E lá vai ele todo faceiro andando pelas ruas.
Parece que fez um novo amigo. Não, não fez. A relação efêmera do Caramelo é sempre intensa. Pra mim, humano que se acha racional, o julga um interesseiro.
Caramelo não sabe dessas coisas humanas. Essas classificações não lhe fazem o menor sentido. Caramelo antes de mais nada é um sincerão.
Consegue o que quer, faz um afago e vai viver uma nova aventura.
Corre atrás de ônibus, faz farra com as crianças. Come o que está à sua disposição, sem discutir se é bom, se está de seu agrado. Supre sua necessidade e segue abanando seu rabinho pelas ruas.
Uma hora ele cansa, deita no chão, e sem pedir, sempre aparece alguém para lhe fazer um afago. Ele recebe e às vezes dá também. Não se sente obrigado a nada. Tira seu cochilo no meio de um dia com muitas atividades.
Acorda sem saber que horas são, e que dia da semana é.
Observa os humanos passando em seus passos em marcha de corrida. Fita com alguns que sequer pararam para uma coçadinha em sua cabeça. Outros lhe dão comida, outros quase lhe acertam com paus, ou qualquer objeto que o possa ferir.
Caramelo deveria ser mais rancoroso, penso eu. Se eu fosse ele, talvez não quisesse mais me relacionar com humanos. São imprevisíveis demais.
De memória curta e destemido, ele segue seu caminho sempre em frente.
Corre sem sentido, rola sem sentido, come sem esperar, espera para comer, bebe sua água como se fosse a última vez que beberá água.
Brinca com as crianças, toma banho de mangueira, de chuva, de fonte, ou seja lá o que lhe aconteça.
Com o focinho em riste e uma dignidade de quem pouco se preocupa com o amanhã.
O Caramelo segue sua vida numa tarde de domingo, nunca solitário. Firme, forte, imponente, sempre em busca...Sempre em busca...Sempre em busca...O caramelo não busca, ele vive.
O Caramelo sabe mais da vida do que eu.