Eu sou uma boa pessoa. Apesar de nem eu mesma acreditar nesta frase, eu sou.
Ajudo os médicos sem fronteira todo mês, não desperdiço água, faço colota seletiva de lixo, pago minhas contas em dia - quando dá, amo o próximo, principalmente se ele for a cara do Matthew Mcconaughey. Sou uma boa amiga. Sou generosa. Dou bons presentes...
Então a pergunta que não quer calar é: "Cadê-a-porra-do-karma?" Ele existe? Hey, Seu Dalai? Tem como ajudar aqui?
Falando sério, não sou invejosa. Quero que todo mundo seja feliz (ok, todo mundo menos uma lista de doze pessoas que merecem mil facas no ânus e sangrar até morrer). Só que agora eu vou dizer uma coisa que vai soar como um argumento de uma criança de cinco anos se jogando no chão no supermercado. Igual aquele moleque que quer chicória (nunca tinha escrito esta palavra na vida):
E eu?
Sério. E eu? Há tempos que eu fico feliz pelos outros. Quando é que eu vou poder ficar feliz por mim?
Posso não me emocionar vendo Criança Esperança, e até tirar sarro do Teleton com piadas de humor negro. Posso não dar esmola aos meninos que fazem malabares. Posso, inclusive, querer colocar a perna para que eles caiam, ou ainda querer que eles sofram queimaduras de primeiro grau, jamais de segundo! Posso, acidentalmente, chutar crianças no shopping ou até beliscá-las na fila do Mc Donald´s. Posso sentir um prazer sádico ao ver as pessoas em filas quilométricas como a do Poupatempo em um calor senegalês de São Paulo. Posso ser horrível às vezes, especialmente às segundas-feiras, antes de tomar café. Mas eu sou uma boa pessoa.
E de verdade, estou ficando de saco cheio de não ser recompensada pela excelente pessoa que sou.