segunda-feira, 3 de março de 2008

O primeiro

O primeiro clássico é como o primeiro sutiã, a gente nunca esquece.
Depois de muitos anos, fui ao estádio ver uma partida de futebol.
E, se meu pai fosse vivo, me deserdaria.
Não tenho amigos coritianos, preciso rever minhas amizades. Todos são palmeirenses.
Eu estava com vontade de ver o jogo, mas ir sozinha, sem a menor chance.
Eis que surge o convite por parte de um palmeirense. Aceitei.
E lá estava eu, no meio da Mancha Verde. Meu Deus, que heresia!
Era a minha única chance de ver o tal clássico sem ser massacrada, na companhia dos porquinhos.
Não adianta. Eu nunca, jamais, em hipótese alguma, vou tocer para outro time.
Em algum momento da década de 80 meu pai disse que eu era corintiana. Desde então, não consigo cogitar outro time. Ainda mais o Palmeiras.
Cercada por um verde de doer os olhos. Bem a frente, a bandeira da Gaviões, e os gritos da torcida. Deu vontade de pular a cerca. Mas se eu fizesse isso, este blog nunca mais seria atualizado.
Não deu. Tentei disfarçar para não ser espancada. Mas gritei gol. Mesmo que este gol tenha sido anulado, eu gritei. Todos me olharam. Pronto, hora de apanhar. Nada aconteceu. Devem ter pensado: "Mulher, não sabe nada de futebol. Confundiu o time".
A pelada foi medíocre. Nada de espetacular. E, para um clássico, foi bem ruim.
Mas fiquei admirada com a torcida corintiana. Aquilo não é uma torcida, é uma religião. Mesmo depois do gol do "Pelé branco" (sic) - Valdívia - a torcida continou gritando. E eu queria tanto gritar com eles, chorar com eles, mas eu estava do lado verde. E me abraçaram, cantaram a porra do hino, beijaram a bandeira, a camisa. Mas isso eu não fiz, seria demais.
Noventa minutos depois. Lá estava eu, com a porra da camisa verde andando e cantando o hino.
Aposta, odeio apostas!
Musiquinhas e comentários do lado verde:
Ão, ão, ão, segunda divisão!
Boi, boi, boi, boi da cara preta. Segunda divisão de camisa violeta.
Não vi pelé, mas vi Valdívia.
Não vou parar de rir de ti, gambá. Sou palmeirense.
Chora gambá, chora.
Experiência bizarra. Mas mesmo assim, não te abandonarei!