quinta-feira, 11 de junho de 2020

A Arca fechou


Todo dia dos namorados eu era a rainha da piada ruim. Admito que era um misto de revanche por não ter sucumbido à ordem social em me relacionar com dor de cotovelo por nunca ter encontrado o mozão.

Mas os filmes, as séries, a propaganda e a vida, me fizeram aceitar a condição de que nem todo mundo andava pelo mundo em par, ou trio...

Virei defensora dos solteiros convictos, e passei a me colocar nesta categoria. O que é um perigo para mulhres. De solteira, você passa à solteirona, e logo na sequência, tia.

Mas guerreira que sou, nunca me dei por vencida, se sempre tinha o contraponto do "ser solteiro é foda!".
Chegamos em 2020 e não estava na minha lista de coisas da vida enfrentar uma pandemia. E foi neste momento que o jogo virou, né minha filha?

Foto no "Insta" no botecão do centro de São Paulo com os amigos? Isso Non Ecziste mais.

Acordar com maquiagem até no ânus depois de uma noite de show bom, e chegar em casa tão cansada que não se tem a dignidade de tomar um banho? Esquece.

Churrascão começando 3 da tarde e terminando 3 da manhã com a frase "deixa eu fumar só mais este cigarro antes de ir"? It´s over, baby.

Teatro, shows, jogos, passeios no parque, festa na casa dos amigos, exposições, sumiram do dia para noite sem ao menos a gente se despedir. Se eu soubesse que aquele 14 de março era uma despedida, teria tomados mais umas 5 saideiras, depois das 3 que já tinha tomado, e ficaria ali dando tchau para vida, abraçando os amigos, e tentando entrar nesta capsula maluca chamada quarentena.

Aqui, no auge dos quase 100 dias sem o mundo de opções, limitada à telas, já acho que talvez, só talvez, seria interessante dividir isso com alguém.

Noé constriu sua arca, colocou os bichinhos de par em par, e quem ficou de fora da arca tenta entender como entrar nesta arca sem levar vírus para todos.