha. 
Então não é a menopausa, sou só eu mesmo.

Mas dizem que a gente fica confusa e sem memória na menopausa. 
Eu acho que foi a maconha que fumei na juventude. 

Uma amiga que está no climatério está fumando maconha. Disse que ajuda a acalmar, e não perder o réu primário. Se é fato, eu quero maconha no SUS. Vamos acalmar essa população de mulheres à beira de um ataque de nervos, incluindo eu, claro.

Acho que vou fazer um livro sobre menopausa. A menopausa me deixou cansada para fazer um livro sobre menopausa. Vou mandar uma mensagem para Ingrid Guimarães, ela está nesse tema. Assim, ela que está mais por dentro, pode fazer uma série pra gente. Pensei na Ingrid porque eu não quero a decadência. Eu quero pelo menos rir disso.

Ingrid, vou até voltar a fumar maconha, e colocar na conta do climatério. E vou fumar maconha vendo a série que você vai escrever. 

Tá vendo como esse negócio de climatério é confuso?
Eu esqueci sobre o que era esse texto.