Depois de muitos anos, faço parte de alguma estatística relevante, a do desemprego.
Comecei a trabalhar aos 16 anos. Depois disso nunca mais parei. Esta é a primeira vez que faço parte dos números do desemprego no Brasil.
Já li todas as revistas que havia comprado, e nunca tive tempo para lê-las inteira.
Já escrevi todas as histórias bizarras que me passaram pela cabeça.
Já aluguei quase todos os dvds que eu queria ver, e nunca tinha tempo.
Acompanho a novela da tarde e fico puta quando me ligam neste horário.
Arrumei meus álbuns de fotografia.
Separei as roupas para doação, e arrumei meu guarda-roupas (milagre).
Já senti um prazer inenarrável em pensar que enquanto eu tomo meu café quentinho debaixo da coberta vendo filmes antigos, pessoas se matam de trabalhar.
Já passei o dia todo de pijama, sem o menor peso na consciência.
Resumindo, senti todos os prazeres de ser desempregado.
Agora já estou de saco cheio. E só faz um mês.
Sinto que depois do carnaval, é hora de tirar meu uniforme de ursinho, e procurar algo para fazer. Mas o quê?
Nada me apetece. Não tenho vontade de voltar a fazer o que fazia.
Radialista é uma raça em extinção, e eu já aceitei que jamais trabalharei na minha área.
Ser comissária é algo que demora muito. As pessoas que fizeram entrevista comigo, e passaram, ainda nem começaram o treinamento. Isso porque tudo começou em setembro.
Como diz uma comunidade a qual faço parte: Se nada der certo, viro hippie. Será que chegou o momento de vender colarzinhos de miçangas na praça da Sé?