Eu sempre perguntava para o meu pai quando aconteceria algum terremoto aqui no Brasil.
Ele dizia que nunca iria acontecer. O que me deixava bem chateada, culpa do cinema americano, que me vendia a idéia de um pouco de movimentação na vida cotidiana.
Admito, sempre gostei de filmes de desgraças naturais. Mas como meu pai dizia que era tudo ficção, e que nosso Brasil varonil estava bem seguro, eu só via no cinema mesmo.
Não foi lá grande coisa. Não deu para sentir o chão balançar muito, mas balançou.
Achei que eu estivesse passando mal.
Ouço um voz vinda do banheiro:
- Diiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, o box está balançando!
Era verdade. Parecia a janela em dia de ventania.
Foi bem rapidinho. Não causou nenhum dano, ainda bem.
Papai estava errado. Temos terremoto. Não foi lá grande coisa, mas foi classificado como terremoto.
E para não me comprometer, depois que a anã descobriu que era um terremoto, preferi não dar maiores explicações sobre o fato.
O Brasil da minha época era um país com estações definidas, até fazia frio no inverno e calor no verão. Nem com as tais águas de março dá para contar mais. Sendo assim, não posso falar com tanta convicção, como meu pai falava, que não poderá ocorrer outro tremor de terra.