quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Só tinha medo a tal Joana de Santo Cristo

Lembro como se fosse hoje o término do Ensino Médio. Foi uma tristeza profunda. Enquanto todos os meus amigos do colégio já tinham planos para dominar o mundo, eu não tinha a menor ideia do que eu seria, visto que já tinha crescido. E assim começava meu Faroeste Caboclo pessoal.

Achava/acho de uma sacanagem sem fim pedir para alguém que mal consegue pagar seu lanche, escolher o que deve fazer pela vida toda.

É mais ou menos assim: "Te sustentamos atá agora. Agora é com você. Se vira, neguinha!".

Na época eu fazia curso de inglês com uma professora super gente boa. A Lu era descolada, ia nas melhores festas, falava inglês fluente, tinha viajado pra danar, e escrevia para a Revista Dynamite. Era muita coisa "cool" para um ser humano só. Pronto, estava decidido - jornalismo.

Eu nunca fui um gênio. Lembro de mais ter cabulado aula do que estado dentro de uma sala de aula. Tirava boas notas porque alguma entidade divina iluminava meus pensamentos. 
Vivia uma época rebelde como a maioria dos adolescentes. Mas o meu rebelde era bem levado a sério. 

E no maior estilo cigarra, esperei o vestibular. Esperando que as entidades divinas não me abandonassem. 

Minha mãe tentou direcionar minha vida dizendo que eu deveria fazer Faculdade de Direito. Me inscreveu para tudo quanto foi  vestibular. De preferência os baratos, bons e extremamente difíceis de passar sem preparo de uma vida. 

A última inscrição foi feita por mim. Lembro dela me dando os R$ 90,00 para inscrição no Mackenzie. Chegava a ser piada ela achar que eu passaria em Direito no Mackenzie.
Vi a relação candidato/vaga e resolvi que isso não teria a menor chance. Não pensei duas vezes, assinalei Publicidade e Propaganda.  Para surpresa do universo, eu passei. E, para a minha surpresa, a resposta da minha mãe foi taxatória "Não tenho a menor condição de pagar por este curso". 

Ou seja, a única faculdade que passei, não poderia fazer. E o conselho dado foi "Trabalhe e pague pela Faculdade". Trabalhar? Como? O que eu sei fazer?

Voltei ao colégio e fiz Magistério. Vou dar aula e pagar pela minha faculdade.
E, com o salário MARAVILHOSO de professora, não pude pagar lá grande coisa. Acabei fazendo Rádio e Televisão. Curso novo e barato, e na área que me interessava - Comunicação Social.

A gente acha que vai ser fácil. Passei a faculdade inteira buscando estágio. Deixei currículo (sim, na época você entregava pessoalmente) por toda a Av Paulista, onde havia uma concentração enorme de rádios. Eu só queria uma oportunidade. Na época nem pensava em salário.

Terminei a Faculdade, nunca estagiei.

No final das contas fiz um curso que nunca utilizei pra nada. 

E, a vida acaba te ensinando outras coisas, e você acaba trabalhando naquilo que não tem ABSOLUTAMENTE nada a ver com o que você gostaria de fazer. 

O tempo passa, e nunca é fácil responder "O que você vai ser quando crescer?"




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Opinião - Em cima do muro.

Eu sou de um tempo em que para formar uma opinião sobre qualquer coisa, precisava ler, pesquisar, ver várias vertentes sobre o assunto. Enfim, dava um puta de um trabalho ter opinião sobre alguma coisa. Defender um ponto de vista então, a vida toda.

De uns tempos pra cá venho lendo comentários nas redes sociais. E, no meu momento Ivete penso: "Quem é essa aí, papai? Cheia de opinião!".
Liberdade de expressão! Esta frase sempre é o mote para um derramamento sem fim de palavras. Não sei, ainda sou do tempo do "Não tenho opinião formada".
Credo! Coisa chata este negócio de ter opinião sobre tudo. Esta formação globalizada que nos dá direito a opinar sobre: economia, política, futebol, religião, moda, culinária, veterinária, medicina holística e qualquer outro assunto. A gente anda muito profundo conhecedor do mundo.

Temos opinião, mas também perdemos a atitude. Protestar na rede social é fácil. Eu sento no meu sofá, abro uma página e escrevo, escrevo, escrevo até cansar. Talvez no dia em que as pessoas, inclusive eu, falarem menos e fizerem mais, talvez, as coisas melhorem.

Você é em cima do muro, dirão os radicias. Sim, sou em cima do muro. E é de cima deste muro que tenho a oportunidade de ver os dois lados. E, espero em Deus, que eu continue em cima deste muro aconteça o que acontecer.

Uma boa vida pra você.

E, depois de um longo, longo, longo, longo, infinitamente longo, inverno, desintoxicação completa.
Fiz de tudo. Chorei, me joguei no chão, desci paredes ouvindo músicas tristes, falei incansavelmente sobre o assunto. Foi um ano e meio de chateação. E, hoje me dei conta que não dói mais.

A gente fica chorando o defunto e não deixa que a terra leve os restos mortais. Fica ali numa velação cansativa porque é assim que o ser humano é.
Depois de um tempo a gente se dá conta que foi embora. Quando chega é um arregaço. Festas, fogos de artifícios, planos, ideias, pensamentos constantes, mas pra ir embora a entidade demora. E fica se a gente não deixar ir.

Eu sempre fui a pessoa que gasta. A pessoa que vai ao fundo do poço da dignidade. Aquela que arruma desculpas para o "Hoje ele estava ocupado" "Ah, não respondeu porque não deu tempo" "Não ligou porque deve estar um dia corrido".
Sábio Xico Sá e vovô Nelson sempre dizem "O homem que quer, dá um jeito". Dá seus pulos, eu diria.

Não é demérito nenhum tomar o gole amargo da decepção. O pé na bunda ensina. Faz com que nos sintamos vivos. Deixa uma marca, mas o tempo sabe das coisas e tira a marca sem deixar muitos arranhões. Mas machucado nenhum vai embora sem cicatrizes. E são elas que nos fazem contar as melhores histórias do boteco.

Olha, cara oferenda, eu fiz o que estava ao meu alcance. Até esqueci que tinha orgulho. Estava lá bem quietinha quando você apareceu, e eu sabia que só poderia dar merda. Deu.
Agora estou lhe devolvendo para o oceano. E não poderia fazer a devolução sem endereçamento e testemunhal escrito para que eu lembre que lhe devolvi para o oceano.

Vá, oferenda. Encontre Iemanjá. Seja feliz a sua maneira. Viva muitos e muitos anos da maior felicidade.
Nunca fui das que desejam o mal alheio. E isso nem você, nem ninguém vai tirar de mim. Afinal, coisas boas atraem coisas boas.

Lições de casa mais que feitas.
Não espere nenhum contato para alimentar seu ego.

Um dia eu iria sumir da sua vida. Sei que é triste pra você, pois é tão bacana ter alguém que nos ama, né? Mas deu uma cansada. Ninguém vale tanto esforço.

Bom, este foi o último texto, o último suspiro. Coloquei você no barquinho, e já vejo ele bem longe, quase sumindo no horizonte.
Sem choro, nem vela, nem a tal rosa amarela.

E, termino com  clássico dos meus términos afetivos "Lhe desejo uma boa vida".

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sou paulista.

Eu disse que era paulista.
Você disse que paulistas não gostam de cariocas porque somos invejosos.
Em apenas 5 segundos conseguiu minha antipatia. E sincera que sou (não é uma qualidade), logo joguei na sua cara "Não gostei de você, sabia?". E você riu de mim.

Dali por diante virou uma briguinha infantil de alguém que sequer era carioca, aliás, de alguém que sequer era brasileiro, contra os paulistas.
E, sabe de uma coisa? Essas briguinhas sem sentido me divertem.

Deixei você pegar na minha mão. Sou boa moça. Deixo no máximo pegar na mão. Mas é carnaval, dizia você. E minha resposta era: E daí? Sou paulista, lembra? Somos conservadores.
Um dia deixei que me desse um beijo na bochecha. Você tentou mais. Mas como boa paulista que sou, já achei que fomos longe demais.

Um dia, já irritado do jogo, tentou me beijar. Deixei só um pouco, para logo depois afastar. Afinal, paulistas não ficam de pegação na rua.

No dia seguinte te deixei horas me esperando. Você não tinha marcado nada. Achou que me encontraria. Lembre-se paulistas marcam horário, e são bem responsáveis com isso. Como não tínhamos marcado, lhe deixei esperando. E, para minha surpresa, depois de horas, lá estava você esperando.
Disse que seria somente uma cerveja, pois tinha compromisso com o carnaval logo cedo. Você aceitou. E, paulista que sou, cumpri a promessa - uma cerveja.
Você argumentou que tinha esperado horas, mas não funcionou, sou paulista.

Sei que foram alguns dias deste chove não molha. E você foi persistente. Diria que "Foi brasileiro". Aliás, lhe disse isso algumas vezes.
E, com tanta oferta, com tanta mulher, com tantas coisas acontecendo, me surpreendeu tamanha devoção.

Ao contrário do que pensam, gosto do carnaval por "n" motivos, e a pegação desenfreada não é um deles, acredite quem quiser.

E, não fazer parte da pegação desenfreada foi a melhor opção. Pude conhecer pessoas de verdade, conversar, rir e fazer novos amigos.

Amigo gringo, você foi brasileiro. E, no final, sabe que foi a melhor coisa?
Não deu para pegar a mala e ir embora com você.
Vou te visitar uma hora dessas. Mas com tudo mais organizado, sabe como é...sou paulista.