quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

2017 foi sabático

 Eu gosto de textos de final de ano. Gosto de relê-los.

Ano passado escrevi que estava plantando para colher neste ano de 2017.  Terminei 2016 sabendo o que eu NÃO QUERIA em 2017. Já era um começo...

Não queria casos urgentíssimos para tratar, não queria receber 100 e-mails /dia, não queria meu telefone tocando de 5 em 5 minutos, não queria 20 grupos de trabalho no Whatsapp, não queria ter grandes responsabilidades, não queria dormir pensando nos problemas do dia seguinte, não ter final de semana, e ser sempre refém do celular.  Deixei de acreditar que “Nossa, ela trabalha demais!” era elogio.

Passei a me questionar sobre a função do trabalho, e um monte de coisas. E foi assim que desenhei 2017 como sendo o ano em que eu não teria grandes dilemas, grandes preocupações, ou qualquer outra coisa que me desse dor de cabeça. Seria o meu ano. Meu, só meu e de mais ninguém.

Plantei um ano sabático em 2016 e colhi em 2017 começando pelo meu feriado favorito – carnaval.
Aquele trabalho maroto no Hostel para conhecer gente, treinar o inglês e garantir as histórias e os amigos que ganho pra vida.

E das histórias da vida de começo de ano, ganhei uma holandesa que morou um mês na minha casa, um finlandês que eu dava aula de português e um grupo de ingleses que a gente promete se encontrar pelo mundo, e às vezes dá certo.

Peguei minha mochila e vim morar em Dublin sem nunca nem ter passado perto desta cidade uma única vez na vida. A única coisa que eu sabia de Dublin era que o U2 nasceu aqui.
Lembro-me da profecia: “Estou indo para Dublin, e vou ver o show do U2 na casa deles!”. Só eu sei o quanto eu fiquei feliz em realizar. Pequenas realizações, pequenos sonhos, pequenas conquistas saboreadas com afeto. É disso que a vida é feita.

Convivi com muita gente jovem. E se eles soubessem o quanto me ensinaram, ficariam boquiabertos com o quanto a titia saiu renovada desta experiência.
O mestre Nelson dizia: “Jovens, envelheçam!”. Eu penso diferente: “Adulto, rejuvenesçam!”.
Bebam desta fonte sem preconceito. Não se achem donos da razão. Ouçam, não julguem. Aprendam e tenham humildade para compreender que somos gerações diferentes. E nada era tão melhor assim “no meu tempo”. O tempo deles também é bom, eu garanto com conhecimento de causa.

Me permiti trabalhar de tudo que se possa imaginar. Fui cuidadora de velhinhos, faxineira, trabalhei na lojinha de souvenir de um castelo, pizzaiola e fui dando meus pulos nesta vida.

Trabalhei com gente do mundo inteiro e tive a oportunidade de aprender tanta coisa com essas pessoas que parece que eu vivi uns 10 anos em 1.

Tive tempo de tédios homéricos. Tive momentos em que achei que tinha feito uma merda dantesca, tive dias ótimos, bons, ruins e péssimos...
Reclamei com fervor do clima merda da Irlanda. E vou reclamar até no meu último dia aqui porque sou dessas.

Passei meu aniversário sozinha depois de um date horroroso. Aliás, tive dates horrorosos que merecem um capítulo à parte. Me apaixonei, e me desapaixonei em questão de dias. 
Esqueci e superei amores passados, e voltei a ser uma folha branca novinha e sem rasuras ou remendos.  

Atropelei uma raposa de bike num frio de -4. Só esta frase já valeria o ano de 2017.

Fiz amigos pra vida. Reencontrei amigos da vida.

Fiz projetos, desfiz projetos, montei parcerias, desfiz parcerias. Quis ser rica vendendo Avon, depois achei melhor não. Quis concorrer à cargos políticos, mas a política não me permitiu entrar. Quis tanta coisa, e “desquis” no momento seguinte, fui tão eu que nem eu sabia mais como era ser eu (entende?).

 Tive tempo pra toda esta insanidade. Tive tempo pra loucura. Tive tempo para o ócio. Tive tempo até para escrever um livro ruim.

Que ano! Olhando assim de fora percebi que o senhor foi um GRANDE ano.

Encontrei o amor da minha vida. A vida em si.

O que eu desejo pra mim, pra você, e pra todo mundo? Muita vida em 2018! 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Bonitona?!?!

Acho que nós mulheres estamos preparadas para tudo nessa vida. Somos sobreviventes. E, agora, a palavra "chata" da moda - somos empoderadas. Mas se tem uma coisa que ninguém nos prepara é para o envelhecimento. Ninguém diz como vai ser, como se portar, como viver?
E não me venham com esse Globo Repórter de idosos fazendo yoga que isso tá fora da minha realidade.

Vivi xx anos para ouvir:

- Nossa, Vi. Mas você ainda está bonitona!

Cacete!!!!!!!! Eu ainda nem arrumei meu primeiro namorado na vida e já me transformei na pessoa que está bonitona? Só faltou o "Dá um caldo". Quando foi que eu pisquei os olhos e passei de jovem promissora para uma bonitona que dá um caldo?

Não sei quando foi que aconteceu isso. Só sei que não tombarei sem lutar.
Já que não posso rejuvenescer, está mais que na hora de mudarmos este padrão acima dos 25 já está velha. Homens não ficam velhos, ficam charmosos.
Novinhas, PAREM! POR FAVOR, PAREM de criar esta cultura do charme para homens e da tia velha e mal amada para as mulheres. Sejamos mais parceiras.

Estava lendo o mestre esses dias (Nelson Rodrigues), e num dos textos ele fala de uma mulher casada e ainda viçosa (super moderno) com uma filha. Lá pelas tantas descubro que a mulher casada que ainda dava para o gasto tinha 40 anos! 40 anos, companheiras de luta!
Ok, quando o tio Nelson escrevia a gente costumava morrer mais cedo mesmo e aceitar a vida. Se entregar e dizer que não podíamos fazer isso ou aquilo porque envelhecemos.
"Estou velha demais pra isso!". Não existe velha demais, minha gente! Existe a sua vontade ou não de fazer as coisas. Corra, Lola, corra!

Minisaia é coisa de menininha, eu uso se eu quiser e se eu me sentir bem. Não gostou? Fecha os olhos e não me irrita!
Tem comentários que eu nem respondo pra não passar raiva: "Nossa, mas ela não se veste adequado à idade dela!". E tem isso? É que eu não gosto mais da Barbie, mas se eu tivesse com vontade de usar uma mochilinha da Barbie eu iria usar mesmo as pessoas me chamando de retardada, seus preconceituosos!

A gente se veste como quiser, faz o que quiser, e vive como quiser. Não, não estamos ficando melhores como vinho. Dá umas dores desconhecidas, a preguiça é maior que a vontade de sair, gritaria dá dor de cabeça, óculos ajuda a ler as coisas, e um monte de coisa. Não sou estúpida pra achar que nada mudou. Mas eu vivo e me adapto às mudanças porque o espírito, ah...esse sempre será jovem.

PS.: Eu não sou bonitona. Sou bonita pra caralho. Legal, inteligente, bem humorada e a caralha toda!