Hoje fui ao cardiologista. Me senti criança novamente. Acho que pessoas com 30 anos não marcam consultas com cardiologistas.
O médico foi um querido. Ao chegar no consultório já deu aquele largo sorriso, apertou minha mão, me olhou nos olhos e perguntou "Como vai esta coraçãozinho?". Sabe que deu vontade de chorar? Seria piegas demais se isso acontecesse. Eu tinha vontade de dizer que não estava nada bem, que eu estava sentindo dores fortes, e que me faltava a respiração e por alguns momentos eu achava que deveria seguir a luz, mas soaria dramático demais.
O que sei, é que o Doutor Roberto cuida do coração e da alma. Sei que ele conversa, e por alguns instantes achei que fosse ganhar um pirulito e um adesivo das princesas.
Ele afagaria minha cabeça e diria: "Vai lá, campeã. Este coração aguenta qualquer coisa!".
Uma pena o Doutor Roberto não cuidar de azedumes do amor. Adoraria ter uma poção que fizesse eu não sentir tanta falta de amor. O coração precisa de amor. Assim como quando eu ficar velhinha vou precisar tomar AS infantil para afinar o sangue, agora aos 30 anos, eu preciso de amor.
E não é este amor pela metade, este amor que eu amo sozinha. É um amor compartilhado. É sentir prazer nas coisas do dia a dia. É ter alguém para pedir para levantar e apagar a luz pra mim. Que ria das minhas piadas como se eu fosse a melhor piadista do mundo. Que ache graça no meu mau humor, que um dia me dê uma florzinha do jardim. Que deite na grama e me conte uma história. Eu quero esta cafonice toda, ok?
Cansei de amar sozinha. Cansei de viver contos de fadas em que o príncipe sai correndo de mim. Cansei de chegar em casa e não ter ninguém. Cansei de fotos fakes. Cansei de fingir uma felicidade que não existe. E como diria o poeta, é impossível ser feliz sozinho. Ser solteiro não é este mar de rosas que desenham. Não é legal, ok? Pronto, falei.
O tempo passa. E passar o tempo sozinha é uma das piores coisas da vida.
O Doutor Roberto disse que estava tudo bem, que eu ficaria bem, e que a dor no peito iria passar. Mas ela não passa. Ela nunca passa. Faz anos que espero passar. Mas não passa. É um buraco enorme no peito.
Falta aquelas canções, falta a poesia escrita em diário, falta a história, falta a vida, e às vezes me falta o ar. Melancolia que não sai de mim, não sai...
Éh, deve passar...