segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Flores

Lembro exatamente o dia em que conheci Manoela. Ela usava uma jardineira azul turquesa que combinava belamente com seus olhos tão azuis quanto sua jardineira. A pele era tão alva quanto os copos de leite que ela cultivava em sua estufa. Os cabelos negros formavam a moldura daquele rosto angelical.

Ela sorriu e veio em minha direção:

- Posso lhe ajudar?


Demorei aproximadamente três longos minutos para lembrar o que me levara à estufa.

- Eu gostaria de um buquê de rosas. As mais lindas que você tiver.

- Claro. Se quiser, pode escolher.

Adentramos no corredor das rosas. Escolhi cada uma. Rosas vermelhas eram as preferidas de mamãe.

- Quer que eu faça um arranjo?

- Por favor. Se puder, use uma fita vermelha.

- Vai precisar de cartão?

- Não. Tudo que eu tenho a dizer para ela, já é sabido. E nada do que eu venha a escrever, será o suficiente.

- Sua mulher tem sorte.

- Ela não é minha mulher. Mas com certeza é uma mulher de sorte.

A lápide estava bem conservada, e havia algumas outras rosas murchas em torno dela. Na foto ela estava séria. Acho que era uma das poucas fotos que mamãe não estava sorrindo, mas mesmo assim, sua preferida.

Naquele dia ela completaria 75 anos. E, como em todos os anos, desde a sua morte, eu levava rosas vermelhas.

Passou uma semana desde o aniversário de mamãe. Voltei à estufa. Desta vez comprei lírios, os entreguei à Janine, minha irmã.

Uma vez por semana eu ia à estufa comprar flores. Rosas, girassóis, tulipas, violetas, cada semana eu comprava um tipo diferente. E as mulheres da minha vida ficavam felizes por recebê-las. É impressionante o efeito de uma flor sobre uma mulher.

Passou aproximadamente um mês até que eu finalmente comprasse flores para Manoela. Um buquê de flores do campo.

- E o que vai escrever no cartão?

- Manoela, você quer jantar comigo?

Não demorou muito para que casássemos. A igreja estava maravilhosa. Decorada de flores pela própria Manoela.

Aos domingos, pela manhã, ao levar o café da manhã na cama, colocava sempre um vaso de flores ao lado de nossa cama. E foi assim durante longos anos.

De pijamas e pantufas ela entrou correndo no quarto. Trazia nas mãos algumas flores do campo.

Colocou no vaso.

Fingi continuar dormindo.

Ela chegou perto da cama, me deu um beijo na testa, e saiu.

Angélica é uma criança adorável. E naquele momento me ensinou que a vida, assim como a natureza, se renova.

Perdi Manoela. Mas ela me deixou uma das flores mais lindas que ela pôde cultivar, Angélica, nossa filha.