domingo, 24 de fevereiro de 2008

A cueca

As evidências eram claras. Uma cueca que não era minha estava debaixo da minha cama.

Comecei a imaginar em que situação um homem esquece a cueca.
Cássia deve ter feito loucuras com este homem. O que será que ela fez? Cássia nunca foi uma mulher, digamos, fogosa.
O sexo com ela era quase que adolescente. Não, não era adolescente.
Semana passada peguei uma adolescente que era uma delícia.

Sentei na cama e fiquei segurando aquela cueca com motivos de desenho animado.
Que homem usaria uma cueca tão fresca?
E que mulher era a minha que transa com caras como o dono da cueca do pernalonga?
Sem perceber, comecei a secar o suor com a cueca do amante da minha mulher.

O que eu poderia fazer? Esfregar aquela traição na cara dela? Conviver com o fato de que eu sou corno? Lavar minha honra com sangue? Fazer com que ela engula a cueca do pernalonga?

Chorei. Chorei como há tempos não chorava. Que tipo de homem eu era? O que faltou nesta relação?
Eu fui o homem que ela esperava. Tudo bem que ela me pegou duas ou três vezes vendo sites pornôs. Mas que homem não faz isso?
Tudo bem que ela me viu flertando com a empregada. Mas que homem não tem esta fantasia? Tudo bem que ela me viu conversando com um travesti. Mas que homem...Acho que nem todos.

Aquela cueca do pernalonga significava a minha derrota como homem.
Minha mulher estava trepando com um menino viciado em play station, colecionador de alguma merda, porque estes nerds filhos da puta sempre colecionam algo.
O menino deve chamá-la de Dona Cássia. E a vagabunda da minha mulher deve ficar excitada com isso. Pedófila. Cássia é uma pedófila.

A porta se abre. Eu estava com os olhos vermelhos de tanto chorar a minha derrota como homem, com a prova do crime na mão.
Cássia me olhou com um olhar que nunca havia visto naqueles olhos azuis. Desespero. Pensei que ela contaria uma história. Nem para isso ela serviu. Não conseguiu pensar em uma desculpa plausível para acabar com o meu sofrimento.
Abaixou a cabeça e saiu do quarto.

Fila do motel, ano novo de 2007.
Faço o social com a minha família chata, e corro para o mesmo motel de todos os anos depois da meia-noite.
Colocaram um número em cima do meu carro, 69. Sim, é meu dia de sorte. Reconheço o 68. Reconheço o maldito carro que paguei com meu dinheiro, era Cássia.
No vidro reluzia um piu-piu. Tinha um maldito piu-piu sorrindo pra mim. Saio do carro.
- Olá, Álvaro. Esta é a Amanda.