Por questões antropológicas e sexuais eu ainda uso aplicativos de encontro. E por tédio não lia as descrições.Falha gravíssima. É na descrição que está o puro creme do milho verde. É lá que está o ouro do aplicativo.
Botei reparo em muito perfil usando "nerd".
"Sou um nerd convicto" "Um pouco nerd" "É, sou nerd" e assim sucessivamente.
Eu venho de uma longa linhagem de mulheres que admiram este lobo solitário de uma tribo renegada por décadas. O nerd, quando o Brasil ainda tinha mato, era uma pessoa vista como excessivamente intelectual, obsessiva por assuntos que a maioria das pessoas não se interessa, e com falta de habilidades sociais.
Aparentemente em 2020 a roupagem do novo nerd é outra, e ser nerd virou requisito na cultura do flerte.
Viajado, coque desconstruído, barba, roupas da moda e de preferência sustentável, gosto peculiar por músicas, filmes, e séries que ninguém conhece, quando mais desconhecido, melhor. Um leve tom bucólico num texto quase parnasiano somado à cultura pop com carteirinha vitalícia da CCXP.
Olha, até acho interessante. Devo admitir que dou meu like sem o menor pudor. Mas fica aí a denúncia. Isso não é nerd, porra!
O nerd raíz está interessado em pesquisa científica, já fez mestrado, doutorado, fala uma língua própria, continua tendo dificuldade em interagir socialmente e fora do padrão estético da sociedade. E sinceramente? Cagando para o padrão estético da sociedade. Talvez este cara nem esteja no Tinder. Sem tempo, irmão.
Talvez este cara esteja trancado em algum laboratório estudando e buscando uma vacina para o Covid. Talvez este cara seja doutor em virologia, e...Ai, chega, não vou falar do meu crush acadêmico....
Então, em defesa dos nerds que estão sem tempo para este tipo de papo. Irmão, você que coleciona boneco de super herói, sinto em informar, você não é nerd. Respeite o nerd raíz.