Um dia Deus resolveu testar sua criação. Deu-nos "inteligência" para criarmos o nosso mundo. Assim como ele criou o mundo que vivemos, nos permitiu criar o nosso. E criamos. Criamos a internet.
E neste mundo criado por nós, podemos ser quem quisermos - inclusive nós mesmos. Nós em essência, nosso verdadeiro "eu". Neste mundo não há limites, é um mundo sem regras.
Demos voz à tudo e à todos, mesmo que não saibam muito o quê dizer, dizem. Porque se há voz, ela precisa ser usada, ela precisa se fazer ouvir. E, neste mundo com tantas vozes, ainda nos surpreendemos com o que se é dito.
Alguém falou muito alto. Alguém fez barulho. Alguém falou alto com uma poderosa hastag. Com uma hastag podemos mudar um pensamento, uma atitude um jeito de viver. Hastag mudam o mundo.
Mas esta hastag me representa? Representa o que eu realmente penso, ou representa apenas o que eu gostaria que o outro pensasse que eu penso? Confuso, não é?
Morreram mais de 300 pessoas na Somalia vítimas de um atentado terrorista. A internet clamou por interações sobre o tema nas mídias convencionais. Justo, justíssimo, e realmente foi injusta e cruel a forma que o tema foi tratado.
Mas não acho justo fazer o comparativo com "Se fossem brancos de olhos azuis..". Não estaria eu sendo preconceituosa também? Estereotipando a cor da pele e seu grau de importância. Inflamando ainda mais preconceitos? Eu realmente não entendi as postagens compartilhadas, e não quis gerar polêmica. Afinal, gente pra defender um ponto de vista de forma incisiva tem bastante. Já tem bastante filósofo, sociólogo, antropólogo, historiador, jornalista e etc na internet. Tive preguiça de exercer profissões sem nunca ter estudado para isso. A preguiça passou no final do dia. Como isso aconteceu?
Trazendo para minha realidade. Um brasileiro está sendo acusado de assassinato aqui na Irlanda. Lembrando que acusado não é culpado. Ele está respondendo em liberdade. Ele foi assaltado e está constantemente sendo vítima de xenofobia.
Encontrei uma página irlandesa que quer todos as pessoas da América do Sul fora do País imediatamente
Li a página irlandesa, pensei, li, pensei, e passei batido. Não teci nenhum comentário. Denunciei a página, e a vida seguiu pra mim. Mas não passou para os demais brasileiros que começaram a ofender uma Nação inteira, tomando aquele pensamento como verdade de uma Nação. Daí nascem os preconceitos, os ódios incuráveis e tudo que já conhecemos no mundo.
Não acho que devamos deixar as coisas passarem, precisamos fazer nossa parte. Mas xingar o amiguinho, puxar o cabelo, escrever o que eu bem entendo sobre o amiguinho só para machucar, não é das coisas mais maduras, né?
Sinto pela Somália, sinto por todos que sofrem xenofobia, ou qualquer tipo de preconceito, sinto demais pelas famílias que têm seus entes assassinados, sinto profundamente pelo mundo que vivemos. Mas se queremos fazer algo bom, revidar com mais agressividade, ou com preconceito, não ajuda muito.
Acho que Deus nos deu inteligência para criarmos um mundo nosso para saber como reagiríamos se tivéssemos poder para gerir o mundo real de maneira autônoma.
Se nem num ambiente como a internet não conseguimos controlar nossos impulsos, imagine se tivéssemos capacidade/poder de dominar/gerir a natureza, por exemplo. Não temos maturidade.
Falhamos miseravelmente nesta missão evolutiva. Desculpa aí, Deus.