sexta-feira, 7 de março de 2008

O médico

Dia de ir ao ginecologista. Estava escrito em letras garrafais em sua agenda.

Rodolfo, seu marido, já estava começando a ficar desconfiado de tantas idas ao ginecologista. Preocupava-se com sua esposa. Ela provavelmente estava com algum tipo de problema muito sério. Pelo pouco que entendia, mulheres iam ao ginecologista duas vezes ao ano. A dele estava indo pela quarta vez, e ainda estávamos no mês de abril.

- Querido, vou ao Doutor Cláudio.
- Querida, está tudo bem?
- Acredito que sim, amor. Deixe-me ir. Já estou atrasada.

Foi um longo dia. Rodolfo não conseguia pensar em outra coisa. Câncer. Ela deve estar com câncer. Não quer me contar, mas deve ser isso.

Do outro lado da cidade, Cecília entrava em um prédio chique dos Jardins.
Ele era alto, tinha uma mecha de cabelos brancos, uma versão tupiniquim de Clark Gable.
Cecília estava muito bem vestida ao estilo secretária. Exatamente como ele havia pedido.
Sentou-se na maca.
Olhares, sem nenhuma palavra.
Beijos, arranhões, afagos, suspiros.
Duas horas depois. Fim.

Rodolfo não pensa duas vezes. Precisa falar com o médico de Cecília. Precisa saber o que há de errado com sua mulher.

A noite, sorrateiramente, rouba a agenda de sua esposa. Anota em um papel o telefone do médico.

No dia seguinte, ao chegar no escritório, antes mesmo de ler seus e-mails, ou fazer qualquer outra coisa, liga para o consultório.

- Consultório de urologia, bom dia.

Desliga o telefone intrigado. Ele não era ginecologista?As coisas não eram tão aterradoras quanto pensara. Cecília deveria estar apenas com algum problema nos rins. Talvez fosse pedra nos rins.