quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O nome dele é Selton Mello

Falavam mal do filme. Mas como diria o "poeta", que eu ainda não sei o nome, "Quem vai pela cabeça dos outros é piolho". Sendo assim, fui ao cinema ver - Meu nome não é Johnny.

A crítica diz que é um filme arrastado e preguiçoso. Nisso eu tenho que concordar. Pouca ação para um filme que prometia muito mais no trailler.

Uma história que daria um bom caldo, não rendeu muita coisa nas mãos de Mariza Leão e Mario Lima.

Até a história da menininha que vende flores pode ficar interessante. Tudo depende da forma que é contada. O que precisamos é de formas diferentes de contar histórias. Porque toda história é boa, basta que um bom contador a conte. E os contadores, neste caso, falharam.

Cheio de clichês, é o que dizem os críticos. Pôxa, nisso eu também vou ter que concordar.

A década de oitenta foi muito mal retratada. Pôxa, nisso eu também vou concordar.

Carandiru + Cidade de Deus + Bicho de sete cabeças + receita manjada do atual cinema nacional = sucesso de bilheteria.

E a crítica quer inovação. Inovação? Peter Greenaway matou o cinema recentemente. E até a forma de matá-lo, foi sem inovação.

O cinema brasileiro encontrou o jeito de fazer sucesso. Assim como o indiano, hollywoodiano, europeu, e etc. Cada um explora sua fórmula da maneira que lhe é mais rentável.

Fórmula conhecida. Fórmula Brasiliana de fazer cinema. Filme nacional que se preze, tem que ter, no mínimo, um traficante e uma cena de tiroteio. E a crítica reclama. E o povo? Ah, é disso que o povo gosta. É isso que o povo quer ver. E se o filme tiver uma gostosa, melhor ainda.

Cléo Pires não me convenceu em momento algum. Rasa. É assim que eu classificaria a interpretação dela. Em alguns momentos chega a ser irritante. Definitivamente o ditado "filho de peixinho" não se encaixa neste caso.

A salvação do filme é o Selton Mello. E mesmo assim, achei que deixou a desejar. Mas graças a ele, eu fiquei até o final no cinema. E aqueles olhinhos tristes até me fizeram chorar. Nenhum aplauso ao roteiro, mas algumas palminhas para a interpretação de Selton Mello.

Mas se você é como eu, que precisa ver para crer, vá ao cinema. Mas não espere lá grandes coisas.

Afinal, o nome do cara não é Johnny, é Selton Mello. E se não fosse ele, o cinema estaria vazio.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A dádiva de fazer parte das estatísticas

Depois de muitos anos, faço parte de alguma estatística relevante, a do desemprego.

Comecei a trabalhar aos 16 anos. Depois disso nunca mais parei. Esta é a primeira vez que faço parte dos números do desemprego no Brasil.

Já li todas as revistas que havia comprado, e nunca tive tempo para lê-las inteira.
Já escrevi todas as histórias bizarras que me passaram pela cabeça.
Já aluguei quase todos os dvds que eu queria ver, e nunca tinha tempo.
Acompanho a novela da tarde e fico puta quando me ligam neste horário.
Arrumei meus álbuns de fotografia.
Separei as roupas para doação, e arrumei meu guarda-roupas (milagre).
Já senti um prazer inenarrável em pensar que enquanto eu tomo meu café quentinho debaixo da coberta vendo filmes antigos, pessoas se matam de trabalhar.
Já passei o dia todo de pijama, sem o menor peso na consciência.
Resumindo, senti todos os prazeres de ser desempregado.

Agora já estou de saco cheio. E só faz um mês.

Sinto que depois do carnaval, é hora de tirar meu uniforme de ursinho, e procurar algo para fazer. Mas o quê?

Nada me apetece. Não tenho vontade de voltar a fazer o que fazia.

Radialista é uma raça em extinção, e eu já aceitei que jamais trabalharei na minha área.

Ser comissária é algo que demora muito. As pessoas que fizeram entrevista comigo, e passaram, ainda nem começaram o treinamento. Isso porque tudo começou em setembro.

Como diz uma comunidade a qual faço parte: Se nada der certo, viro hippie. Será que chegou o momento de vender colarzinhos de miçangas na praça da Sé?

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Minhas Joselitices

Aqui em São Paulo tem um teatro-bar muito legal chamado Parlapatões. Você pode assistir ótimas peças, e depois sentar em uma das mesas do saguão e tomar uma cerveja com os amigos. Este foi um dos programas do final de semana.

Antes de sair de casa dei aquela olhadinha na novela com as amigas.

A cena era fofa. A menininha virgem perdia sua "honra". E a melhor parte foi o namorado dizendo que faria com carinho. Todas presentes na sala deram aquele suspiro, fizeram os devidos comentários sobre o rapaz, e saímos com a frase: "Se eu encontrasse com um cara desses..."

- Vi, olha para sua direita. Não é o carinha da novela?

- Será? Putz, parece bastante. Será que ele é carinhoso?

Risos histéricos. Mulheres deveriam ser proibidas de saírem em bando.

Nosso amigo gay disse que coração de mãe não se enganava, e o dito cujo era gay.

Não dava para morrer com uma dúvida dessas. Tomei mais uma dose, e resolvi ativar a missão "descubra se o mocinho em questão gosta de meninos ou meninas", mandei um bilhete pelo Gabriel - o melhor garçom de todos os tempos. Pedi que não dissesse quem enviou o bilhete.

Ficamos vendo o baile. O bilhete passou de mão em mão. Olha, modéstia à parte, o bilhete era sensacional. Algo sobre o século XXI e o romantismo, eu estava sob efeito do álcool, não me peçam detalhes.

Quando eu já havia desistido do ser em questão, um amigo o troxe à mesa.

- Este é o meu amigo...

Ele se apresentou.

A conversa rolou durante alguns minutos. Eu realmente não tinha provas suficientes para saber do que ele gostava. Só sei que era o carinha da novela, e ele realmente era bem bonitinho.

A conversa foi rolando, e eu descobri que era aniversário dele. Vinte dois aninhos. Meu Deus, estou ficando velha.

- Feliz aniversário, esqueci seu nome.

- Ah, não acredito.

- Juro. Por acaso você lembra o meu?

- Não. Qual é?

- Qual você gosta?

- Alice.

- Ok, eu sou a Alice. E qual o seu nome mesmo?

- Qual você gosta?

- Mateus.

- Perfeito. Eu sou o Mateus, e você é a Alice.

- Mas porque Alice?

- Você é tão doida quanto o filme dela.

- Bem, volte para os seus amigos, é o seu aniversário. Parabéns (beijo).

Juro, eu acreditei no romance. Mas o namorado dele ficou bravo. Menos de meia hora depois, ele foi embora.

Não me dei por vencida. Comprei uma rosa vermelha, e mandei entregar.

- Diga ao Mateus que é um presente de aniversário da Alice.

A florista quase não conseguiu entregar a rosa vermelha. Voltou dizendo que o moço que o fazia companhia havia pedido para ele devolver, mas o Mateus havia agradecido a gentileza.

Em uma missão impossível, descobri o telefone dele.

Torpedo: Mateus, depois de 48 horas descobri quem você realmente era. Mesmo que fosse o Papa, eu não teria te reconhecido. Bem, pra mim você é Mateus. Todo mundo tem duas caras.

Resposta: Alice?

SAC

Tudo na vida, incluindo aqueles salgadinhos que parecem isopores com bastante sal, têm SAC.
O céu deveria ter o seu serviço de atendimento ao cliente. Uma linha direta com o além.

“O céu agradece a sua ligação. Dentro de alguns instantes iremos atendê-lo. Para reclamações sobre o destino, tecle 1. Para saber a data do seu óbito, tecle 2. Para quitar débitos pendentes do seu lote celestial, e consultar sua pontuação, tecle 3. Para aderir ao plano vida eterna, tecle 4. Para falar com um de nossos anjos, aguarde na linha”.

Ao fundo o cliente ouve Enia.

- Céu, anjo Gabriel. Prazer em atendê-lo. Em que posso ajudar?

- Anjo Gabriel, estou pensando em passar o feriado em Angra com a minha família. Você pode verificar no sistema de São Pedro como estará o clima?

- Senhor, vai estar fazendo sol. Provavelmente vai estar chovendo no final da tarde. Mas vai dar para estar aproveitando o dia. Mais alguma coisa?

- Esta pergunta é bem importante. Gostaria que me fornecesse seis números para eu jogar na mega-sena.

- Senhor nós não damos este tipo de informação. Condenamos jogos de azar.

- Aproveitando a ligação, anjo Gabriel. Eu gostaria de saber como está a minha pontuação celestial. Já tenho pontos suficientes para ir para o céu?

- Senhor, a sua pontuação está negativa. O senhor vai estar precisando de 1000 estrelas para vir para cá. Com esta pontuação, se o senhor estiver morrendo hoje, vai para o inferno.

- Impossível. Eu liguei para o Criança Esperança este ano. Doei R$ 30,00! Ajudei um ceguinho atravassar a rua. Não matei ninguém. Não cobicei a mulher do próximo. Quando eu sai com a Mônica, ela me disse que era solteira, tenho certeza disso.

- Mas o senhor é casado!


- Mero detalhe, anjo Gabriel. Mero detalhe.

- Tenho uma boa notícia. Como o senhor ainda tem mais quinze anos de vida, ainda há tempo de reverter este quadro. Basta fechar algumas empresas fantasmas, e sair do Senado, senhor Renan.

- Vou ver isso. Preciso pensar melhor.

- Mais alguma coisa, senhor Renan?

- Não, obrigada.

“É um prazer receber a sua ligação. O inferno é uma Instituição Governamental com fins lucrativos. Estamos há milênios no mercado de almas sujas. O inferno inova para melhor atendê-lo...”
Ao fundo o cliente ouve Iron Maiden.

- Beuzebu, boa tarde.

- Beuzebu, quero fazer reserva de uma suíte presidencial com ar-condicionado bem potente. Fui informado de que aí é bem quente. Vou estar por aí em quinze anos. Quero o que há de melhor em instalações. Faça a reserva em nome de Renan Calheiros. Se eu indicar alguns amigos, tenho desconto?

- Claro, senhor Renan.

- Vou informar a galera do Senado.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Tempo

O meu passado talvez pouco importe.
O meu futuro também não.
O presente acontece, e eu não tenho controle algum sobre ele.
Sou alguém que não sabe.
Alguém que gostaria de entender.
Alguém que se perde no tempo e no espaço.
Tempo, quanto de ti preciso?
Tempo, quanto de mim precisas?
Se o tempo nos traz explicações, porque tanto medo?
Tenho medo do tempo.
Tenho medo que ele leve minhas memórias.
Tenho medo que ele se perca, e não encontre o caminho de volta.
A ampulheta derruba seus grãos, o relógio faz o seu tic-tac. A vida passa na linha do tempo. E o tempo? O tempo pouco se importa.
Ele desfila bem diante de nossos olhos, passando rapidamente sem que possamos pedir para que ele pare.
Confusos. Isso que somos. Peço que ele pare? Peço que passe rápido?
Ambíguos que somos, não conseguimos decidir o que queremos fazer com ele. Mas ele sabe muito bem o que deve fazer, passar.