terça-feira, 9 de novembro de 2021

Maturidade filosófica

Às vezes eu passo por aqui para me ler. Não que eu seja uma gênia da literatura moderna. Passo por aqui para ver as minhas angústias. O meu senso de humor para disfarçar frustrações e desilusões. As personas inventadas contando a minha história. Diversão pura.

Li um texto meu dizendo "Eu preciso ser feliz". Ri. Afinal, quando eu tinha 20 e muitos, parecia que eu estava só esperando esse momento do feliz para sempre. Lá da minha torre discutindo o sexo dos anjos, reclamando do machismo e tomando minhas doses de fora. Brilhando na jornada do herói, e esperando o tal final feliz. Aquele momento mágico da vida que está tudo dado, tudo resolvido, tudo no script do sucesso.
Não foi bem isso que aconteceu, né mores? Não encontrei o tal príncipe encantado (pasmem, não existe), muito menos porque encontrei o melhor trabalho da vida e só faço o que eu gosto, isso também é fanfic de coach, é LinkedIn, ostentação de mentira. Isso é a positividade tóxica batendo na sua porta para te deixar infeliz por não ser positivo. 


Tomo nesse cu diariamente. Ouço desaforos, trabalho horas a fio, ganho pouco, e todas as coisas que acontecem na vida do ser humano ordinário. E aguento tudo isso sem um remédio sequer. Isso sim posso considerar vencer na vida. 

Eu dedico a minha felicidade à maturidade. Essa senhora de cabelos brancos, meio corcunda e com uma verruga no nariz. Sim, a minha maturidade parece a bruxa da Branca de Neve. Não dá pra ser madura o tempo todo. 

Uma vez, já na vida adulta, eu pedi pra minha mãe cuidar da minha vida. Estava tão pesado, tão foda ser eu mesma, que não estava dando conta. E aí a minha mãe me tirou do útero dela e disse que não ia rolar e que ela já tinha a vida dela pra dar conta. E naquele dia eu percebi que é cada um dando conta da sua vida mesmo. Mentira, não foi naquele dia. A maturidade não é um lance que te entregam numa taça, você bebe, e acorda maduro. Não, meus senhores! A maturidade te trucida, e quando você está no chão, ela olha nos seus olhos e diz "Paga esse boleto, arrombado!". Tá, não é bem assim. Mas você entendeu a metáfora. E, se não entendeu, ainda não é o momento. Volte aqui no futuro. 

Já dizia Nelson Rodrigues: "Jovens, envelheçam". A maturidade deixou eu citar o Nelsão com entendimento. Finalmente nos encontramos, Nelson. 

Entender que a serenidade da maturidade trás felicidade (isso daria um pagode anos 90 incrível), é o auge da vida!  Será que foi a monja Coen que disse isso? Depois que ela começou a vender cerveja, ganhou meu respeito. E queria citar a monja neste texto. 

Mas se por algum motivo você quiser parecer um maduro cult, use o aforismo grego "Conheça-te a ti mesmo". E é aí, neste momento, que vai encontrar a felicidade. Não é como no livro da Disney, mas é bem legal. 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Uai tão interessante?

 Já não sei muito bem se é realmente interessante. Também não sei se a minha magnífica mente te inventou tão interessante. Pode ser. Ela estava sem muito repertório nos últimos anos até você chegar.

E ela ecoou "Uai tão interessante?". Ela está lá, passeando por uma história que nem existe. Não existe. E talvez ela nem queira que concrete-se. Conjugarei concretizar como eu quiser porque quem concretizou fui eu. 
Quero que continue aqui na minha caixa, na minha mente, no meu devaneio até eu encontrar outra pessoa pra colocar no lugar. Não ouse sair até lá. 
Não realize-se para não estragar o meu devaneio. Mantenha-se onde está  para continuar interessante. Nehuma realidade chegará tão perto do que minha mente construiu. Não me venha com realidade enquanto eu estiver sonhando. 

terça-feira, 20 de julho de 2021

David, o Bowie.

Dos grandes amores plantônicos que cultivei na vida está o Sr Bowie. Sim, ele - o David. 

Ele entrou no meu imaginário na minha primeira década de vida, depois de eu assistir o filme Labirinto - A Magia do Tempo. Se você não viu, siga sem ver, a magia já passou pra você e esse trem não volta mais. 

Uma vez, achando que seria cult, apresentei pra minha irmã mais nova. Fui ostilizada. É isso. O jovem não sabe apreciar um bom retrô. 

Não sei se foi a calça de couro, o cabelo mullet, a maquiagem, a pupila dilatada com um olho verde e outro azul, a música, não sei. Só sei que em dado momento eu estava fazendo Bowie e Vivi dentro de um lindo coração. 

Algumas crianças viram Rei Leão incontáveis vezes, e com isso são capazes de dizerem as falas do filme. Eu sabia as de Labirinto. 

Meu amor era tão genuíno que comprei um caderno, e me dei ao trabalho de escrever todas as falas. As crianças brincavam na rua. Eu? Eu fui até a locadora (se você não sabe o que é isso joge no Google), aluguei por 3 dias o filme, e fiquei ali com meu videocassete dando pause e play por dias a fio. Quando eu já estava com o roteiro do filme escrito, passei a usar falas do filme na minha vida. Eu era uma criança esquisita. Bem, não sou uma senhora muito grande coisa hoje em dia também. 

Lá pela nonagésima vez em que entrei na locadora para alugar Labirinto, o moço me ofereceu outros filmes. Disse que tinha vários, e que me faria um preço camarada. Não fazia muito sentido com tanta oferta eu sempre alugar o mesmo filme.Eu recusei veementemente a tentação de alugar "Super Xuxa Contra o Baixo Astral". E em troca da minha honra mantida, ele me deu a fita. Segundo ele só eu alugava.

Sai da locadora saltitantinho, sabe? Que dia maravilhoso era aquele? Eu tinha acabado de ganhar meu filme favorito. Se bem que pela quantidade de vezes que eu aluguei, eu merecia até o pôster do filme. 

Sinceramente eu não saberia dizer quantas vezes eu vi esse filme. Eu tinha planos ousados de casar ao som de As the world falls down, e meu marido usaria o figurino do filme. Hey, você que já quis ser meu marido, olha esse livramento. Bem, eu não casei. E nem quero casar. Mas na minha imaginação, quando eu quero romantizar qualquer coisa, ainda toca As the world falls down. E como tudo é sonho e devaneio, o Bowie ainda faz parte deste meu imaginário. Assim como unicórnios fazem parte do imaginário infantil.

Obrigada por isso, Bowie.