quinta-feira, 5 de junho de 2008

Um pouco verde

Maurício não tinha dó nem piedade. Aproveitava-se de sua carreira musical para traçar garotinhas. Garotinhas, porém nada inocentes.

É impressionante como um homem que toca algum tipo de instrumento se torna lindo. O cidadão pode tocar oboé, ser vesgo, careca e barrigudo, e mesmo assim, elas encontrarão um charme: "Ele tem covinhas quando ri. Tão fofo!".

Mas com Maurício não era assim. Além de músico virtuoso, era bonito, e sabia muito bem aproveitar seus dons.

Gostava de selecionar o prato do dia durante o show. Olhares e sorrisos davam um retorno de 100%. Nunca houve uma mulher que não caira em sua lábia.

Cíntia não era bonita. Os mais bondosos diziam que ela era charmosa. Outros, mais ácidos, a chamavam de feia mesmo. Estava acima do peso e usava roupas cafonas. Mesmo sendo alguém extremamente agradável, era difícil alguém prestar atenção nela.

Assim como muitas mulheres, se encantou por Maurício. O grande diferencial de Cíntia é que ela jamais esperou um cortejo, sempre foi à caça. E com Maurício não foi diferente.

No camarim, entre tantas mulheres, ela nem foi notada. Esperou pacientemente a sua vez de falar com o músico. Assim que todas foram embora, ela se aproximou.

A conversa durou mais de duas horas. Os risos eram constantes, e as afinidades também.

O grande problema era físico. Maurício, por ser casado, só se arrisacava em casos que realmente valessem a pena, fisicamente falando. E este, definitivamente, não era o caso de Cíntia. Ele dizia que ela precisaria mudar muito para ter uma chance. E quando os amigos brincavam sobre o futuro daquele flerte, ele dia que ela ainda não estava madura.

A noite acabou sem grandes aproximações físicas, apenas um beijo no rosto de despedida.

Depois desta primeira noite vieram muitas outras. Todas com o mesmo desfecho.

E depois de muito tempo, Cíntia desistiu.

Já havia passado mais de três anos quando se reencontraram. Cíntia já não era mais cafona, e tinha um corpo de fazer inveja a muita capa de revista Boa Forma.

Para Mauricio foi difícil reconhecer Cíntia, mas ao reconhecer, não acreditou no que via. Agora sim havia chegado o momento dela, finalmente estava pronta.

Saíram do bar e foram direto para o motel.

Segundo Maurício, foi a primeira vez que aquilo havia acontecido. Não conseguia entender o real motivo para aquela situação.

Até hoje ele espera uma segunda chance com Cíntia. Pelo que sei, ela diz à ele que ele ainda não está maduro.