segunda-feira, 12 de maio de 2008

O ponteiro do relógio que passou

Eu ainda lembrava do dia em que a coloquei para fora da minha vida. Não foi fácil. Mas naquele momento eu não estava preparado para dar o que ela queria, um relacionamento.

Tudo andava muito bem. Clarice era uma mulher inteligente e divertida. Não era do tipo bonita. E acho que, no fundo, foi isso que ajudou na decisão.
Nos dávamos bem. Nos víamos com frequência, nos falávamos diariamente.
Eu só não assumi a relação, mas tínhamos uma.

Ela queria me apresentar todos seus amigos, mãe, pai, avô, papagaio. Eu não estava preparado. Tínhamos apenas uma amiga em comum, Amanda. Não queria mais vínculos. Nada de apresentar meus amigos, nada de colocá-la na minha vida.

Casamento da Amanda.
No fundo eu sabia que encontraria Clarice. Eu continuava solteiro. Tinha feito planos para dar uma carona e levá-la para casa. Conversar, relembrar os velhos tempos, ouvir aquela risada gostosa e rir de suas histórias.

Não demorou muito para que eu ouvisse a risada que me conquistou.
O cabelo continuava o mesmo, o corpo, o jeito, nada havia mudado. Não parecia que o tempo havia passado.
Ela me olhou e sorriu. Me cumprimentou com a cabeça.
Um homem muito bem vestido e bonito a abraçou, lhe entregou uma taça de champanhe e lhe deu um beijo no rosto.

Fiquei ao longe olhando aquele belo casal.
Ele ria o tempo todo. Lembrei de mim. Eu já tinha sido uma pessoa como ele. Já tinha tido momentos como o que ele estava vivenciando.

Passei a noite sozinho. Acompanhando com os olhos a felicidade dos que tinham alguém para fazê-los sorrir.

Voltei para casa com a sensação de ter deixado a felicidade escapar por entre meus dedos.
A chuva batia forte no parabrisa.
As lágrimas não foram tão generosas quanto a chuva, mas caíam.