Ano passado escrevi que estava plantando para colher neste
ano de 2017. Terminei 2016 sabendo o que
eu NÃO QUERIA em 2017. Já era um começo...
Não queria casos urgentíssimos para tratar, não queria
receber 100 e-mails /dia, não queria meu telefone tocando de 5 em 5 minutos,
não queria 20 grupos de trabalho no Whatsapp, não queria ter grandes
responsabilidades, não queria dormir pensando nos problemas do dia seguinte, não
ter final de semana, e ser sempre refém do celular. Deixei de acreditar que “Nossa, ela trabalha
demais!” era elogio.
Passei a me questionar sobre a função do trabalho, e um
monte de coisas. E foi assim que desenhei 2017 como sendo o ano em que eu não
teria grandes dilemas, grandes preocupações, ou qualquer outra coisa que me
desse dor de cabeça. Seria o meu ano. Meu, só meu e de mais ninguém.
Plantei um ano sabático em 2016 e colhi em 2017 começando
pelo meu feriado favorito – carnaval.
Aquele trabalho maroto no Hostel para conhecer gente,
treinar o inglês e garantir as histórias e os amigos que ganho pra vida.
E das histórias da vida de começo de ano, ganhei uma
holandesa que morou um mês na minha casa, um finlandês que eu dava aula de
português e um grupo de ingleses que a gente promete se encontrar pelo mundo, e
às vezes dá certo.
Peguei minha mochila e vim morar em Dublin sem nunca nem ter
passado perto desta cidade uma única vez na vida. A única coisa que eu sabia de
Dublin era que o U2 nasceu aqui.
Lembro-me da profecia: “Estou indo para Dublin, e vou ver o
show do U2 na casa deles!”. Só eu sei o quanto eu fiquei feliz em realizar.
Pequenas realizações, pequenos sonhos, pequenas conquistas saboreadas com
afeto. É disso que a vida é feita.
Convivi com muita gente jovem. E se eles soubessem o quanto
me ensinaram, ficariam boquiabertos com o quanto a titia saiu renovada desta
experiência.
O mestre Nelson dizia: “Jovens, envelheçam!”. Eu penso
diferente: “Adulto, rejuvenesçam!”.
Bebam desta fonte sem preconceito. Não se achem donos da
razão. Ouçam, não julguem. Aprendam e tenham humildade para compreender que
somos gerações diferentes. E nada era tão melhor assim “no meu tempo”. O tempo
deles também é bom, eu garanto com conhecimento de causa.
Me permiti trabalhar de tudo que se possa imaginar. Fui
cuidadora de velhinhos, faxineira, trabalhei na lojinha de souvenir de um
castelo, pizzaiola e fui dando meus pulos nesta vida.
Trabalhei com gente do mundo inteiro e tive a oportunidade
de aprender tanta coisa com essas pessoas que parece que eu vivi uns 10 anos em
1.
Tive tempo de tédios homéricos. Tive momentos em que achei
que tinha feito uma merda dantesca, tive dias ótimos, bons, ruins e péssimos...
Reclamei
com fervor do clima merda da Irlanda. E vou reclamar até no meu último dia aqui porque sou dessas.
Passei meu aniversário
sozinha depois de um date horroroso. Aliás, tive dates horrorosos que merecem
um capítulo à parte. Me apaixonei, e me desapaixonei em questão de dias.
Esqueci
e superei amores passados, e voltei a ser uma folha branca novinha e sem
rasuras ou remendos.
Atropelei uma raposa de bike num frio de -4. Só esta frase
já valeria o ano de 2017.
Fiz amigos pra vida. Reencontrei amigos da vida.
Fiz projetos, desfiz projetos, montei parcerias, desfiz
parcerias. Quis ser rica vendendo Avon, depois achei melhor não. Quis concorrer
à cargos políticos, mas a política não me permitiu entrar. Quis tanta coisa, e “desquis”
no momento seguinte, fui tão eu que nem eu sabia mais como era ser eu (entende?).
Tive tempo pra toda esta insanidade. Tive
tempo pra loucura. Tive tempo para o ócio. Tive tempo até para escrever um livro ruim.
Que ano! Olhando assim de fora percebi que o senhor foi um GRANDE
ano.
Encontrei o amor da minha vida. A vida em si.
O que eu desejo pra mim, pra você, e pra todo mundo? Muita
vida em 2018!