segunda-feira, 28 de abril de 2008

Alguma coisa da cultural (sic)

Faço Pós na Avenida Paulista. Do quinto andar, onde é a minha sala, já ouvia gritinhos, e uma banda completa passando pela rua. Lembrei, Virada Cultural.

Saio da aula por volta das 18:00. Metrô lotado. Lembrei de novo, Virada Cultural.

Já no ônibus. O motorista avisa:

- Devido a virada cultural os ônibus funcionarão a noite toda!

Um senhor olha para minha cara aguardando algum tipo de comentário.

As pessoas querem falar sobre qualquer coisa. Tempo, trânsito, o caso Isabella, Greenpeace, lixo na cidade, qualquer coisa para jogar conversa fora. Ando meio econômica nas minhas conversas com estranhos.
Não estava com a menor vontade de conversar. Ele não resistiu:

- Essa coisa da cultural é muito chata. O Serra não tem mais o que fazer. Inveis de dar educação, trabalho, fica inventando essas festas. Só para atrapalhar o trânsito. Ano de eleição é assim mesmo. Esses (um monte de palavrões) não fazem nada pelo povo. A cultural está gastando horrores.

Mesmo sabendo que o Prefeito não é o Serra, achei melhor sorrir e concordar com a cabeça. Assim não rola discussão.

Achei que estava livre. Mas ele não resistiu.

- E o caso da menina Isabella, heim
? Foi o pai mesmo (aquele safado, fdp, maldito e etc), você não acha?

- Acho.

Ele casou de tentar puxar assunto comigo. Encontrou uma senhora no banco da frente que se interessou pelo assunto da menina Isabella e foi o caminho todo exercendo seu lado detetive.

Cheguei em casa. Depois de ver o jornal, desisti da tal cultural, muita gente.

Tive a infeliz idéia de ir em um bar perto do centro.
Uma hora de trânsito às 22:00. Virada Cultural.

Nunca vi tanto carro da CET na minha vida. Fora os carros de polícia, dezenas.
Pensei em fazer o retorno, não dava mais. Eu estava no meio da virada sem ao menos ter planejado isso.

Uns quinze adolescentes cruzaram meu caminho na São João. Dançavam e bebiam uma garrafa de coca-cola que provavelmente tinha algum aditivo. Cantavam Raul. Sim, eles sempre cantam Raul. Pobre Raul, seja lá onde estiver, já está de saco cheio das próprias músicas.

Quando finalmente consegui sair daquele inferno, lembrei do tio do ônibus. Acho que assim como ele, eu não estava muito a fim de participar da tal cultural.